Agosto está chegando, mais rapidamente do que
muitos gostariam. A importância de Rodrigo Maia. Juros ainda em 14,25
HELIO FERNANDES
Existe um ditado muito popular, "agosto, mês do desgosto". Na
nossa Historia, fatos inesquecíveis aconteceram nesse mês. A farsa da independência
ocorreu em Agosto. Em 1864, a estranha e extravagante "Guerra do
Paraguai". O Brasil que não tinha nem Exercito, se juntou ao Uruguai e Argentina
para combater o solitário Paraguai.
Por ordens da poderosa Grã-Bretanha. Em agosto de 1930, Washington Luiz
derrotou Vargas com seu candidato Julio Prestes. Só foi derrubado e preso 1 mês
depois, asilado para os EUA. Era uma novidade
Fato
positivo. Em agosto de 1946, foi promulgada a primeira Constituição. Depois de
56 anos de governos desgovernados, tomando o poder sem eleição, ignorando e
desconhecendo o povo. Talvez o mais importante fato político e pessoal, trágico
e dramático, Vargas se mataria em 1954. Depois de uma reunião ministerial de 13
horas.
Quando
constatou: os Ministros militares e alguns civis, queriam sua renuncia. Abreviou
as traições, "deixou a vida para entrar na Historia". Inesquecível. Pouco
depois. Janio Quadros, "renunciaria" para obter mais poderes, trocaria a
gloria efêmera pelo ostracismo eterno.
Esse
agosto de 2016, acumulará do inicio até o fim, concretamente do dia 5 até o 25,
os maiores e hipocritamente considerados mais importantes personagens. Alguns episódios
ou quase todos, envolvendo a segurança do país e sua estabilidade política e democrática.
E ameaçando, mesmo de longe, a tranqüilidade da população. E não apenas do Rio.
Dia 5 começa a Olimpíada mais aterrorizada, já estamos vivendo essa
pré-intranquilidade. E na continuidade dos 7 dias dos jogos. E o depois que ninguém
sabe como, quando ou se virá.
Fora das
quadras, em camarotes distantes, estarão dois personagens, sem duvida alguma
relevantes. Não pelos méritos, competência ou importância, mas colocados no
centro dos acontecimentos, por fatos mais do que conhecidos. Dona Dilma,
presidente afastada. E Michel Temer, presidente provisório. Nesse dia 25 terão
seus destinos decididos por simples coadjuvantes. Infelizmente não temos
alternativa. Os dois são rigorosamente dispensáveis e sem credibilidade. Mas
não teremos direito á opção, ou seja um terceiro nome.
Que
poderia ter surgido ha meses, através de eleição direta. Que já teria ocorrido,
se o TSE tivesse correspondido á sua responsabilidade. Todos lembram que desde
o inicio acreditei nesse tribunal, e na cassação da chapa. Agora não ha mais
espaço ou tempo para coisa alguma. Só me resta desacreditar. O que estou
fazendo publicamente.
Entre o 5
e o 25, os acontecimentos se deslocam para Brasília, ou mais especificamente
para a Câmara. Em recesso, os fatos se acumulam, se sobrepõem, rivalizam. Do
ponto de vista pessoal, nada mais esperado do que a cassação de Eduardo Cunha. O
novo presidente Rodrigo Maia, afirmativamente, marcou a sessão para a segunda
semana desse temido agosto. Afirmativa e corajosamente. Mas é preciso de comparecimento.
Em massa.Se isso ocorrer,nenhuma chance do corrupto escapar.
Mas é bom
não acreditar antecipadamente. Cunha está trabalhando intensamente. Como já
revelei, sua grande aposta é na abstenção, no não comparecimento. Mas essa estratégia
só pode ter alguma repercussão, entre os considerados amigos. Os partidos que
pressionaram Maia, são pelo menos 350, no mínimo. Se estiverem presentes, a
vontade da comunidade, será cumprida de forma indelével, irrefutável, irrevogável.
Surgiu
agora, nos bastidores, um movimento coordenado por vários deputados, que
pretendem "salvar" Cunha da cassação, pelo que estão chamando de
"pena" E alinham vários motivos. Tem que entregar o palácio
residencial amanhã. Cassado,ficará sem salário. Não tem onde ficar com a família.
Antigamente morava num hotel conhecido “como preferido dos lobistas", era
sua atividade.
Fingem
acreditar que ele não tem mesmo recursos, "tudo pertence ao truste". Consideraram
a hipótese dele renunciar, veio o desespero: "A renuncia, agora, impossível.
Mesmo renunciando, é cassado, sem direitos por 8 anos, quase que imediatamente
preso.
Contra a Lava-Jato, e a favor da
Lava-Jato
Dois
projetos sobre o assunto estão transitando no Legislativo. Um começou no
Senado, assinado por Renan Calheiros, nem preciso explicar: é vergonhosamente
com o objetivo de destruir as investigações de Curitiba. Indiciado 9 vezes pelo
Supremo por corrupção e acumulando propinas, não sentiu o menor
constrangimento. Redigiu e apresentou essa monstruosidade que pune juízes, desembargadores,
membros de tribunais superiores, Policia Federal, Ministério Publico.
Como o próprio
Eduardo Cunha disse em depoimento, que "existem 117 deputados para serem
punidos pela Lava-Jato", é lógico que Renan está satisfeito pelo apoio que
vem recebendo. (Aliás, a palavra RECEBENDO se adapta maravilhosamente ao
"estilo" Renan).
O outro
projeto foi apresentado na Câmara. Tem 10 itens cobrindo os mais diversos e
diferente ângulos da corrupção. Foi levado pela equipe da Lava-Jato, mas com 2
milhões e 200 mil assinaturas populares. E tem como base a própria
Constituição. Que estabelece: com 1 milhão de assinaturas, o projeto pode ser
apresentado ao Legislativo e transformado em Lei. O que está na Câmara tem mais
do dobro. Cortaram três itens, que foram recolocados.
Esses
dois projetos de alto interesse publico, e aplaudidos pela comunidade, vão
estremecer as relações Câmara-Senado. E dependendo dos resultados, podem
transformar agosto em generoso ou tenebroso. Não acredito que a iniciativa de
Renan seja aprovada. Ou que o documento que veio com mais de 2 milhões de apoio
do povo, seja recusado, reprovado, rejeitado.
Mas
deputados e senadores, têm um recurso, que usam freqüentemente: engavetam,"esquecem".
Só que a fuga de Renan, para surtir efeito, precisa ser votado, é um retrocesso.
Quero ver quem tem a audácia de votar a favor. O outro, como é um progresso, trará
grandes prejuízos se não for votado. Só que a equipe de Curitiba está atenta,
monitorando a tramitação e não o "esquecimento".
A importância de Rodrigo Maia
Vem
cumprindo o que afirmou no discurso de posse. Inicialmente arquivou o projeto
que iria construir mais um "Edifício Anexo". Não consultou ninguém. Garantiu:
"Não é hora de gastar 320 milhões levantando mais um edifício". 320 milhões
no inicio. Mas com a corrupção dominante, iria para o dobro.
Antes de
ser pressionado por partidos que mantiveram o poder de Cunha por quase 1 ano,
colocou o julgamento na pauta. Sabe que não pode retroceder. E não retrocederá.
Cunha estará fora do jogo político, em plena disputa do jogo olímpico. E o
presidente da Câmara irá mais longe.
No seu
estilo discreto, deixou bem claro o lado do combate á corrupção: "Vejo com
bons olhos, o projeto de defesa e continuação da Lava-Jato". Magnífico.
Principalmente porque sabia que essa defesa não era uma das prioridades do Jaburu.
Nem de Renan. Maia foi logo chamado para jantar com Temer e mais quem? "O próprio Renan. Cujo projeto não terá facilidades na Câmara”.
Nem mesmo no Senado. Essa é a parte positiva, do agosto retumbante que está
chegando.
Inflação-dólar-juros
O Jaburu
está em plena euforia com a pesquisa que considerou favorável. Na verdade foi
mais confronto Dima-Temer do que pesquisa. E só os áulicos e apaniguados aplaudiram.
Mudaram o modo clássico das pesquisas para satisfazer o presidente provisório.
Na reunião com a equipe econômica, o presidente do BC teve que ouvir perguntas
sobre dólar e juros.
O
Ministro da Fazenda, com estilo conciliador, comentou que a inflação já devia
ter caído mais. Diante do silencio, mudou de assunto. Sobre dólar, como ninguém
tem ideia do que é melhor, subindo ou descendo, Temer não cobrou nada de ninguém.
Como não
se manifestou sobre inflação ou dólar, o constitucionalista resolveu
dar
opinião a respeito de juros. Seu desconhecimento é igual nas três matérias. Textual:
"BC tem plena autonomia para definir taxa de juros". O presidente do
BC achou que era a sua vez: "Tenho agido sem ruído (textual), para que não
saibam qual é a nossa intenção". A propósito: o governo tem alguma ideia
sobre dólar ou juro? A respeito de inflação, unanimidade, só existe uma saída: derrubá-la.
PS- Ontem
ás 19 horas em ponto, 72 horas depois da conversa que relatei, Temer e
Meirelles foram surpreendidos: o BC manteve os juros nos inabaláveis 14,25.E
pelo que se dizia nos bastidores, redução só em dezembro ou janeiro. Lógico, de
2017.
PS2-
Ainda no governo Dilma, eu defendia que "havia espaço" para reduzir
os juros. A inflação caíra de 11 para 8,90. Escrevi que podiam reduzir para 10
ou 11 por cento, de uma vez. Um tranco que a economia suportaria. O que não
suporta é essa mesmice.
PS3- FHC
cometeu a loucura de levar os juros para 40 por cento. Entregou a Lula com 25.
Com Dona Dilma chegou a 7 por cento ainda alto. Mas em menos de 2 anos, levaram
e elevaram para mais do dobro.
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