Cunha derrotado duas vezes, Temer comemora a
vitoria que não conquistou. Maia venceu por ele, não por causa do provisório
HELIO FERNANDES
HELIO FERNANDES
Qualquer analise de disputa com
placar tem que começar pelo exame dos números. Na eleição para a presidência da
Câmara, com o bônus de uma vice presidência (eventual), essa preocupação é
ainda mais importante. No primeiro turno, 489 votantes. Mas os três candidatos
que chamei de "únicos verdadeiros", obtiveram apenas 296. (Maia 120, Rosso
106, Castro 70).
Sobraram
então 203 votos, dispersão explicada pela falta de convicção e de lealdade dos
que comandavam ou fingiam comandar. Esses 203 deputados desgarrados, teriam alterado
o resultado.
Rodrigo
Maia venceu no segundo turno, com enorme vantagem, mas não deve nada a ninguém.
A melhor prova sobre isso, é a surpresa provocada pela vitoria nos dois turnos.
O presidente provisório comemorou, dizendo,"o governo ganhou amplamente, com
2 candidatos no turno final".
A
veracidade da palavra de Temer é tão provisória quanto seu mandato. Quando Maia
se lançou, com uma chapa denominada "governista independente", imediatamente
perguntei: "O que isso significa?". Significava a vitoria sem compromissos
espúrios.
Logo
depois da vitoria, Maia traçou um roteiro, que desmente o presidente provisório.
Não prometeu, afirmou. Provocou satisfação com o que disse, longe de uma
revolução. Mas para começar, falou: "Acabarei com o Colégio de lideres, os
deputados têm o direito da opinião". Indicou caminhos sobre os
"projetos do Executivo", mas ressaltou," a Câmara tem que cuidar
dos assuntos internos". E continuou no mesmo tom, sem hostilidade mas também
sem subserviência.
Ontem,
naturalmente entrevistadissimo, não recuou das afirmações, foi até mais longe.
E surpreendeu o Jaburu: "Sou contra aumento de impostos, a carga já é
muito alta". Isso mostra convicção, sinaliza que presidirá a Câmara como antítese
de Eduardo Cunha. O que já é pelo perfil moral. E que pretende ser pelo
comportamento político. (Maia ganhou votos com a "vergonha" da
prorrogação da sessão da CCJ. Adiada mais vez, por ordem do próprio Cunha. Que
durante o seu julgamento, interrompia, para sussurrar alguma coisa ao
presidente Osmar Serraglio).
Houve muita
deslealdade, incompetência, primarismo, desconhecimento da realidade. Impossível
compreender a contradição dos antigos governistas (?), agora oposicionistas (?).
Ótima a idéia de lançar um candidato. Bom o nome do ex-ministro Marcelo Castro.
Péssimo o resultado. Como esse grupo tem 130 deputados, os que votaram contra o
impeachment, inexplicável e incompreensível que tenha obtido apenas 70 votos. A
não ser que a liderança do PT continue contraditória e suicida. Podia ter
levado seu candidato ao segundo turno.
Lamentável,
mesmo para um presidente provisório, o descaminho, as reviravoltas, as
contradições publicas. Usou e abusou do tempo que lhe sobra para afirmar e
reafirmar: "Não apoiaremos nenhum candidato, ficaremos neutros". Para
Temer, (ficou provado) neutro é "apoiar e desapoiar nomes, de acordo com
as circunstancias". Fez isso varias vezes. Em determinado momento, o
Jaburu era a "casa" do candidato Rogerio Rosso. Por ser apoiado por
Eduardo Cunha. Na primeira derrota retumbante de Cunha, na mesma quarta, abandonou
seu candidato.
Depois do
segundo turno, deu parabéns a Maia, com entusiasmo. Como se o deputado do Rio,
devesse a vitoria a ele. E comemorou publicamente a derrota de "Lula e
Dilma", citando os nomes. Falta de grandeza. Quanto a Rodrigo Maia, já
assumiu até o fim de janeiro. Não pode ser reeleito. Mas se realizar o que tem competência
para fazer, pode voltar em 1 de fevereiro de 2019. quando completará 50 anos.
