A decadência da política, arruinou a economia, comprometeu
a democracia. Trump presidente?
HELIO FERNANDES
Quem afirma ou acredita, que vivemos a maior crise de todos os tempos, está
se enganando ou gosta de ser enganado. Em 127 anos de Republica, desmoralizamos
as três palavras, política, economia e democracia, simultânea e insensatamente.
Todos sabem que a Republica foi implantada e não promulgada, em 15 de
novembro de 1889. Mas poucos sabem ou esqueceram, que fomos realizar a primeira
eleição direta, 56 anos desperdiçados, em 1945. Isso depois de duas ditaduras.
A do Partido Republicano, de 1889 a 1930. E a de 1930 a 1945, um golpe que se
intitulou de revolução.
Rui Barbosa
identificou erros e equívocos, denunciou no discurso de posse no Ministério da
Fazenda. Fundiu política e economia numa síntese magistral: "A Revolução
da Inglaterra de 1780, trouxe enorme progresso para o mundo, a industrialização
é uma realidade indiscutível. Passados mais de 100 anos,o Brasil se sente
confortável e orgulhoso,continua um país ESSENCIALMENTE AGRICOLA".
Economicamente
o Brasil vivia do café. Plantávamos, colhíamos e exportávamos 96 por cento do
café bebido pelo mundo. 92 por cento em SP, 2 por cento no Espírito Santo,
outros 2 no Estado do Rio. O discurso de Rui assustou os "barões do café",
que dominavam torpe e arrogantemente a política do país. Esse domínio de
SP na economia e na política, durou até 1930.
Com a
crise de Wall Street de 1929 nos EUA, mas que avassalou o mundo, acabou o
reinado de SP. Produzíamos 60 milhões de saca por ano, o mercado mundial, consumia
no maximo 5 milhões. Desapareceu o poderio de SP, surgiram os gaúchos, que tomaram
o Rio de assalto, com os lenços vermelhos no pescoço, a petulância e arrogância:
"Vamos amarrar os cavalos no Obelisco da Avenida Rio Branco". Mas a incompetência
era a mesma dos paulistas.
Pela
primeira vez usaram a expressão: "Vamos REINVENTAR a democracia". Começaram
por derrubar Washington Luiz e asilá-lo nos EUA. Com ele foi o vice Mello
Viana, e o chanceler Otavio Mangabeira. Surgiu então Getulio Vargas e a sua
voraz ambição pelo poder. Que dominou por 15 anos, com varias denominações. Intitulou-se
"chefe do governo provisório", até 1934, ele, só ele, exclusivamente
ele. Por pressão do país e principalmente de SP, foi convocada a Constituinte,
que iria realizar eleições diretas, a primeira da Historia, novo capitulo da
REINVENÇÃO da democracia.
Getulio
cooptou a constituinte, nunca fora eleito, mas foi reeleito por mais 4 anos,
até outubro de 1938. Só que seu calendário era inteiramente diferente. Em 10 de
novembro de 1937 implantou o chamado "Estado Novo", ditadura aberta e
ostensiva. Prisões, cassações, sem vice, sem Câmara ou Senado. Governando
ditatorialmente. Politicamente garantido pelo Exercito. Com o Marechal Dutra 8
anos Ministro da Guerra. E o General Goes Monteiro, Chefe do Estado Maior
Geral.
A
economia um caos completo. A ditadura durou até o fim de 1945. Mantido pelos
militares, foi derrubado por eles.
Dos
oficiais da FEB na Itália, veio o recado-exigencia: "Não tem sentido
combatermos a ditadura no exterior e mantê-la dentro de casa. Queremos eleições
diretas”. Houve a eleição,mas como farsa.Vargas foi substituído pelo seu
Ministro da Guerra.Politicamente correto, respeitando sempre a
Constituição.Economicamente mais do que tragédia, catástrofe completa.
E mais
uma vez foi adiada a REINVENÇÃO da democracia. Pois Vargas seu maior
destruidor, eleito em 1950, voltou ao poder. Quase não tomava posse em 1951. Para
conseguir teve que nomear Ministro da Guerra, o general Stilac Leal, exatamente
o contrario do Dutra da ditadura. Stilac era a maior liderança do Exercito, respeitadíssimo,
defensor irrepreensível do interesse nacional. Havia acabado de ser eleito
Presidente do Clube Militar, naquela época privativo de General da ativa. (Hoje
é privativo de general da reserva).
Não
queria assumir, foi pressionadissimo. Pelos rumos da "volta" de
Vargas, ficou pouco tempo. Veio o general Zenobio, duvida permanente, até que
se revelou em 1954. Precipitando a maior e mais traumática tragédia pessoal da
Historia. (Como escrevi em 1954 mesmo. Combatia Vargas, mas reconheci seu gesto
final e politicamente genial).
