A monstruosidade do preconceito racial. Cunha ainda
impune.
HELIO FERNANDES
O mundo e principalmente os EUA, deveriam estar comemorando os 150 anos
do fim da escravidão Em 1866 foi aprovada a Emenda 13 que eliminava a guerra
contra os negros. Em vez de festa, brancos assassinando negros, estes revidando
com igual violência, por conta dos direitos que foram colocados na
Constituição, mas jamais transformados em realidade.
Lincoln, das maiores figuras da Historia dos EUA, anti-escravagista por
vocação, formação e convicção, foi eleito em novembro de 1860. Tomou posse em
1861, o país já tendo começado a Guerra Civil, que se transformaria na mais
cruel e selvagem dos tempos modernos.
Governou
4 anos, ele e seu vice Johnson, Republicano, mas solidário e irrevogável no propósito
de acabar com a guerra e ao mesmo tempo liquidar o preconceito e estabelecer a
igualdade. Que não pode se transformar em desigualdade, levada em consideração
apenas a diferença da cor da pele.
Com esse
preconceito já dominando o mundo inteiro, ser negro passou a ser crime, um
libelo contra a liberdade da existência, do isolamento humilhante, da crueldade
de não terem direitos, de não serem reconhecidos como cidadãos.
Lincoln
dedicou os 4 anos do mandato, dia após dia, ao combate dessa selvageria. Lutou
obsessivamente em duas frentes enormes. Acabar a Guerra que matava milhares de
pessoas. Liquidar a discriminação, que condenava milhões. Foi derrotado
nos dois objetivos. Mas com seu esforço e competência reconhecidos, foi
reeleito para mais 4 anos. Mas esses tempos foram transformados e eternizados
em apenas 30 dias.
Em 1865,
tomou posse. Quando completava 1 mês do segundo mandato, foi ao Teatro Ford,
com a mulher Mary Todd. Assassinado covardemente, entrou para a Historia. A
luta pelo fim da escravidão continuou. 1 ano depois, já sem Lincoln presente,
mas honrando sua memória, aprovaram o fim da escravidão. Que agora, 150 anos
passados, continua um inútil e desacreditado principio constitucional.
Dando seu
próprio exemplo de primeiro negro presidente, Obama tenta desesperadamente
mostrar e até provar, que "os EUA não estão divididos". Podia
acrescentar que alem de negro, está sendo rigorosamente eficiente. Não
adiantará nada. Nem nos EUA nem no mundo. No Brasil conhecemos muito bem, nos
mais diversos setores, o horror, o terror e a indignidade da discriminação.
È preciso
continuar a luta de Lincoln, de outras personalidades como Luther King, (também
assassinado) sem muita esperança. Não conseguiremos nada, o mundo está mais
dividido do que nunca ou do que sempre. Não podemos esquecer do Apostolo Paulo,
que ensinava a importância de "combater o bom combate".
A guerra contra a Lava-jato
Enquanto
transcorria a ininterrupta e inacabável quarta feira, com a luta pela cassação
do corrupto Cunha, e a eleição do presidente da Câmara, nos bastidores, outra
grande batalha. Renan Calheiros que desavergonhadamente apresentara projeto
para intimidar as equipes que combatem a corrupção, enfrenta problemas. Seu
projeto, anunciado como sendo contra "abuso de autoridades", visa
apenas os que combatem a corrupção. Membros da Policia Federal, Ministério
Publico Federal, juízes, desembargadores, Ministros do STJ e STF. Um escárnio e
excrescência.
Como o
projeto é audaciosamente claro, principalmente apresentado por um senador
citado 9 vezes no Supremo, não conseguiu muitos adeptos. Até seu intimissimo
Romero Jucá, presidente da Comissão, refugou. Jogou o projeto para depois do
recesso. Renan compreendeu: a única possibilidade de aprovação, era obter o
apoio do presidente provisório. Mas não conversando, e sim negociando, com
Temer intimidado.
Assim,
como revelei ontem com exclusividade, retirou da pauta o projeto que legaliza a
jogatina. Os recursos que poderiam vir dessa ilegalidade, "realidade"
que fascina o presidente provisório. Proposta que Renan vai oferecer: Temer apóia
o projeto contra a Lava-Jato, ele, Renan, recoloca em pauta o projeto da
jogatina, em regime de urgência.
Fiquem
atentos. Aqui ou em jornais e televisões. Se o projeto da jogatina voltar á
pauta no senado, é porque Renan e Temer se acertaram, como sempre. De qualquer
maneira, o dilema pernicioso, com o cidadão-contribuinte atingido pela jogatina
e com a tramitação garantida, do projeto contra a Lava-Jato.
