No dia da DESINCOMPATIBILIZAÇÃO, Lula ficou aparentemente INCOMPATIBILIZADO

HELIO FERNANDES

A confusão é geral. (Machado de Assis). Começando pelo próprio PT, dividido em vários grupos, rigorosamente desarmonizados. A legenda foi sempre intransigentemente lulista, não faltou ou falhou no apoio a ele, por mais remotamente que fosse. E motivos não faltaram.

Desde 1989, quando se realizou a primeira eleição direta, depois dos terríveis 21 anos dos generais torturadores, o PT disputou todas as eleições presidenciais. As 3 primeiras (1989, 94, 98) com Lula, três derrotas seguidas. Política e eleitoralmente, motivos de sobra para mudar de candidato.

Mas alem da legenda não ter se renovado, a paixão por Lula era invencível e indivisível. Qualquer legenda dificilmente insistiria com o mesmo candidato. Mas o PT nem hesitou, eis Luiz Inácio Lula da Silva, candidato pela quarta vez e vencedor pela primeira, em 2002.

Ninguém, correligionários ou adversários, tinha a menor duvida sobre a reeleição de 2006. Estava no poder, e a analise era quase unânime: fizera um grande governo, inesquecível. Terminou o mandato com 81% de aprovação, inédito. Sua liderança era de tal ordem, alimentava uma arrogância ou idolatria por si mesmo, que tratou da própria  sucessão sem consultar, uma só pessoa dentro do partido.

Estarrecimento e espanto total quando indicou seu sucessor. Dona Dilma não estava na cogitação de ninguém, ela não era nem fundadora ou militante, apenas uma forasteira, que servia á ambição do próprio Lula, de voltar em  2014. Mas ela não deixou, apesar do partido se unir num movimento, que não por acaso, se intitulava, "Volta, Lula".

Cumprindo a condição eleitoral de "poste", dona Dilma ficou irremovível, utilizou o poder pra garantir a indicação para a reeleição de 2014. Com apoio de Lula, sem ele não se elegeria. Essa visível destruição, ele não queria assumir.

Mas o que aconteceu a partir de 2014, com ela ou  sem ela, com a conspiração parlamentar do vice corrupto e usurpador e ainda por cima incompetente, redundou em tudo o que está aí. E que não se tem a menor ideia de como terminará. 

PS- Duas realidades, por enquanto rigorosamente verdadeiras, não podem ser negadas.

PS2- Lula está preso, não se sabe até quando.

PS3- O PT se dividiu em vários  grupos. O menor e mais frágil, o que considera que devem esperar, até que decidam se Lula está inelegível.

PS4- Pela primeira vez, o grande líder, lamentavelmente, sente o quase abandono da legenda.

AMANHÂ, QUARTA, LULA PODE SER SOLTO

O ex-presidente perdeu por um placar inexpressivo e nada conclusivo (6 a 5), com votos de retaliação e não de convicção. Mas era um HC particular, não firma jurisprudência.

Na pauta de amanhã, está o julgamento de uma liminar, para que ninguém seja preso por condenação em segunda instancia, até que o STF decida definitivamente a questão.

O problema é a indecisão, a incoerência e a contradição do próprio STF. Está na pauta, faltam 24 horas, mas ninguém pode garantir que haverá julgamento. Se houver, e a  liminar for concedida, Lula será libertado imediatamente.

PS- Até que o STF anule sua própria determinação.

PS2- O que não será surpreendente, na maior e mais alta Corte do país, que totalmente dividida, só resolve  pelo placar de 6 a 5.

PS3- Que República!

O ROTEIRO DOS DEPUTADOS SEM CONVICÇÕES

O PT perdeu 12 deputados, mas ainda é o mais numeroso da Câmara. Embora a dúvida seja geral: ele não manterá essa vantagem.

Mas os critérios e as credenciais são os mais precários. Exemplo: o PP, que teve o maior número de acusados, no mensalão e na Lava- Jato, avançou na "conquista" de deputados. Ultrapassou o MDB e o PSDB, é agora a segunda maior bancada da Câmara.

Quem cresceu de verdade foi o DEM, de Rodrigo Maia. Tinha 21 deputados, tem agora 44. O que é  significativo, por causa  dos projetos dele para outubro.

PS- O PSL, que em 2014 elegeu 1 deputado e ninguém sabe o que é, passou para 7.

PS2- Só porque filiou Bolsonaro, que todos sabem o que é.

Frei Betto

De todos que falaram ou escreveram sobre a prisão do ex-presidente, ninguém chegou perto do Frei Betto. Em matéria de  sensibilidade, solidariedade, amizade, que demonstração.

Muito bem escrito, como sempre. E um titulo emocionante: "Minha segunda despedida do Lula"