HÁ 37 ANOS, GENERAIS DITADORES E TORTURADORES, TENTAVAM
PRORROGAR A DITADURA. QUE JÁ ACABARA
HELIO FERNANDES
Foi num
Primeiro de Maio Exatamente como ontem. Os regimes militares de exceção
terminaram, os que usufruíram, gozaram e enriqueceram com o poder ilegítimo,
não se conformam. E reagem com o objetivo de continuar. Nesse Primeiro de Maio
de 1981, programado para ser sangrento e catastrófico, a ditadura completava 17
anos.
Os
generais que foram "presidentes", em 1979 decidiram, que Figueiredo,
que assumira, ficaria até 1985, quando haveria a ultima eleição, indireta mas
só com candidatos civis. Esse período dele, seria chamado de transição, uma
rotina sem violência, tortura, arbitrariedade. Articulada, coordenada,
comandada e executada pelo ex-Ernesto Geisel, que de ditador ferrenho, queria
se transformar em herói da libertação nacional.
Só 3
fatos, que enlouqueceram os generais do Doi-Codi, e o poderoso Chefe do SNI, o
4 Estrelas Otavio Medeiros, que lutava para que depois de Figueiredo, fosse
"eleito" o ultimo general, ele. A hostilidade entre os generais
do Doi-Codi, e o SNI, assustadora. Mas seus planos eram irrevogáveis.
Setembro
de 1979, deposição das armas, a farsa da "anistia, ampla, geral e
irrestrita". Asilados e exilados, voltaram para o país. Mas o CODI e o
SNI, começaram o plano de derrubar o fato, de preferência com excesso de violência.
Em
setembro de 1980, assassinaram Dona Lyda Monteiro, secretaria do presidente da
OAB, o excelente Eduardo Seabra Fagundes. Este contou ao grande
documentarista Silvio Da-Rin, que quando ela abriu um envelope, houve a
explosão, uma das paredes desapareceu. E ela, sem um braço, resistiu pouco
mais.
Fevereiro
de 1981. Destruição-vingança da Tribuna da Imprensa. Surpreendente que esse
crime tenha sido planejado, coordenado e executado pelo SNI de Brasília. Às 4
da madrugada, concentração de personalidades junto com os escombros do
jornal. Alceu Amoroso Lima, Ulisses Guimarães, Bernardo Cabral, Barbosa Lima
Sobrinho, etc. Quem estava no Rio, lamentava a crueldade com que foi tratado o
jornal.
No dia
seguinte, o Senador Franco Montoro, relator da "CPI do Terror",
me convidou para ir depor. Ele seria Governador de São Paulo, no ano seguinte
1982. Quatro dias depois eu estava depondo em Brasília. Falei durante 6 horas
respondendo a perguntas de Senadores e Deputados, com o plenário completamente
lotado.
Agora
rapidamente, um episódio que mostra o clima da capital nesse fim de ditadura.
Eu tinha marcado um hotel para dormir em Brasília, pois sabia que iria acabar
tarde. Quando falei isso, deputados e senadores responderam imediatamente:
"Você não vai dormir em Brasília de jeito algum". Me agarraram, me
jogaram dentro de um carro que foi seguido por uns 5 ou 6.
No
aeroporto, trataram da passagem, me atiraram dentro de um avião, e só foram
embora quando o avião decolou. Meus amigos parlamentares me disseram depois,
"se ficasse aqui, você não sobreviveria de jeito algum".
1º de
Maio de 1981. Sob o comando direto do General Otávio Medeiros, foi organizado,
perdão, tramado, um comício no Riocentro para dezenas de milhares de pessoas.
Era um anunciadíssimo show que podia ter se transformado num dos maiores
massacres da história brasileira. Esse era o objetivo do General Chefe do SNI,
que há anos se sentia preterido por não ter sido "presidente".
A catástrofe
frustrada pelo destino, frustrou também o movimento pela prorrogação da
ditadura. O próprio Otavio Medeiros, percebeu que a situação mudara
completamente, passou a espalhar a idéia de que houve um movimento contra o
exercito, "que não pode ser ofendido de maneira alguma, tem que ser
defendido exemplarmente, que é o que faremos".
Criou
então, no seu próprio gabinete, uma comissão de inquérito, segundo ele, para
responder com os fatos verdadeiros explicando "responderemos com fatos
para acalmar a revolta dos militares".
Imaginem
agora o que ele fez e que este repórter já contou na época na Tribuna impressa.
Reuniu 4 importantes coronéis do seu gabinete, trabalharam vários dias
praticamente dormindo no gabinete, e produziram um documento de mais de 100
páginas sobre o fato.
Junto com
esse documento, um sumário de 3 laudas assinado pelo Coronel Job Lorena de
Santana. Mas o que é que esse Coronel que não fazia parte do gabinete tinha
com o fato? Absurdamente surpreendente, mas rigorosamente verdadeiro: o Coronel
Job Lorena era negro e no dia seguinte da conclusão do relatório, foi chamado
pelo General Otavio Medeiros.
Entrou na
sala, o General disse pra ele, "não precisa nem sentar. O que vou lhe
dizer é muito rápido". Tirou da gaveta um volume enorme de documentos,
entregou ao Coronel, e acrescentou: "o senhor está sendo nomeado
Presidente da CPI do atentado do Riocentro. Não precisa se preocupar, nem mesmo
ler.
Nesses
documentos estão todos os fatos sobre o crime que praticaram e cuja culpa
querem colocar no Exercito do qual o senhor faz parte. “Esse relatório, o
senhor vai assinar com a responsabilidade de Coronel do Exercito".
Disse
então para o Coronel: "o senhor pode se retirar. Quero lembrá-lo que o
Exercito tem promoções em setembro e o senhor será promovido a General".
PS - Em
setembro aconteceu realmente, não esclareceram os fatos, mas o Exercito ganhou
um General negro.
PS2 - O
Coronel Job não podia recusar de jeito algum. Se o fizesse, seria humilhado,
enxovalhado, desprezado, passado logo para a reserva. Aceitando o inevitável,
ficou general por 1 ano, nada mais do que isso.
PS3 - O
General Otavio Medeiros, sabendo que estava ultrapassado e sem mais nenhuma
chance, em 1984 passou para a reserva, continuou em Brasília, isolado,
abandonado, num ostracismo terrível. Morava sozinho e só saia de casa para ir
ao supermercado. Ia a pé, andando pelas ruas sem ser reconhecido.
Origem e razões, para os atritos, embates e dizimação dos “crê-dores”.
ResponderExcluirAdendos, em: http://www.espada.eti.br/n1015.asp
http://www.espada.eti.br/ce1073.asp
http://www.espada.eti.br/onu.asp
http://www.espada.eti.br/fagan.asp
http://www.espada.eti.br/futuro-2.asp