Depois
dele, só um presidente eleito diretamente terminou o mandato: Juscelino. Confessou
depois publicamente: "No ultimo ano, fiz sondagens para a reeleição não
havia clima, abandonei a ideia, lancei minha candidatura para 1965". Que
não existiu na Historia do Brasil.
De 1960 a
1990, é tudo tão recente, nem preciso lembrar, 30 anos de novo assassinato político
do país. A REINVENÇÃO da democracia começaria a partir de 1985, com Tancredo
Neves se a eleição fosse indireta, ou Ulisses Guimarães, nas diretas. Nem uma
coisa nem outra, razões incontroláveis.
Veio a vacância
do cargo, a eleição direta de 1989, o impeachment, a incerteza total, a
REINVENÇÃO da democracia ficou para o presidente eleito diretamente depois do
impeachment. Infelizmente, o destino colocou Fernando Henrique Cardoso no
Poder. Mais ambicioso do que todos, "comprou a reeleição". E Tudo o
que aconteceu de 1998 até agora, 2016, e até o futuro, indescritível e indevassável.
Responsabilidade e irresponsabilidade de FHC.
Se FHC seguisse
a ordem constitucional sem reeleição, exigência e convicção de Rui Barbosa, nada
teria acontecido. Ele mesmo não conseguido e completado o segundo mandato, o
"retrocesso de 80 anos em 8". Passaria a presidência a Lula em 1998 e
não em 2002. E Dilma assumiria em 2006 e não em 2010, continuando
desgraçadamente
em 2014.
O ponto
principal e fundamental: os três seriam beneficiados, melhorariam seu
desempenho político e econômico. Sem reeleição, FHC não teria atingido a
meta ruinosa para o país, representada pela “Comissão de
desestatização".
Lula, que
fez um governo ótimo de 2002 a 2006, não teria desperdiçado tudo. E não
inventaria Dona Dilma. Até poderia entregar o governo a ela em 2006. Seria catastrófica
como foi. Mas sairia logo, o substituto, fosse quem fosse, constataria o
tamanho da tragédia política e econômica, tomaria providencias.
Agora, 18
anos depois de FHC ter comprado e pago á vista a reeleição, o país que já foi
do futuro, não tem nem presente. Desde a amaldiçoada reeleição de 2014, antes
mesmo da segunda posse, intranqüilidade total e absoluta. O governo não governa
ha 17 meses, por incompetência inabalável. A oposição não se opõe pelos
caminhos normais, prefere a conspiração e a traição. E o vice assume com o
"apoio" dos grupos politicamente mais desacreditados eleitoralmente.
Em
primeiro lugar o PSDB, que já tentou a presidência direta em 4 eleições
seguidas, perdendo todas. Agora, se preparando para a quinta, ganhou cargos
suculentos. O vice, como presidente provisório, é refém de um grupo que se
chama de “centrão". Mas seria identificado melhor,se fosse "direitão".
Pela cooptação, o provisório será efetivado no dia 25 de agosto. Impossível
alimentar alguma esperança, desenvolvimento, crescimento econômico, grandeza política.
A
REINVENÇÃO da democracia, jogada para bem longe. A RECUPERAÇÃO econômica
depende da boa vontade dos empresários que financiaram o impeachment. O
Ministro da Agricultura, dono de inúmeras e majestosas fazendas, disse em
entrevista: "Estamos prontos para financiar o agronegócio". Ha poucos
meses, os porta-vozes desses setores, apregoavam: "O agronegócio alimenta
o país inteiro".
Só mesmo
um "constitucionalista", nomearia o dono de poderosas fazendas
Ministro da Agricultura e com as dádivas prometidas e garantidas. Talvez pelo
fato de se identificar como "constitucionalista". Michel Temer se
lembrou do constitucionalista maior, Rui Barbosa. Que ha 127 anos revelou e
condenou: "O Brasil é um país ESSENCIALMENTE AGRICOLA".
Deve ser
o sonho e a expectativa satisfatória para Michel Temer. Por enquanto, provisório.
A partir do dia 25, efetivado. No final de 2018, talvez disputando a reeleição apesar
de nunca ter sido eleito. Ele diz que não será candidato, "de jeito
algum". Quem acredita na sua palavra? Por que não manda emenda á Constituição,
proibindo reeleição?
Trump assustador
Começou
ontem a convenção do partido Republicano. O bilionário candidato, foi recebido
de forma quase amigável. Pelo que diziam dele durante a campanha, foi uma
consagração. Dois fatos contribuíram para o novo clima. O reconhecimento de que
ele lutou para obter o numero de votos indispensável.
