Litígios
alimentam um judiciário inóspito (...)
“Números
oficiais coletados e divulgados pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ)
comprovam que o Brasil gasta mais de 3,6% do PIB anualmente apenas com o Poder
Judiciário, sem computar as demais carreiras jurídicas. É uma dos maiores
quocientes do mundo. É mais do que se gastou com educação nos últimos anos
(3.5%). Desse montante, 93% é gasto na folha de pagamento dos seus
funcionários”.
ROBERTO MONTEIRO PINHO
A
sociedade brasileira desde o tempo do império vem sendo incentivada a aumentar
a judicialização dos conflitos. Essa indústria de causas cresceu de tal forma
que hoje os tribunais não conseguem atender as demandas. No judiciário
trabalhista o congestionamento atingiu 73% (números do CNJ).
Na
área de Direito do Consumidor (Lei Nº 8.078/1990), o fator principal é o baixo
custo para ingressar com ações, aliado a grande possibilidade de sucesso,
especialmente nos Juizados Especiais (Lei n. 9.099/1995).
A
advocacia de massa que estimula o requerimento de indenizações por dano moral,
a propositura de ações judiciais em grandes quantidades sobre demandas
idênticas; e a freqüente ausência de uniformização jurisprudencial dos
tribunais superiores a respeito de matérias envolvendo conflitos entre o
consumidor e instituições financeiras, acompanhada da constante variação da
jurisprudência nos Tribunais Estaduais de todo o país, levaram ao
estrangulamento.
Ações
em massa
- Números oficiais coletados e divulgados pelo Conselho Nacional de Justiça
(CNJ) comprovam que o Brasil gasta mais de 3,6% do PIB anualmente apenas com o
Poder Judiciário, sem computar as demais carreiras jurídicas. É uma dos maiores
quocientes do mundo. É mais do que se gastou com educação nos últimos anos (3.5%).
Desse montante, 93% é gasto na folha de pagamento dos seus funcionários.
Mensalmente
é publicado no site do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) as 30
empresas que lideram o ranking de fornecedores de produtos e serviços mais
acionados nos Juizados Especial Cíveis (Jecs). De acordo com o TJRJ a Light
lidera o ranking com 5.515 ações, No mês de março um total de 34.620 ações
ingressou na justiça.
Em 2017 só o TJRJ recebeu um total de 1.641.458 novos
processos, (entre janeiro e novembro). Os Juizados Especiais Cíveis receberam
565.552 ações. Segundo declaração do ministro do TST. Estatísticas divulgadas pelo Tribunal Superior do Trabalho
mostram que os órgãos de primeira e segunda instância receberam 2.995.979 novas
demandas judiciais em 2016. Um
aumento de quase 13% em relação a 2015, ano que já havia recebido 2,66 milhões
de novos casos em comparação com 2014. Os mais processados são os cinco
principais bancos do país: Banco do Brasil, Bradesco, Caixa, Itaú/Unibanco e
Santander. Juntos, eles acumulam 130 mil processos.
Reforma inibiu demandas - Em uma entrevista
para o Estadão, o ministro Ives Gandra destacou que “sempre que o trabalhador
vai à justiça, ele ganha algo. É isso que os escritórios pregam que é possível
ter vitórias mesmo que parcialmente. Esses advogados ficam com 20% a 30% do
valor recebido nas ações e, com isso, constroem o nome na área”.
A
declaração causou indignação para os advogados, e suscitou reclamações corporativistas
dos juízes. Na expectativa de que no ano de 2017 o aumento no número de
processos superasse 2016, o novo recorde não se concretizou, por conta da
reforma trabalhista, que entrou em vigor em outubro e freou as demandas.
Brasil lidera o ranking mundial - A reforma
trabalhista teve forte impacto nas bancas trabalhistas, inibiu as ações
denominadas “de risco”. Segundo análise do setor, o crescimento poderá se
mantiver estável ano a ano, mesmo assim faz o país se isolar como líder mundial
em ações trabalhistas.
Os EUA ocupam o segundo lugar no
ranking, seguidos de perto pela França. Enquanto no Brasil são quase 3 milhões
de processos, os norte-americanos registram cerca de 75 mil novos casos ao ano
e os franceses, 70 mil. Para os analistas a situação causa prejuízos que vão
desde os estruturais, como o custo de manutenção de um ramo da Justiça de
imensas proporções, à falta de atratividade para investidores estrangeiros, que
vêem com desconfiança a viabilidade da instalação de seus negócios no país.
Sobre a questão o ministro Luís Roberto Barroso, do STF, ao abrir os
trabalhos numa sessão, comentou que o Brasil (com 3% da população mundial),
sozinho, é responsável por 98% dos processos trabalhistas em todo o planeta.
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