Temer, ás 2 da madrugada,
"surpreendido" com a vitoria. Carmem Lucia, presidente do Supremo,
que sorte.
HELIO FERNANDES
Um
processo constitucional como o impeachment, transformado em farsa, é uma
derrota para as instituições. Nem adianta rotulá-lo de formas diversas, será
sempre uma derrota para a democracia. Os "vitoriosos" festejavam com
champanha falsificada, se fingiam de embriagados de entusiasmo, "pelo que
podemos fazer para a salvação nacional". Como proclamam, entre o ridículo
e o eufórico, para eles, duas palavras rigorosamente iguais, sem necessidade de
interpretação.
Às 23,10
de terça, sabendo que ainda faltavam pelo menos 3 horas para o fim, já quase na
madrugada de quarta, encerrei. Comuniquei, e como o que ia acontecer era mais
do que obvio, sabido e previsível, resolvi antecipar o resultado. Era facílimo.
Não dava nem para errar. Estavam presentes, os 81 senadores. O presidente não
vota. No caso de Renan Calheiros, felicidade para a comunidade. Surpresa que
ele ainda esteja impune. E presidindo o Senado.
Sobraram
80 votantes. Como os que combatem o impeachment, representam 21 senadores,
ficaram obrigados á ratificação, os outros 59. Interpretando, somando ou
diminuindo, ou melhor, baseado no conhecimento que venho interpretando há
meses, eis o retumbante resultado: 59 a favor do impeachment, 21 contra. Total
que será confirmado na ultima e definitiva votação. Em data ainda não definida,
mas com o mesmo resultado de agora.
O
presidente provisório acompanhou tudo pela televisão, que só podia transmitir
os chatíssimos discursos e mais nada. O que podia acontecer de bastidores, era
transmitido por mensagens do líder do governo, Aloizio Nunes Ferreira. Ou pelo ex-ministro
Jucá, convencido que efetivado Temer, ele será reabilitado. Essa seria uma das
explicações para a manutenção do Executivo no Planejamento, apesar de também
envolvido na Lava-Jato.
A equipe
de coordenação da cooptação, foi tão eficiente, atuante e competente, que não
sobrou espaço para uma simples e isolada abstenção. 72 horas antes dos 59 a 21,
jornais, sites e televisões, resolveram fazer um exercício de conhecimento inútil.
Publicaram: "44 a favor do impeachment. 22 contra. 14 indecisos". Erraram
copiosamente. Deram para os que não queriam o impeachment, mais 1 voto do que
tinham. Com os 14 que consideraram "indecisos", são 15, que somados
aos 44, chegariam aos 59 da votação.
Sozinho,
sem partidarismo ou malabarismo jornalístico, apenas com informação e
conclusão, cheguei facilmente ao resultado antecipado: 59 a 21. Agora pelo menos
20 dias antes da próxima, ultima e definitiva votação,nenhuma possibilidade
de alteração. Portanto, nova edição dos 59 a 21. Nunca houve indecisão. Os
que ostentavam essa suposta condição, queriam apenas negociar mais seguramente,
obter melhores vantagens, "para servir á coletividade".
O governo
não podia resistir, atendeu a todas as exigências. Admitiu até reformar o
regimento interno, para que o presidente Renan votasse. Chegariam então aos 60
votos, tão proclamados,esperados e admitidos.
Carmem Lucia Presidente do
Supremo
Ela não
foi eleita, como desinformaram órgãos de comunicação. O cargo é ocupado por rodízio.
E junto com o presidente, é escolhido o vice, que será o próximo presidente. Portanto
é possível saber que depois dela virão Toffoli, Luiz Fux, Rosa Weber, se não
cair antes na compulsória. O que infelizmente aconteceu com Pedro Lessa, único
negro no Supremo.
È uma
sorte ter Carmem Lucia presidindo o mais alto tribunal do Brasil. Principalmente
neste momento em que tantas decisões importantes estão engavetadas e
interrompidas. Tenho certeza: Carmem Lucia vai tentar resolver ou pelo menos
colocar em pauta, ações que alguns não querem votar. È uma pena que o Supremo
esteja tão "rachado". Na verdade, sempre houve divergência, é
natural.
Só houve
uma época em que o Supremo votou sempre unânime e homogêneo. Foi na ditadura do
Estado Novo. Vargas fechou a Câmara e o Senado, deixou o Supremo funcionando. Que
não contestava de jeito algum, compartilhava com a tremenda ditadura. Incluindo
a revoltante e degradante extradição de Olga Benario para a Alemanha. Que o
Supremo, unânime, ratificou. Mas isso é outra Historia.
Cunha é corrupto, mas não
mentiroso
Ontem
publiquei matéria grande sobre a conversa do ex-presidente da Câmara, com
apaniguados. Com rigorosa exclusividade, mostrei a conversa dele de manhã á
noite da
terça feira. Foi tão extravagante, que mesmo os mais íntimos não contestaram,
mas não acreditaram. Cunha deixou bem claro que tinha um compromisso com o
presidente provisório. Textual: "Eu fico silencioso se a data para a
tentativa da minha cassação, for marcada para depois do impeachment. Se
marcarem antes,faço o que bem entender".
Oficial e
pessoalmente, ontem, Rodrigo Maia confirmou o que Cunha revelou e este repórter
publicou: "Lideres de partidos querem marcar a data para a cassação de
Cunha imediatamente". Fez uma pausa, respondeu uma pergunta, concluiu: "Mas
a base do governo quer esperar a votação do Senado". Essa "base do
governo" é formada por amigos de Cunha e orientada por personagens
importantes do Planalto e do Jaburu.
Tudo isso
leva á utilização de duas palavras: pusilanimidade e perplexidade. Como eu
disse ontem no titulo: "Temer "PROTEGE Cunha". As aspas são indispensáveis,
estão quase todos com medo de uma delação do ex-presidente da Câmara. Tolice.
Ha 10 ou 15 dias, revelei com exclusividade: a equipe da Lava - Jato não tem o
menor interesse em conversar com ele. Admitem: uma delação de sua mulher,
podemos conversar.
Dona Dilma reconhece a realidade
Nos últimos
dias, a presidente afastada tem feito muitas reuniões no Alvorada. Mas sem o
Lula. Que reflete muito sobre seu futuro e o do PT. Assistiu toda a reunião de
19 horas no Senado. Não fez comentários. Ontem acordou cedo, depois do almoço
muita tranqüila. Em determinado momento, sem que parecesse confissão ou
reconhecimento da realidade, falou: "Estou pretendendo viajar
mediatamente, só voltar no fim de 2017". Sensato, mas muito tarde.
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