A Olimpíada desgastada pela política.
Temer e Renan, mestres e participantes em impeachment.
HELIO FERNANDES
Simbolicamente já vivemos a Olimpíada, ha muito tempo. Oficialmente
começou ontem, com a chegada das primeiras delegações, e a abertura da Vila Olímpica
para os atletas. Serão mais de 10 mil, centenas já estão aqui, tomaram posse de
suas instalações. Mesmo precárias.
De hoje á Abertura, dia 5,
faltam 10 dias. Quem não tem ingresso para a Abertura, corra para adquirir,
será lindíssima. Conheço pessoal ou profissionalmente, toda a equipe que
projetou e concretizou o inicio dos jogos. Pela genética ou conquista, têm o astral
da competência e do sucesso.
Quanto aos jogos propriamente ditos, houve um
retrocesso, da esperança ao pessimismo. Quando o Rio foi indicado, na terceira
vez que disputava, entusiasmo, aplausos retumbantes, nenhuma restrição. Mas as
coisas foram mudando. Até pesquisas encomendaram e publicaram, com o
único intuito de desmoralizar o evento. Nenhuma explicação, mas não ha
justificativa, para acreditar que os brasileiros,e principalmente os cariocas,
estão contra a Olimpíada.
Fizeram tanta publicidade da Zica, que parece que as
pessoas estão caindo mortas no meio da rua, atrapalhando o transito. Depois
veio a "porralouquice" (royalties para o Ministro da Defesa), do
Ministro da Justiça, que compartilhou sua paixão pelo exibicionismo, com o
amadorismo dos supostos terroristas. Se essas ações já assustam e intranqüilizam
o mundo, imaginem a repercussão aqui, que jamais esteve no mapa do terror. Ha 2
anos, realizamos uma Copa do Mundo, considerada das mais tranqüilas e bem
organizadas.
Mas nada disso atingiu o sucesso do evento. O que
teve a maior repercussão, rigorosamente negativa, foi à crise política. Provocou
até conversas de presidentes e Primeiros Ministros, que estavam com a viagem
confirmada, e cancelaram.
Obama desmarcou, mandou o Secretario de Estado. Angela
Merkel esteve num Congresso Econômico, com Dona Dilma. Na despedida, se
abraçaram, Merkel falou, "nos vemos no Rio". Será substituída pelo
presidente, que na hierarquia política administrativa da Alemanha, é tão
decorativo quanto Temer antes da traição. O Primeiro ministro da Itália, confirmou.
Reino Unido e outros, nem deram satisfação. Inicialmente,
estariam aqui, mais de 100 presidentes ou primeiros Ministros. O Presidente da
Argentina vem e ficará.
Ante ontem, reabrindo o maravilhoso Itamaraty, (que
foi sede do governo até 1896, quando o vice assumiu interinamente, comprou o
Catete e mudou para lá) o Ministro Serra anunciou: "Confirmaram presença
45 presidentes ou Primeiros Ministros". Uma redução impressionante na
qualidade e quantidade.
Serra sabia, mas não explicou tantos cancelamentos. Vou
revelar com exclusividade.Quase todos tiveram a mesma perplexidade e não
encontraram uma forma de se comportar sem se comprometer. "Estariam no
Brasil com dois presidentes. Um afastado, o outro provisório". Visitariam
ambos? Escolheriam um deles, obviamente tomando posição? Os dois usam a palavra
"presidente", a decisão definitiva só se dará depois das Olimpíadas
terminarem. Não quiseram arriscar uma inconseqüência ou incoerência diplomática.
O Rio está ameaçado de se transformar
provisoriamente num Principado. Os Príncipes e Sultões, esses virão na certa.
Temer
e Renan, tentam
se "reconciliar"
O relacionamento entre eles, sempre foi tumultuado e
conturbado, até que surgisse um poderoso componente pessoal que reaproximasse os
dois, mesmo sem uni-los ou reuni-los. Em diversas oportunidades, o fator união
se deu em torno do impeachment. No de Collor, os dois a favor. Líder do
governo, Renan mais preponderante na derrubada.Tão eficiente, que FHC, o grande
beneficiado, nomeou-o ministro da Justiça.
Michel Temer, malabarista do silencio comprometido,
foi eleito presidente da Câmara. Era suplente de deputado, Renan aplainou o
caminho, mesmo sem voto suficiente para conquistar (?) o cargo importante. Dessa
posição privilegiada, pôde salvar FHC do impeachment. Que seria justíssimo.
Renan e Temer, na mesma trincheira que protegeria e garantiria a reeleição comprada
e paga á vista. E que produziria o desgoverno do "retrocesso de 80 anos em
8".
Agora, na longa caminhada para que Temer se
beneficiasse diretamente da terceira tentativa de impeachment, novos encontros
e desencontros entre eles. Renan tentou sair vencedor, não conseguiu, aumentou
a inveja e o ressentimento. Temer, provisório quase efetivado, assustado que do
Senado surja alguma surpresa, tenta cativar Renan. Vago o ministério do Turismo, Temer pediu a Renan para
preenchê-lo.
O
presidente do Senado aceitou, indicou um correligionário de Alagoas. Seu nome: Marx.
Temer recebeu,investigou, telefonou para Renan pedindo para trocar a escolha. Renan
deu uma gargalhada, comentou, "ele se chama Marx mas não é marxista".
Resposta de Temer, nada satisfeito: "O problema é do nome, mas pelo fato
dele estar citado na Lava-Jato". Renan continua com direito ao ministério.
Desprendimento de lado a lado.
O COI concorda com o doping da Rússia
O mundo
inteiro, não apenas esportivo, aplaudiu o Comitê Olímpico Internacional pela
descoberta e punição do doping. A investigação não atingiu apenas a Rússia,
permitiu a constatação e punição de “ganhadores" de outras competições. Incluindo
a Olimpíada de Inverno da própria Rússia. Semana passada o COI anunciou: "Todos
terão que devolver as medalhas".
Acreditamos
na punição até o fim de semana. Mas a partir daí o COI mudou totalmente de
posição e convicção. Retirou o VETO á Rússia, passou a "competência"
para as Federações, que estavam publicamente contra as punições. O doping é o
câncer que mata o esporte. È a ratificação da deslealdade que derrota os
atletas que competem limpamente. Não se valem desses recursos vergonhosos, que
deviam ser banidos sem contemplação
O fenômeno
Usain Bolt deu entrevista sexta feira em Londres. Estava com um esparadrapo no
braço, mostrou e explicou: "Estou vindo de um exame antidoping. Todo mês
sou chamado, eu e meu medico ficamos satisfeitos. Estamos defendendo a
integridade do esporte que adoramos". Completou: "Estou indo para o
Brasil, vou conquistar a terceira medalha Olímpica, seguida, nos 100 metros.
Disputarei também os 200 metros".
Vamos
aplaudi-lo com a mesma convicção como contestamos o COI, que traiu a sua própria
legenda gloriosa, razão maior da Olimpíada: "O importante não é VENCER e
sim COMPETIR".
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