O outro
item, mais importante: ele aparece nas pesquisas junto com a candidata
Democrata.
Embora as
pesquisas no mundo (constatem a que saiu agora sobre Temer), não tenham prestigio
ou credibilidade, os Republicanos preferem acreditar. Repudiando Trump, os
lideres do partido, apregoavam: "Não queremos ganhar previas, precisamos
de um Republicano na Casa Branca". Para os EUA e para o mundo, Trump
presidente é um escárnio, merece repulsa e revolta.
Caiu a mascara de Eduardo Paes
Logo
depois de ser eleito presidente da Câmara, com estrondosa vantagem sobre o
melhor candidato do PT, Eduardo Cunha deu inicio á campanha para o segundo
item do projeto político. Aplainar o caminho para ser governador do Estado do
Rio. Sabendo que não ganhava de Paes, sutilmente, em entrevista na TV,
garantiu: "O PMDB já tem candidato a Presidente em 2018". Perguntaram
quem seria, respondeu: "O prefeito Eduardo Paes, que está revolucionando o
Rio de Janeiro".
O sucesso
foi maior e mais rápido do que ele mesmo esperava. O prefeito telefonou no
mesmo dia. Agradeceu. E com a maior modéstia (?), comentou: "Eu já estava
pensando nisso, mas com o teu apoio fica ainda mais fácil e evidente". Não
demorou, o próprio Paes movimentou círculos partidários, com uma entrevista, em
que lançava a própria candidatura. E ficou como candidato.
Com o suicídio político de Eduardo Cunha, Paes desapareceu. Mas ontem, o antigo
Paes reapareceu com o projeto que ele mesmo havia revelado. Passa o cargo de
prefeito em janeiro de 2017. Como a eleição para governador só acontece quase 2
anos depois, em outubro de 2018, aproveita o tempo. Vai viajar pelo menos por 1
ano. Para estudar e se atualizar. È o antigo plano, ressuscitado por ele mesmo,
de viva voz.
Putin não vem ás Olimpíadas
O Comitê
Internacional, depois de profundas e demoradas investigações, ficou inarredável:
nenhum atleta ou dirigente russo pode participar dos jogos do Rio. Atendeu a
pedidos de novos exames. A cada analise a situação se complicava. Para não
haver prejuízo para ninguém, aceitou a solicitação de atletas russos, que sem
dirigentes, participassem com "bandeira neutra". Aí, o veto foi de
quase todas as Confederações do mundo.
Depois de
mais de 60 dias de reuniões rigorosamente neutras e insuspeitas, surgiu o
relatório final e a decisão definitiva. Nenhum atleta ou dirigente russo pode
participar da Olimpíada. A qualquer titulo, até mesmo como assistente.Estão
proibidos e ponto. Desta Olimpíada. E o Comitê Olímpico foi taxativo: "O
governo da Rússia sabia de tudo e acompanhou". E na Rússia, quando fala
governo, quer dizer Putin. Ele dirige o país como comandava a KGB.
É lógico
que o Comitê Olímpico não tem poder para proibir a vinda do presidente Putin. Mas
ele mesmo percebeu que haveria um tremendo constrangimento, interno e externo. Pois
a punição a atletas e dirigentes da Rússia, só foi tão drástica, pelo fato de
ser doping coletivo, planejado e executado.
PS- Como
tenho dito varias vezes, os terroristas são sempre vitoriosos. O objetivo deles
não é apenas assassinar milhares, é atemorizar ou intimidar milhões. A Eurocopa
foi disputada sob a ameaça de massacre. Não aconteceu nada. Uma semana depois, houve
o atentado de Nice.
PS2- O
Rio e o Brasil vivem em clima de terror e de temor. Até as medidas de proteção,
indispensáveis, provocam mais intranqüilidade. As simulações, agora diárias, pânico,
medo, inquietação. E ainda faltam três semanas. A população torce e reza para
que esse tempo passe logo.
PS3- Ultrapassada
a espera, começam os 17 dias dos jogos, de 5 a 22 desse agosto que não acaba
mais. Na TV, prevenção e demonstração para que a segurança resista a tudo. Agora,
em foco os aeroportos. Filas enormes, os passageiros tendo que chegar com duas
horas de antecedência.
PS4- Haja
o que houver, os terroristas vieram para ficar. O terror é a matéria prima
deles. O objetivo é levar o mundo ao desespero. Já conseguiram, numa praia da
França, em vários países, incluindo o Brasil, distante de tudo.
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