Eduardo Cunha: a renúncia
esperada, tão retardada, de um presidente que não existia.
HELIO FERNANDES
Finalmente
a retirada da presidência, apresentada oficialmente, sem subterfúgios. E apesar
de tudo, em clima de surpresa. Ele manobrou tanto, praticou durante meses, ao
mesmo tempo, o malabarismo da resistência e a desistência, que o ato e o gesto,
tão esperados, teve tons de inesperado. A partir do instante em que leu o
discurso, não se falou nem se tratou de outra coisa. O discurso é tão vil e sem
consistência, que já está completamente ultrapassado. Tentar lê-lo, é perder
tempo. Não acrescentará coisa alguma. (O importante, não está escrito)
Alem do
mais, assim que Eduardo Cunha passou a ser ex-presidente, a SAIDA perdeu toda e
qualquer importância. A luta começou a ser travada pela ENTRADA. Todos querem
substituir Eduardo Cunha. Com a exceção de uns raros, raríssimos, capacitados
para o cargo. Que quando têm o nome citado, falado, lembrado, são imediatamente
vetados, recusados, dizimados. A Câmara (e naturalmente o Congresso como um
todo) está tão desmoralizada, que o grupo majoritário ou que assim se julga,
age movido pela subserviência ou subversão.
A
partir do momento do anuncio, tudo pode acontecer. Até os fatos oficiais, podem
ser desmentidos ou "desanunciados". Um só exemplo: o presidente
interino, Waldir Maranhão, comunicou logo depois da desistência: "A
eleição do novo presidente da Câmara ocorrerá na próxima quinta, ás16 horas. Os
candidatos podem ser registrados até o meio dia".
Às 18
horas de ontem, representantes de vários partidos, contestaram. E afirmaram, "estamos
coordenando para que a eleição aconteça na segunda, no Maximo terça". Em
suma: não ha suma. Nem data para a substituição. A nota oficial é recusada, mas
por uma incerteza, que é o que domina o ambiente.
Mas se nem
a data pode se objeto de um acordo, imaginem quanto aos nomes. Na semana
passada, revelei: existem 6 candidatos, todos se dizendo "inarredáveis"
Agora aumentaram, de varias tendências e provocando conseqüências. Outras
abastecendo o clima com reticências. O "centrão" quer o apoio do
presidente provisório, outros pretendem fugir de ligação com ele.
E o próprio
provisório, recomendou a ministros, áulicos, apaniguados e assessores: "Não
podemos ter candidato, é a forma de não sermos derrotados. Se ganharmos com 1 candidato,
perderemos com todos os outros". Chamam a isso de "pragmatismo",
eu identifico como falta de caráter, personalidade, convicções e objetivos
Hoje e
nos próximos dias, até á eleição, Brasília terá um final de semana de contatos
prolongados e controversos. Isso no setor que tem a obrigação de fazer o que
não fez durante quase 1 ano: a eleição do presidente da Câmara. Deveriam ter
cassado o seu mandato de deputado, o que teria resolvido tudo. Compactuaram com
ele, foram omissos e complacentes. Permitiram que RENUNCIASSE, e continuasse a
luta. Pois para ele, começam agora: a tentativa de salvar o mandato e escapar
da prisão,
Na
presença de quase todos os outros deputados, relacionou o que vai conquistar. Afirmou,
"estou sendo perseguido por vingança, por não querer aceitar exigências
que contradizem com meu caráter e convicções". Foi na mesma linha, deixou
claro, que até a data da renuncia e a hora, foram milimetricamente escolhidos. Há
essa hora muitos já tinham ido embora. Depois,4 dias inúteis para trabalharem
contra ele: hoje, sexta,sábado, domingo, segunda, e talvez terça.
O
primeiro objetivo ou conquista: não ser cassado, continuar como deputado. Esse
é o ponto de partida para o reencontro com a vida publica e a liberdade. Já
escrevi tantas vezes, é a sua lição e o comportamento a partir de agora: repetir
Renan Calheiros em 2007. Presidente do Senado, resistiu meses, perdeu a presidência,
salvou o mandato, voltou a presidir o Senado, até hoje.
Continuando
deputado, manter o foro privilegiado, "não irei preso, continuarei sendo
julgado pelo Supremo". Aos que divergem da eficiência dessa manobra e
afirmam, "você é réu duas vezes no Supremo", responde: "O Supremo
não tem provas contra mim, é tudo pressão desse Procurador Janot". E vai
desfilando, "as vitorias que irá obtendo". Garante que na segunda
feira, a CCJ não votará contra ele e sim a favor.
Cunha
está praticando uma espécie de MAQUIAVELISMO contra. Já expliquei aqui: precisa
de 33 votos, ha10 dias publiquei afirmação dele mesmo: "Na CCJ tenho 27
votos, os outros 6 conseguirei". Ontem, uma pesquisa não contraria a ele,
totalizava a seu favor, no máximo 20 votos.
Não
esconde mas não diz publicamente, embora confirme nos bastidores: vai atuar na
eleição do novo presidente da Câmara. Seu objetivo, aí declarado: "Ninguém
será eleito sendo contra mim". “Não quero indicar ninguém, mas vetarei
qualquer candidato que tenha como programa me hostilizar". Vou trabalhar
muito essa eleição, pois apoiarei um candidato que me mantenha na residência
oficial, pelo menos enquanto eu for deputado. (Essa afirmação não está entre
aspas, a pedido, é exclusiva, poderia haver identificação).
No
momento é impossível sequer admitir quem será o novo presidente da Câmara,
Surgiram até alguns, que vieram com nova estratégia: dizem que gostariam de
disputar o cargo a partir de 2017. Ou seja: o mandato inteiro.
Mas eles
mesmos tentam uma conciliação, afirmam: "Para resolver a crise, nem
sacrifico ficando apenas 6 meses". 5 deputados nessa situação. Não é sacrifício,
È que eleitos agora, já seriam presidentes da Republica em agosto. Fevereiro é
muito longe, e a proximidade de uma presidência mesmo por 10 ou 15 dias, que
maravilha viver.
PS- Já
bem tarde, um grupo que se julga majoritário, fechou acordo. E marcou a eleição
da presidência para terça feira. Sem hora fixada.
PS2- Sem
muita consulta, um grupo majoritário, pelo menos na CCJ, que iriam realizar
reunião na segunda feira, imediata mentes se reuniram. E transferiram a reunião
para o dia seguinte, terça. E marcaram a hora: 9 da manhã. Pelo regimento interno, quando o plenário se reúne e
começa a "ordem do dia", as Comissões encerram os trabalhos.
PS3- Por tudo que contei, avaliem o tamanho da
confusão e do previsível tumulto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário