O MAIOR
CRIME DO GENERAL NEWTON CRUZ FOI CONTINUAR VIVO ATÉ AGORA. AOS 86 ANOS. TODOS
OS OUTROS, IGUALMENTE, CRIMINOSOS, SABIAMENTE MORRERAM MUITO ANTES.
HELIO FERNANDES
(publicada
em: 02.01.15)
Em 1981, portanto quase 2 anos
depois da farsa da “anistia ampla, geral e irrestrita” de 1979, foram cometidos
dois crimes. Por muitos motivos, vingança, acerto de contas, represália, mas
com planejamento e objetivo mais do que visível e ostensivo: PRORROGAR A
DITADURA, que com o ato de 1979, estava derrubada e com data certa para
terminar.
A destruição da Tribuna
Foi o primeiro ato de destruição,
uma espécie de teste para o que viria no 1º de abril. Em fevereiro de 1981 a
Tribuna foi pelos ares, com tudo organizado e milimetrado pelos generais Otávio
Medeiros e Newton Cruz. Os dois do SNI, o órgão mais poderoso, que “fazia
presidentes”, e sonhava com a prorrogação do golpe de 1964.
O General de quatro Estrelas,
Otávio Medeiros, era o chefe Geral do SNI. E tinha um objetivo a defender e a
preservar: se a ditadura continuasse e mais um general assumisse a
“presidência” seria dele. Newton Cruz, de três Estrelas, era o chefe do SNI de
Brasília, servo, submisso e subserviente ao comandante poderoso.
No Senado, a CPI do Terror
Funcionava em Brasília, lógico, o
relator, André Franco Montoro (notável figura, depois governador de São Paulo)
providenciou imediatamente minha convocação para a CPI. Telefonou para Barbosa
Lima, presidente da ABI. (Eu era conselheiro, fiquei por 18 anos. Meu
compromisso com o notável jornalista era ficar enquanto ele fosse presidente).
Marcamos um encontro na ABI.
Fui depor, falei 6 horas
seguidas, respondi perguntas de senadores (e até deputados) da oposição e da
situação. Citei e acusei nominalmente Otávio Medeiros e Newton Cruz. Calei os
defensores do golpe e da ditadura, assustei a oposição. Fui tão duro e
explícito, que não permitiram que dormisse em Brasília. Foram me levar ao
aeroporto, me “empurraram” para dentro de um avião.
Meu depoimento desapareceu
Não sabia, nem remotamente, que
haveria o 1º de Abril, até hoje chamado de “atentado do Riocentro”.
Mas quando aconteceu, juntei os fatos, que rigorosamente verdadeiros, formavam
e confirmavam o plano de continuação da ditadura. Dois anos depois, precisando
do depoimento, pedi a senadores que tirassem copia para mim.
Como falo sempre de improviso,
não tinha como reproduzir o que falara. Aí, assombro, surpresa, perplexidade: O
DEPOIMENTO SUMIRA. Não foi possível encontrá-lo de jeito algum. Naquela época
“eram notas taquigrafadas”, não eram discursos ou depoimentos gravados, que não
podem ser cooptados, roubados, surrupiados.
Newton Cruz é culpado, mas muitos
outros generais também
Os governos que se sucederam,
chamados de “democráticos”, são também completamente culpados. Só mais de 30
anos depois, (agora) foi criada essa Comissão da Verdade, que não pode fazer
nada. Responsabilizam o general Newton Cruz, o único que está vivo. Os
“outros”, também indiciados, foram apenas coadjuvantes.
O marechal Pétain e o General
Newton Cruz
Herói na primeira guerra, por ter
vencido os alemães na inexpressiva batalha Verdun, foi consagrado de todas as
maneiras. Na Segunda Guerra, se transformou em traidor, formou o governo de
Vichy, apoiando Hitler contra a própria França. Aos 89 anos foi condenado à
morte. Com a pena convertida em perpétua, morreu antes dos 90.
Newton Cruz não tem formação,
convicção e reflexão de herói. Se for condenado a 36 anos de prisão, quanto
tempo poderá cumprir? Acusei o general quando ele era poderoso, da ativa, do
SNI, com pouco mais de 50 anos.
Não quero acusa-lo ou defendê-lo,
apenas iguala-lo a outros generais golpistas que já morreram. Ou a civis que
chegaram a presidentes, (ou ocuparam cargos importantes, impunes) depois de
apoiarem o golpe e se serviram dele. E ao contrário de Newton Cruz, um só, os
civis golpistas são muitos.
PS – A Comissão da Verdade tem poderes para enquadrar
todos eles. E o Ministério Público também.
PS2 – Alguns podem até mesmo ir para a
Penitenciária de Pedrinhas, estarão e casa.
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