Titular: Helio Fernandes

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Temer, ás 2 da madrugada, "surpreendido" com a vitoria. Carmem Lucia, presidente do Supremo, que sorte.

HELIO FERNANDES

Um processo constitucional como o impeachment, transformado em farsa, é uma derrota para as instituições. Nem adianta rotulá-lo de formas diversas, será sempre uma derrota para a democracia. Os "vitoriosos" festejavam com champanha falsificada, se fingiam de embriagados de entusiasmo, "pelo que podemos fazer para a salvação nacional". Como proclamam, entre o ridículo e o eufórico, para eles, duas palavras rigorosamente iguais, sem necessidade de interpretação.

Às 23,10 de terça, sabendo que ainda faltavam pelo menos 3 horas para o fim, já quase na madrugada de quarta, encerrei. Comuniquei, e como o que ia acontecer era mais do que obvio, sabido e previsível, resolvi antecipar o resultado. Era facílimo. Não dava nem para errar. Estavam presentes, os 81 senadores. O presidente não vota. No caso de Renan Calheiros, felicidade para a comunidade. Surpresa que ele ainda esteja impune. E presidindo o Senado.

Sobraram 80 votantes. Como os que combatem o impeachment, representam 21 senadores, ficaram obrigados á ratificação, os outros 59. Interpretando, somando ou diminuindo, ou melhor, baseado no conhecimento que venho interpretando há meses, eis o retumbante resultado: 59 a favor do impeachment, 21 contra. Total que será confirmado na ultima e definitiva votação. Em data ainda não definida, mas com o mesmo resultado de agora.

O presidente provisório acompanhou tudo pela televisão, que só podia transmitir os chatíssimos discursos e mais nada. O que podia acontecer de bastidores, era transmitido por mensagens do líder do governo, Aloizio Nunes Ferreira. Ou pelo ex-ministro Jucá, convencido que efetivado Temer, ele será reabilitado. Essa seria uma das explicações para a manutenção do Executivo no Planejamento, apesar de também envolvido na Lava-Jato.

A equipe de coordenação da cooptação, foi tão eficiente, atuante e competente, que não sobrou espaço para uma simples e isolada abstenção. 72 horas antes dos 59 a 21, jornais, sites e televisões, resolveram fazer um exercício de conhecimento inútil. Publicaram: "44 a favor do impeachment. 22 contra. 14 indecisos". Erraram copiosamente. Deram para os que não queriam o impeachment, mais 1 voto do que tinham. Com os 14 que consideraram "indecisos", são 15, que somados aos 44, chegariam aos 59 da votação.

Sozinho, sem partidarismo ou malabarismo jornalístico, apenas com informação e conclusão, cheguei facilmente ao resultado antecipado: 59 a 21. Agora pelo menos 20 dias antes da próxima, ultima e definitiva votação,nenhuma possibilidade  de alteração. Portanto, nova edição dos 59 a 21. Nunca houve indecisão. Os que ostentavam essa suposta condição, queriam apenas negociar mais seguramente, obter melhores vantagens, "para servir á coletividade".

O governo não podia resistir, atendeu a todas as exigências. Admitiu até reformar o regimento interno, para que o presidente Renan votasse. Chegariam então aos 60 votos, tão proclamados,esperados e admitidos.

Carmem Lucia Presidente do Supremo

Ela não foi eleita, como desinformaram órgãos de comunicação. O cargo é ocupado por rodízio. E junto com o presidente, é escolhido o vice, que será o próximo presidente. Portanto é possível saber que depois dela virão Toffoli, Luiz Fux, Rosa Weber, se não cair antes na compulsória. O que infelizmente aconteceu com Pedro Lessa, único negro no Supremo.

È uma sorte ter Carmem Lucia presidindo o mais alto tribunal do Brasil. Principalmente neste momento em que tantas decisões importantes estão engavetadas e interrompidas. Tenho certeza: Carmem Lucia vai tentar resolver ou pelo menos colocar em pauta, ações que alguns não querem votar. È uma pena que o Supremo esteja tão "rachado". Na verdade, sempre houve divergência, é natural.

Só houve uma época em que o Supremo votou sempre unânime e homogêneo. Foi na ditadura do Estado Novo. Vargas fechou a Câmara e o Senado, deixou o Supremo funcionando. Que não contestava de jeito algum, compartilhava com a tremenda ditadura. Incluindo a revoltante e degradante extradição de Olga Benario para a Alemanha. Que o Supremo, unânime, ratificou. Mas isso é outra Historia.

Cunha é corrupto, mas não mentiroso

Ontem publiquei matéria grande sobre a conversa do ex-presidente da Câmara, com apaniguados. Com rigorosa exclusividade, mostrei a conversa dele de manhã á
noite da terça feira. Foi tão extravagante, que mesmo os mais íntimos não contestaram, mas não acreditaram. Cunha deixou bem claro que tinha um compromisso com o presidente provisório. Textual: "Eu fico silencioso se a data para a tentativa da minha cassação, for marcada para depois do impeachment. Se marcarem antes,faço o que bem entender".

Oficial e pessoalmente, ontem, Rodrigo Maia confirmou o que Cunha revelou e este repórter publicou: "Lideres de partidos querem marcar a data para a cassação de Cunha imediatamente". Fez uma pausa, respondeu uma pergunta, concluiu: "Mas a base do governo quer esperar a votação do Senado". Essa "base do governo" é formada por amigos de Cunha e orientada por personagens importantes do Planalto e do Jaburu.

Tudo isso leva á utilização de duas palavras: pusilanimidade e perplexidade. Como eu disse ontem no titulo: "Temer "PROTEGE Cunha". As aspas são indispensáveis, estão quase todos com medo de uma delação do ex-presidente da Câmara. Tolice. Ha 10 ou 15 dias, revelei com exclusividade: a equipe da Lava - Jato não tem o menor interesse em conversar com ele. Admitem: uma delação de sua mulher, podemos conversar. 

Dona Dilma reconhece a realidade

Nos últimos dias, a presidente afastada tem feito muitas reuniões no Alvorada. Mas sem o Lula. Que reflete muito sobre seu futuro e o do PT. Assistiu toda a reunião de 19 horas no Senado. Não fez comentários. Ontem acordou cedo, depois do almoço muita tranqüila. Em determinado momento, sem que parecesse confissão ou reconhecimento da realidade, falou: "Estou pretendendo viajar mediatamente, só voltar no fim de 2017". Sensato, mas muito tarde.



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