OS PERSONAGENS MAIS IMPORTANTES DO GOLPE DE 64,
FORAM JOÃO GOULART E OS GENERAIS. JANGO QUERIA FICAR NO PODER, OS GENERAIS
QUERIAM TOMAR O PODER.
HELIO FERNANDES
Matéria reprise de 17.01.15
A História do Brasil é inundada e conspurcada por golpes e mais golpes.
O primeiro aconteceu em 1889 quando República foi dizimada por dois marechais
cavalarianos, que mal podiam subir num cavalo. Essa República que não é a dos
nossos sonhos se dissipou nos 41 anos do partido Republicano, até 1930.
Aí veio outro golpe a longo prazo, que se transformou numa ditadura de
15 anos, que chamaram de Revolução. Os primeiros sete anos, poder de apenas um
homem (Vargas), pelo menos não havia violência, tortura, prisão, perseguição.
Era apenas preparação para o que surgiria em 1937, o assombroso e cruel
"Estado Novo", com o mesmo Vargas, apoiado e garantido pelos
generais.
Como explico sempre não existe ditadura civil ou ditadura militar, e sim
a conjugação de civis e militares. Uns não podem manter o poder sem os outros,
são aliados sem o menor constrangimento. Pulemos logo para 1960, quando foi
dado o inicio ao golpe de 64.
Nesse ano, pela primeira e única vez, os vice-presidentes eram eleitos
pelo voto direto, junto com os presidentes. Era registrada uma chapa, dois
nomes, o cidadão-contribuinte-eleitor votava duas vezes, no presidente e no
vice.
Jânio Quadros, franco favorito, apoiadissimo pela UDN, teve que aceitar
um candidato da UDN, o responssabilissimo Milton Campos. Queria como vice, João
Goulart, sabia que este faria tudo o que ele mandasse. Coisa que não
aconteceria com um homem como Milton Campos.
Sem caráter, escrúpulos ou convicções, Jânio corrigindo as coisas,
criando o Comitê, Jan-Jan, mandando que votassem em Jango para vice-presidente,
o que aconteceu.
Jânio: posse, véspera da renúncia.
Jânio chegou ao poder em janeiro de 61, começou logo a articulação com
os generais que o apoiavam, para que "conquistasse" o poder sem tempo
sem limitação. Meses depois mandou o vice João Goulart para Cingapura, o outro
lado do mundo, sem nenhum projeto, nenhuma negociação ou acordo com outros
países.
Jango que não era brilhante, mas não tinha nada de tolo, desconfiou da
viagem, mas foi. Quando estava lá, recebeu duas notícias. 1 - Jânio renunciara,
não se sabia onde estava. 2 - Os generais não dariam posse a ele, apesar de ser
vice e o substituto natural, não assumiria. Confusão terrível, os generais
tinham armas mas não tinham popularidade. Tiveram que negociar.
Jango voltou, mas não veio direto para o Brasil, parou em Montevidéu.
Tancredo Neves, que fora Ministro da Justiça de Vargas em 1951, e tinha ficado
intimissimo de Jango, Ministro do Trabalho, negociou. E os generais para não
perderem tudo, sugeriram o "parlamentarismo com Tancredo de Primeiro
Ministro", o que aconteceu.
(De passagem, esclarecimento para mostrar o péssimo relacionamento
de Jango com os militares, exatamente o contrário do seu mestre e protetor,
Getúlio Vargas. Ministro do Trabalho, em 1952 Jango dobrou o salário mínimo, os
militares não gostaram. Publicaram então o que se chamou de "Manifesto dos
coronéis". 69 deles exigiam a demissão de Jango, este aceitou
cordatamente. Tancredo aconselhou-o a ficar, Jango não aceitou).
Brizola não queria
que Jango aceitasse o Parlamentarismo, obteve do cunhado, a resposta: "Já
aceitei. Tancredo é nosso amigo, estamos no poder". Todo o ano de 1962,
foi de preparação para o referendo.
Conseguiu marcar a
escolha para o dia 6 de janeiro de 1963. Vitória facílima, 8 milhões para o
presidencialismo, apenas 2 milhões parlamentarias, Jango tomou posse logo, era
outro Jango inteiramente diferente. A eleição estava marcada para outubro de
1965, tinha muito tempo pela frente, começou a agir.
Tenta atingir
Lacerda.
