Em 1945 a
primeira eleição direta, em 1998 a primeira reeleição.
HELIO FERNANDES
15 de
novembro de 1889, madrugada, escura, turva, cinzenta, surgia a tão desejada
Republica. Mais anti-republicana, impossível. Nesses 127 anos decorridos
aconteceu de tudo, sem exclusão dos fatos inacreditáveis de agora.
Completavam-se 100 anos da Constituição dos EUA e a eleição direta do primeiro
presidente, George Washington. Essa Constituição ficou sendo a única e todos os
presidentes, eleitos com o voto do povo. (Única exceção: depois do
impeachment-renúncia de Nixon, com o vice fora do cargo, assumiu o presidente
da Câmara, Gerald Ford. Episodio que pode muito bem se repetir hoje, no
Brasil).
Don Pedro
Segundo era bem mais republicano do que os militares que assumiram o poder por
15 meses até 25 de fevereiro de 1891. E nesse dia, reconduzidos indiretamente
até 1894. Deodoro Presidente, Floriano vice e Ministro da Guerra, comandando o exercito
formado para a estranha e mal contada Guerra do Paraguai.
Em 1886,
o Imperador pediu ao Primeiro Ministro Ouro Preto, que convidasse Rui Barbosa
para Ministro da Justiça. Resposta educada mas imediata de Rui: "Por favor
agradeça ao Imperador, mas diga que estou envolvido num movimento que será
vitorioso com a sua participação ou com a sua ausência se for necessário".
Era a Republica.
Rui
concordou em ser Ministro da Fazenda e redigir o ante projeto da Constituição,
que relatou como senador. Criou as famosas clausulas "pétreas”. Para ele a
mais importante era a alternância no Poder, com o impedimento da reeleição. Em
1894 tomou posse o primeiro civil, Prudente de Moraes. Fez um bom governo,
defendendo sempre o interesse nacional.
Em 1896
recebeu um Rotschild, que agressivo e mal educado em falar sobre a dívida
externa. (Hoje se chama divida publica). Prudente tocou a campainha, veio um
continuo, ordenou: "Leve o senhor até á porta, ele está de saída".
Quase no fim do governo, começaram a falar em reeleição, não quis nem conversa,
passou o cargo a Campo Salles, indicado pelo Partido Republicano, o único.
Governou exatamente
o contrario de Prudente, favorecendo interesses estrangeiros. No segundo ano do
mandato foi á Inglaterra. Em Londres andou de carro aberto com outro Rotschild (eram
5 irmaõs), percorreu a Old Bond Street, o centro financeiro da capital. Renovou
o contrato da "divida", em condições desvantajosas para o país.
Tentou a
reeleição, recusa total. Ninguém foi reeleito, até que surgiu o golpe de 1930,
com Vargas 15 anos no poder. Sem eleição e sem vice. Derrubada a ditadura, em
1945, houve a primeira eleição considerada direta. Mas os dois candidatos
serviram longamente ao ditador, no arbitrário "estado novo", de 1937
a 45. Dutra Ministro da Guerra 8 anos, foi eleito.
Vargas
voltou por pouco tempo. Aí em 1955, direta verdadeira, Juscelino contra Juarez
Távora. Eleito, JK quase não tomava posse, governou até o fim. Mais tarde
confessaria: "Tentei a reeleição, vi que não dava, abandonei as conversas,
lancei minha candidatura para 1965, uma eleição que não houve."
Depois de
29 anos, em 1989 houve outra direta com muita confusão. O surpreendente Collor
venceu, ficou pouco tempo.Com o impeachment assumiu o vice Itamar. Como não
havia reeleição, seu mandato era de 1ano e 11 meses. Jogou tudo em cima de FHC,
senador em fim de mandato. Nomeado logo Ministro da Fazenda, e acumulando a
seguir com o do Exterior, e a credibilidade de Itamar, derrotou Lula no
primeiro turno.
Mas isso
era pouco para tanta ambição. Acabando o mandato, começou logo a cuidar do
roteiro da continuação. Rasgou a Constituição liquidou a clausula "pétrea",
sem ética e sem caráter na vida publica ou particular, comprou a reeleição á
vista, mais 4 anos.
Essa
compra foi caríssima, não se sabia de onde viera tanto dinheiro. A
"delação" de Delcídio pode trazer explicações. FHC é fortemente
citado, junto com o Vice Temer. Aliás, estiveram juntos no episodio da
tentativa de impeachment. FHC foi salvo pelo suplente de deputado, Michel Temer
que ocupava a presidência da Câmara. Pode ter sido o Eduardo Cunha da época,
também é citado na "delação" do senador. Com ele não acontece nada, vide
o caso da infidelidade conjugal.
A reeleição
de Dona Dilma e tudo que vem acontecendo desde a segunda posse tem que ser
colocado na conta ambiciosa, ruinosa e tenebrosa de FHC. Sem reeleição, Dilma
teria ficado apenas 4 anos. Destruída a "pétrea" tão ciosa para Rui
Barbosa, Dona Dilma ficou outros quatro, ninguém sabe o que vai acontecer. Se
ela tivesse deixado o governo em 2014, sem reeleição, teria sido uma péssima
administração, não a catástrofe sem fim, que paralisou o país. 2014 sem a
recondução de Dona Dilma, teria vindo alguém que faria tudo diferente. Ou
erraria da mesma forma, mantida a alternância do Poder.