Cunha acumula derrotas
A derrota
de ontem, quinta, deveria ter sido consumada na véspera, quarta. Estava no fim,
eram 4 da tarde. Em menos de 2 horas teriam o resultado. Tanto isso é verdade, que
ontem, a sessão começou ás 9 e meia da manhã, e ás 11,45 já proclamavam:
novamente o painel anunciava a derrocada do ex-presidente da
Câmara.
60 deputados presentes. 48 contra ele, 12 a favor.
Mas
apesar de estar na véspera da cassação final, e na antevéspera da prisão,
conseguiu o que pretendia: o próximo capitulo só em agosto. A sessão de ontem, tranqüila,
não havia tempo para baixaria. E como foi apenas de votação e o painel não
aceita desafio, os 12 que votaram a favor de Cunha, protegidos pelo voto
secreto, foram embora silenciosos. Agora a CCJ manda o relatório para a presidência
da Câmara, o plenário vota a cassação.
Assim que
acabar o recesso, já sem mandato, duas providencias que fecham o ciclo Eduardo
Cunha na vida publica.
Será
julgado pela Segunda Turma do Supremo, onde ele bravateava que venceria por 3 a
2. (Perderá por 5 a 0, talvez 4 a 1). Como complemento, seus processos serão
enviados para Curitiba, onde responderá pela corrupção, apurada pela equipe da
Lava-Jato.
Quero
terminar por hoje, lembrando o roteiro político que Eduardo Cunha traçou para o
seu futuro, e que revelei com exclusividade. Presidente da Câmara de fevereiro
de 2015 a 17. Governador do Estado do Rio de 2018 a 22. Presidente da Republica
de 2022 a 2026. Cumpriu o primeiro estagio, e revelou uma capacidade fora do
comum. Resistência, coordenação, visão dos acontecimentos, espírito indomável.
Não tenho
a menor duvida de que cumpriria e atingiria o destino traçado e projetado. Mas
no meio da primeira etapa, se entrega desvairadamente á corrupção. Acumula
fortuna com propinas de todos os lados, não recusa nenhuma. Ou melhor, ameaça e
intimida para enriquecer ainda mais. Não consigo entender a mudança assombrosa.
Inicialmente, Eduardo Cunha se lançando no topo do mundo.
A seguir,
o mesmo Eduardo Cunha, descendo aos subterrâneos da vida. E na iminência certa
de trocar a residência oficial, luxuosa e suntuosa, pelas
masmorras intransitáveis.
"Centrão" irritado, quase
revoltado
Varias
derrotas em 24 horas, provocaram muitas reuniões. Inconformados com o tratamento
que o governo deu a Rogerio Rosso.Lembram que ele é dos mais importantes
lideres do grupo.Não gostaram do presidente provisório ter recebido o novo
presidente da Câmara.E ter aplaudido Maia, quando afirmou:"Vamos trabalhar
para manter uma base de 400 deputados".
Replicaram,
aborrecidos: "Nós, sozinhos, temos quase 300". E finalmente incluíram
entre os dissabores, a derrota na CCJ de Eduardo Cunha. Afirmam: "Ele é
nosso
amigo,
fundador do centrão". Me garantem: "Não estão realmente satisfeitos. Mas
a tendência deles não é de se revoltar e sim de se acomodar".
Exportação frágil
Queda
do dólar. Caiu pelo quinto dia seguido. E os exportadores, que vinham
reclamando, ontem protestaram duramente. E juntaram argumentos incontestáveis. 1-
O presidente provisório disse que vai aumentar as exportações. Anunciou até uma
viagem a China para vender aviões da Embraer. Com esse dólar cada vez mais
baixo?
2- O
governo tem feito intervenção no mercado, sem resultado. Perguntam: "São
incompetentes ou desatualizados?". 3- Os especialistas não escondem que a tendência é de queda, não demora estará em 3
reais ou menos. Tudo rigorosamente verdadeiro. O governo não sabe de nada.
PS-Therese
May, nova Primeira Ministra do Reino Unido, tomou posse quarta feira. Ontem, quinta
já estava na residência oficial, Downing Street 10. E Cameron se retirava,
satisfeito, com a mulher e os 3 filhos.
PS2- Eduardo
Cunha renunciou á presidência da Câmara. È deputado suspenso. Mas continua
morando na soberba residência, designada ao ele, quando era presidente. Terão
que entrar com "embargos infringentes" no Supremo, para efetuar sua mudança?
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