Em março desse 1963,
manda Mensagem ao Congresso, decretando Intervenção na Guanabara. O objetivo
nítido e visível é tirar Carlos Lacerda do governo da Guanabara. O Congresso
reage assombrado, não concorda, nem mesmo os partidos que o apóiam.
Os líderes Waldir
Pires (PSD) e Doutel d Andrade (PTB) vão ao palácio Laranjeiras, (Jango quase
não ia a Brasília) dizem a ele, “não há clima para a intervenção”. Jango
imediatamente retira a Mensagem.
Chega a vez deste
repórter.
Em 21 de julho,
recebo de um extraordinário informante, cópia autentica de uma circular que o
Ministro da Guerra, Jair Dantas Ribeiro mandara a 12 generais. (no total eram
36). No, dois carimbos: “Sigiloso e confidencial”.
Lógico, publico no
mesmo dia, assim que a Tribuna sai, Jango telefona para o Ministro, e deu a
ordem: “mande prender o jornalista AUDACIOSO, e enquadre na Lei de segurança”.
Fui preso no mesmo dia, no Batalhão de Polícia, na
Barão de Mesquita, onde anos depois se abrigaria o Doi-Codi, comandado
inicialmente pelo general Orlando Geisel, mais tarde Ministro da Guerra. Na
hora do banho de sol, pude constatar a tremenda divisão do Exército.
Alguns oficiais cruzavam comigo, diziam, "resista, Hélio, estamos com você". Outros me olhavam com ar feroz, se pudessem me fuzilavam. Enquanto isso, meus advogados, Sobral Pinto, Prado Kelly, Adauto Cardoso e Prudente de Moraes, neto, entravam com Habeas-Corpus no Supremo.
O bravo presidente, Ministro Ribeiro da Costa mandou ouvir o Ministro para "saber quem mandara me prender". O general confirmou, aí o Supremo teve que julgar. Desconfiando de que havia alguma coisa fora da curva. O ministro ficou como relator, o que o regimento interno permite. Aceleraram o julgamento, para que terminasse em julho mesmo, os poderosos são supersticiosos, têm pânico do mês de agosto.
Ganhei de 5 a 4, surpresa para o presidente Jango e seu Ministro da
Guerra. Tudo estava preparado para que me condenassem a 15 anos de prisão.
Vou numerar os quesitos para facilitar a compreensão.
1- "Em março de 63 foi feita pesquisa, Jango aparece com 70% de
aprovação. 86 na classe pobre, 62 na A e B". Desculpe, Navarro não houve
nenhuma pesquisa oficial. Se tivesse havido, Jango não teria obtido 62% nas
classes A e B.
2- Outra suposta pesquisa, perguntava. "se Jango pudesse ser
candidato, o que aconteceria?". Não houve mais essa "pesquisa",
a reeleição era impossível.
3- Folha e Estadão não tinham censores nas redações. Os censores só
foram impostos para alguns jornais, a partir de 1968, pouco antes do macabro
AI-5. A situação do Estadão, sempre foi a mesma, desde 1932, quando surgiu a
"Revolução Constitucionalista de 32", comandada pelo Doutor Julio
Mesquita. Em 1937 ele foi exilado em Portugal, junto com o ex-presidente
Bernardes.
Em 64 apoiou o golpe, não demorou muito foi dos maiores combatentes. Da
ditadura. Doutor Julio era assim, gostava do que considerava o bom combate. Não
tinha interesse, acima de tudo convicções. Diferente de quase todos os outros.
4- Depois foi sempre contra o golpe, a tortura, a perseguição, não
transigia. O jornal foi sempre independente, contra ou a favor. 5- Juscelino
era franco favorito para 1965. Pouco antes de terminar seu mandato, fez
sondagens sobre uma possível reeleição, confessou, "não havia clima, desisti".
Mas lançou seu nome para 65, não perderia.
6- Jango nem era considerado, jamais ganhou eleição, a não ser a fraude
da vice montada por Jango em 1960. 7- Os candidatos para disputaren contra JK,
se não tivesse havido o golpe, seriam Ademar de Barros pelo PPS, e Lacerda pela
UDN. Este sempre admitiu que "sua grande meta era a presidência".
Final: vi, vivi, convivi. Tudo aqui é fato. Conclusão é outra coisa,
cabe a cada um. Os jornalões enriqueceram com o golpe, ganharam canais de
radio, televisão (que nem havia na época), hoje explicam o passado:
"Apoiar a ditadura foi equivoco jornalístico".
Enriquecidos mas não arrependidos. Só que sabem que nada é esquecido,
precisa ser explicado
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