Natal às avessas
08.12.15
FERNANDO CAMARA
A presidente Dilma sentiu o golpe. Curvada e combalida, não consegue
disfarçar seu abatimento. Manter a discussão do Impeachment como sendo algo
pessoal entre Dilma e Cunha foi a estratégia adotada pelo Planalto. Haja visto
que ela repete invariavelmente não ter conta na Suíça.
Eduardo Cunha jogou como pôde para obter o apoio do PT. Não conseguiu.
Pareceu ser represália, o acolhimento o Pedido de Impeachment apresentado
e formulado pelos juristas Hélio Bicudo, Miguel Relae Júnior e Janaina
Paschoal, mas Cunha não tinha outra opção, assim fez valer a autoridade do
presidente da Câmara.
Por causa do sentimento de vingança que paira em relação ao acolhimento
do pedido, o material bélico da presidente foi estrategicamente direcionado ao
presidente da Câmara e não ao fundador do PT, Hélio Bicudo. Ocorre que, aos
poucos, essa estratégia do governo se esvai. Considero que o assunto dos crimes
em que Cunha é acusado já pertencem à esfera de decisão do Superior Tribunal
Federal e do Conselho de Ética da Câmara.
Cunha havia dito aos parlamentares da Frente Parlamentar da Agropecuária
que até o dia 10 de dezembro responderia sobre a admissibilidade do
pedido; enquanto presidente da Câmara poderia adiar a decisão por mais duas
semanas, e considerando a preocupação do Governo em antecipar os debates, ele
acabou por ajudar os governistas.
Comissão Especial do Impeachment
Numa análise prévia superficial, vejo uma situação dura para o Governo,
e uma situação duríssima para o Líder do PMDB. Não ficarei surpreso se a
família Picciani passar a frequentar as páginas de denúncias dos jornais. É
nessa formação a primeira batalha entre o governo e o presidente da Câmara,
Eduardo Cunha, que busca influir nas indicações não só do PMDB como também de
outros partidos.
A escolha dos integrantes da Comissão Especial é de suma importância
para todos os atores desse processo, porque é ali que o governo tentará matar o
impeachment. Qual será o ritmo do processo, qual será a agenda de trabalho da
Comissão serão as novas preocupações dos parlamentares e da vida política do
País, tendo Eduardo Cunha fora da Comissão Especial, mas disputando espaços com
Dilma.
E alerto, pois tal agenda irá influir na vida econômica da Nação, e
poderá surpreender a todos, como surpreendeu a alta das ações na BOVESPA e a
queda do dólar, no dia do anuncio da admissibilidade do pedido de abertura do
processo de impeachment.
A batalha da discussão do impeachment apenas começou,
as “ruas” já estão em estado latente e haverá divisões e discussões dentro de
muitos lares. A oposição avalia, quer ganhar tempo para sensibilizar a Nação,
pois calcula que, no ano que vem, a crise econômica estará mais aguda. Querem
tempo para poder explicar e mobilizar.
Governo quer liquidar agora, pois tendo em mãos 31 ministérios, centenas
de empresas estatais, sabe que pode enquadrar os 171 votos necessários para
enterrar o impeachment, enquanto o fator RUAS não se manifesta. No entanto,
Dilma não dorme quando se lembra das “Vuvuzelas” dos servidores do Judiciário
que por apenas seis votos deixaram de completar os 257 necessários para obterem
o aumento salarial almejado. Derrotaram o Governo, mas não levaram.
Para tentar amortecer o impacto das ruas, Lula passará a semana em busca
dos movimentos sociais. Há quem diga que mobilizará o exército de Stédile.
Atenção!
OPEP destruirá a Venezuela e a Petrobras.
A OPEP aboliu o sistema de cotas de produção, assim irá enterrar a
Venezuela, deixará em dificuldades os pequenos produtores nos EUA e levará à
falência o programa do Pré-Sal da Petrobras... os detalhes desta decisão serão
publicados no sítio da Bloomberg.
Não pode dormir
O País segue esperando e assistindo cair as expectativas de esperança em
viver uma década que não se torne totalmente perdida. Mas quem tira o sono de
Dilma e de Lula não é o Aécio e não é a Marina Silva. É Michel Temer que agora
se coloca no cenário como alternativa de Poder. Ele conhece o Congresso, e tem
um bom relacionamento com as elites. A organização e os cortejos em torno de
Temer aumentarão. Tucanos, trabalhistas, democratas já estão se aproximando e
os senadores já se movimentam nos bastidores.