O projeto contra a CORRUPÇÃO
começa a andar
Finalmente
uma boa ou melhor, excelente noticia. A Câmara criou uma Comissão Especial para examinar
e transformar em Lei, o projeto que foi coordenado pela equipe da Lava Jato. Só
para não esquecer: a Constituição estabelece que com 1 milhão de assinaturas
populares, o requerimento pode ser apresentado á Câmara. A equipe de Curitiba
conseguiu 2 milhões de assinaturas, que já são 2 milhões e 200 mil.
Tem 10
itens contra corruptos e corruptores.
Cada um
item, com mais credibilidade, dignidade, responsabilidade. Já tentaram eliminar
3 itens, mas o projeto foi apresentado e aceito na integra. Ponto contra a
roubalheira, não apenas das empreiteiras. A comunidade não tem prevenção contra
ninguém. Só não quer ser roubado por todos.
Rogério Rosso se defende
2 horas
antes da eleição, favorito como candidato á presidência da Câmara, se apresenta
em publico. E declara publicamente: "Não pratiquei nenhuma
irregularidade". Não destroem nenhuma das acusações, minuciosas, que fiz a
ele. Deixo as acusações para depois. Quero apenas que responda a estes itens.
Foi secretario duas vezes do governador CASSADO, Roberto Arruda e isso é moral?
Mais
tarde trabalhou com o governador CORRUPTO, Joaquim Roriz. Este não chegou a ser
cassado, renunciou a 7 anos de senador para se livrar da punição. Para terminar
o mandato de Arruda, quem foi escolhido? O próprio Rosso,sem eleição, apoiado
pelos dois. Isso é moral? Ou serve de credencial para presidir a Câmara e ficar
como Vice presidente eventual?
Eduardo Cunha: a baixaria
do Conselho de Ética, se repete na CCJ
Às17
horas em ponto, o grito retumbante e diversificado: "Vergonha, vergonha,
vergonha". Era a única resposta possível á decisão do presidente Osmar
Serraglio: "Estou encerrando esta sessão e marcando outra para amanhã, quinta
feira". Nada surpreendente, no mérito. Só que na pratica, se esperava que
o prolongamento da sobrevida do ex-presidente, tivesse como protagonista, o
relator.
Hoje pela
manhã, a hora não interessa, fazem o que Cunha manda, continua o espetáculo da
desmoralização da Câmara como um todo e da CCJ em particular. Antes da mudança
da capital, freqüentei a Câmara quase diariamente. E vi essa CCJ presidida por
Milton Campos, Afonso Arinos, Gustavo Capanema, Djalma Marinho, e muitos
outros. De vários partidos mas com a mesma dignidade e espírito publico.
Hoje, Brasília
se define pela jurisprudência Toffoli, Ministro do Supremo: criou o "foro
privilegiado" para residência, (apartamento ou casa)
"funcional". A Constituição
garante "foro privilegiado" para determinados personagens. Agora
segundo Toffoli, todos os "residenciais" são imunes, por si e pelos
dependentes do proprietário. Hoje quinta, começa o recesso. È o que Cunha e
apaniguados chamam: "Decisão só em agosto".
A eleição do presidente da Câmara
Às 17,30,
foi aberta a sessão. Mas só vale oficialmente, quando 257 deputados estiverem
no plenário. Preferiam conversar, negociar, trocar votos por promessas, a serem
cumpridas depois. Na "casa", 376 deputados que apelavam aos14
candidatos inscritos, apenas 3 verdadeiros.
Surpresa
total, quando se soube que Rosso procurou Rodrigo Maia. Falaram quase 20
minutos. Sobre o segundo turno. Ás 18,40 entraram todos, começou a sessão.
Rodrigo Maia, o primeiro orador. Mas ninguém vai ganhar a eleição da tribuna. Por
falta de oratória, e excesso de compromissos.
PS -
Discursos chatissimos dos 11 que se apresentam, notavelmente sem nenhuma
chance. Ridículos, principalmente os exibicionistas, que só falam neles mesmos.
PS2- Impressionante
a incompetência do jaburu. Temer disse varias vezes, "ficaremos neutros,
não apoiaremos ninguém". Neste momento, impossível dizer quem vai ganhar. Mesmo
porque o importante é o que vem depois, e que apavora o presidente provisório.
PS3- A
decisão vai para o segundo turno, varando a madrugada. Com um fato
rigorosamente verdadeiro: nas ultimas horas, Temer foi informado pelo
crescimento enorme de Marcelo Castro. Aí se desesperou de vez, mudando
totalmente de estratégia, perdão, "estratégia".
PS4- Prevendo,
percebendo, ou até adivinhando, se convenceu que Marcelo Castro iria, certo, para
o segundo turno. Mudou tudo, passou a apostar em Rodrigo Maia em vez do Rosso, para
a disputa final. Pode ser a explicação para o que escrevi lá em cima, sobre
o encontro entre Rosso e Maia, antes de entrarem no plenário. È uma eleição
desvairada, comandada por um provisório, que até agora era prisioneiro do
"centrão". Quer se libertar, só não podia ser tão estabanado.
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