PMDB: a convenção oportunista ou a incerteza
De todas
as formulas aventadas ou admitidas, surgiu uma outra que não estava na lista
das possibilidades: a não decisão. Resolveram "apenas" a reeleição de
Temer.
Está ha
15 anos como presidente do partido, ganhou mais 2. E o novo prazo, a solução dentro
de 30 dias, sugestão do próprio vice. No fim de fevereiro inicio de março, o
PMDB explodia e Temer praticamente fora do jogo. Mestre em reabilitação
individual, chegou no sábado, totalmente vitorioso, silenciou os que na semana
passada nem queriam conversa.
Temer
implantou esses 30 dias, está convencido que Dona Dilma já terá desaparecido política
e eleitoralmente. Tão convencido disso, que posou de conciliador, usando as
palavras do Papa Francisco, mas sem citá-lo: "Não devemos levantar muros e
sim construir pontes". O Papa atirou em Trump, Temer pretendia atingir
quem? De qualquer maneira, 30 dias não é o tempo necessário para a substituição
pretendida ou indispensável, não para o PMDB e sim para o vice. A corrida entre
o impeachment do Congresso e a cassação pelo TSE não tem ainda final previsível.
O primeiro pode favorecer Temer. O segundo atinge os dois.
Aécio Neves
fez acordo com Temer. Nos últimos 5 anos, Aécio comemorou aniversario sem
nenhum telefonema do vice. Semana passada, ás 11 da noite, já ia dormir, Temer
se lembrou , telefonou para o "jovem presidenciável", mandou um abraço
entusiasmado.
Ponto
final na convenção, ou melhor, em mais uma reeleição de Temer, a sétima para
presidir o PMDB. Alem da sua inacreditável capacidade de construir notável
carreira, sem voto, sem povo, sem urna, o poder de conquistar personagens como
Eduardo Cunha. Nos últimos 20 dias a ligação e a intimidade política entre os
dois, insaciável e sem exorbitância.
O protesto de ontem, bem maior e visível do
que o do ano passado
È mais do
que compreensível. De março de 2015 a março deste tenebroso 2016, a mudança foi
afrontosa, insuportável e insustentável. A impopularidade de Dona Dilma, do governo,
de Lula e do PT é irrefutável. Mas mesmo reconhecendo o fato, bastante
contradição. Diversas televisões transmitiram e comentaram mas discordaram.
Todos falaram em 14 ou 15 estados e1 Distrito Federal. Como são 27, deviam
explicar a ausência de manifestação nos outros 11.
Os números
e os cálculos, brigavam entre si. Como a PM informou bem cedo, que não
divulgaria boletins, ficava por conta dos organizadores, os mais interessados. Um
grande exemplo: falaram que na Avenida Atlântica passaram "entre 700 mil e
1 milhão de pessoas". Tinha muita gente mesmo, mas uma diferença de 300
mil é inaceitável.
Do ponto
de vista de segurança, perfeito. Também só havia gente de um lado, não poderia
haver conflito. O protesto mais repetido: "Queremos um novo Brasil".
Trocar Dilma pelos personagens do segundo e terceiro time não muda coisa
alguma. As manifestações revelavam enorme insatisfação, ou como disse o Millor:
"Cada vez está sobrando mais mês no meu salário".
Elogios
gerais, sem restrições, só para o juiz Sergio Moro e a Lava-Jato. O mais
criticado, em vários estados,aparecendo sempre atrás das grades, Eduardo Cunha.
Merecidamente. No Palácio, desde cedo, Dona Dilma e vários ministros,
acompanhando e comentando. Só que a reação de ontem, inteiramente diferente de
março de 2015. A Avenida Paulista tem três quilômetros. Uma bandeira nacional,
na horizontal segurada por centenas de pessoas, tinha a metade. Emocionante.
Era
protesto, mas também festa. Crianças, idosos, como a Paulista é residencial,
todas as sacadas lotadas. Maior público na maior e mais populosa cidade. Começou
mais tarde também terminou bem mais tarde. Não quero "inventar ou
"chutar", mas era sensacional. Sem exagerar, quero repetir Epitácio
Pessoa em 1922: "Quanto trabalho por uma causa inglória".
Às 19
horas a Paulista praticamente vazia. Pouco antes, abrigou 1 milhão e 400 mil
pessoas. Também há essa hora, o Alvorada tentava descobrir o que fazer.
Esperavam Lula, mas se convenceram, ele não apareceria nesse final de domingo. Arrogante
e audacioso, Lula, depois da "coercitiva", chamara os militantes,
explicando "agora é guerra". No momento será excelente se conseguir a
"paz desarmada", que é o que sobra para os derrotados.
PS- O TSE
deve acelerar os trabalhos, e em maio, quando muda a composição do tribunal,
determinar a cassação da chapa Dilma - Temer. Será a grande solução, eleição
dentro de 90 dias, com o presidente do Supremo, comandando o espetáculo. .............................................................................................................
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