O Gaúcho Eliseu Padilha
Dilma tinha um relacionamento ambíguo com o PMDB/RS. Era próxima do
Mendes Ribeiro e jamais gostou de Eliseu Padilha. Sempre estiveram em lados
opostos, até que Temer passou a exigir a sua presença. Eliseu conhece os
parlamentares, sabe das suas necessidades, onde eles desejam influir e nomear,
conhece o caminho dos cargos e das verbas.
Eliseu não pediu demissão por causa da concordância do presidente da
Câmara com o pedido de impeachment, saiu do Governo por causa de um desmando da
Casa Civil em retirar, 12 horas antes da sabatina na Comissão de Infraestrutura
do Senado, a indicação de seu assistente, o economista Juliano
Alcântara Noman, em favor de um indicado do senador Raimundo Lira PMDB/PB.
Nos bastidores a autorização de um HUB da TAM em uma capital
do Nordeste, assunto de interesse direto do senador Eunício Oliveira PMDB/CE.
Governo trabalhou contra a eleição do Cunha Cunha segurou desde fevereiro para
dizer em Rede Nacional: “A presidente Dilma mentiu! Ela mentiu!”
Repetiu várias vezes com ênfase. E ao se despedir dos jornalistas
afirmou:
“Eu vou presıdır todo este processo”. É o que ele mais deseja, embora
muitos parlamentares estejam forçando a saída dele do cargo. Amanhã, a depender
do andar da carruagem no Conselho de Ética, o futuro de Cunha ficará mais
claro. Há quem diga que ele apenas tomou a decisão do impeachment porque foi
informado que o procurador-geral Rodrigo Janot se preparava para pedir o
afastamento da Presidência da Câmara, em função das denúncias de chantagem.
Jaques Wagner Contaminado
O governo em crise, a presıdente sem saber se relacionar acaba por
contaminar a equipe. Foi onde Jaques Wagner foi parar. Contaminado. Eduardo
Cunha dá sinais de que tem a gravação de uma conversa com Wagner, e que a
soltará em momento oportuno. Fatos para os próximos capítulos de uma novela
cujo roteiro parece mais um enredo de escola de samba. O líder do PSC, André
Moura, que esteve com Wagner, fez questão de desmentir veementemente qualquer
gravação.
Muitos estavam, e ainda estão, aguardando atitudes de conciliação,
e não um ambiente de troca de acusações. Uma Dilma abatida, curvada e combalida
acertou seu refrão, que vai repetir á exaustão: “Não paira contra mim
nenhuma suspeita de desvio de dinheiro público. Não possuo conta no exterior,
nem ocultei do conhecimento público a existência de bens pessoais”.
Seguem Presos: Marcelo Odebrecht, André Esteves, Delcídio do Amaral, João Vaccari e José
Dirceu. E condenados mais de uma dezena de figurões do empresariado nacional,
todos envolvidos em malfeitos contra o Patrimônio Público, com a ajuda de quem
deveria estar zelando. Instituições seguem firmes, mas ainda faltam delações a
serem homologadas, o que deixa a Lava jato como o imponderável de todo esse
processo.
ANATEL para a Nação
Ministro André Figueiredo foi à concorrida posse do advogado
Otávio Luiz Rodrigues Júnior como conselheiro da Agência Nacional das
Telecomunicações (Anatel). Em seu discurso, mineiramente disse que a ocasião
não é para se trabalhar para a Situação ou para a Oposição e sim para a Nação.
Lava Jato
STF ainda tem o que dizer, ou Delcídio é que tem?
Janot está muito quieto e a segurança da ministra Carmem Lucia foi
reforçada. Tempos difíceis pela proa.
A rede da legalidade
Inspirados na rede da legalidade criada em 61 em defesa da posse de João
Goulart, governadores e políticos se mobilizaram no último domingo para
apesentar o impeachment como um golpe contra a Constituição. Em São Luís (MA),
o governador Flávio Dino, do PCdoB, recebeu o ex-ministro Ciro Gomes, e o
presidente do PDT, Carlos Lupi saiu do governo Dilma por suspeitas de
irregularidades no Ministério do Trabalho.
Agora, grupo tenta mobilizar outros estados par uma reunião com Dilma
amanhã no Planalto.
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