A República
que não é a dos nossos sonhos, de 1889 a 2015.
17.12.15
HELIO FERNANDES
Jamais
conquistamos, conseguimos, usufruímos a republica. Durante 41 anos, dominaram os
mesmos políticos que dominam hoje, reproduzida por uma genética cruel e
amaldiçoada. De 1889 a 1930, os presidentes escolhiam seus sucessores sem voto,
sem urna, sem povo, sem consulta a ninguém. Num país de analfabetos, os
analfabetos não votavam. Num pais de miseráveis e pobretões, só os ricos tinham
direitos, mas nem eles votavam.
Esses 41
anos, chamados de "república velha", acabaram em 1930, começou então
o que os mesmos aproveitadores, intitularam de "república nova", uma
ditadura que durou 15 anos, também sem voto e pela primeira vez sem vice.
Vargas era um ditador sábio, tinha horror a esse segundo, fechou o Congresso,
mas deixou o Supremo aberto. Fazia o que ele queria ou mandava.
Hoje,
quarta, o Supremo se reúne, numa sessão longuíssima, tenho que esperar. Só que
depois do aparato policial assustador, políticos, principalmente do PMDB,
aguardam apavorados. Gostaria que a sessão fosse do TSE, não por desprezo ao
STF, e sim porque o Tribunal Eleitoral tem a solução direta e imediata.
Cassaria a chapa Dilma-Temer, Cunha já teria ido para o espaço, exatamente
igual a Renan, sobraria na linha constitucional sucessora, o presidente do
Supremo.
Como
aconteceu em l945. Assumiu o Ministro José Linhares, presidiu a eleição, passou
o cargo ao eleito, Dutra, que durante 8 anos garantiu Getulio no poder. Está
escrito, o general garante o civil no poder, mas o sucede obrigatoriamente. Os vices,
como Temer, querem o poder através de conspiração. A ilusão construída com a
carta, foi rasgada pela "busca e apreensão" de terça feira. Esperamos
a conclusão e opinião do Supremo. Enquanto isso, tratemos de outros assuntos, também
importantes.
Lula tenta se recuperar
Depois de
fazer media com outros ditadores da America do Sul e Central, defendendo
abertamente Maduro da Venezuela, mudou de lado. E foi duro com o antigo
parceiro. Primeiro: “O resultado da eleição foi um sinal muito importante para
a alternância do poder”. Maduro não entendeu nem respondeu, insistiu: "Maduro
precisa aprender, democracia é assim mesmo, não é eternidade". A alternância
de Lula, imprudência ou incompetência?
Liberdade para Lassange
O
fundador do revolucionário Weeklik, está há 3 anos asilado num quarto da
embaixada do Equador em Londres. Não pode sair, seria preso e entregue á Suécia,
onde existe uma suposta acusação contra ele. Agora, o governo da Suécia pediu
autorização ao do Equador para Procuradores conversarem com ele.
Vão.
Como a opinião publica do mundo, está contra a Suécia, à conclusão não se
parece com especulação, e sim constatação. Por que a súbita vontade de
encontrar e conversar com ele?
Renan coloca Temer no seu devido lugar
Ontem á
tarde, antes da sessão do Supremo, o presidente do Senado deu entrevista, única
e exclusivamente sobre o PMDB. Estou á vontade, pois antes mesmo da carta
vazia, eu já revelava a conspiração do vice, e sua vontade de obter uma promoção,
chegar a presidente sem voto.
Aliás,
toda a sua carreira foi feita assim. Três vezes deputado sem se eleger, ficando
como suplente. Na primeira eleição depois da ditadura, o PMDB em São Paulo
elegeu 28 deputados. Temer foi o numero 30, assumiu logo, colocavam isso na
conta do seu comportamento aristocrático.
Vou
numerar o que Renan falou, ficará mais fácil. 1-Como presidente do partido,
Temer é o responsável por tudo 2- Nunca vi um presidente de partido, proibir a filiação
de deputados. 3- Toda a crise interna do PMDB é obra de Temer. 4-Já disse e vou
repetir: a carta que ele mandou para a presidente, é um
desabafo pessoal, o PMDB não tem nada a ver com isso.
O
presidente do Senado acaba de soterrar a conspiração do vice. Se o Supremo ainda,
hoje (quarta) determinar que o voto tenha que ser aberto, a votação anterior,
será totalmente modificada. O próprio Temer votará contra o impeachment. Fazer
o que?
O rito do impeachment no Supremo
Chegamos finalmente ao único fato do dia, com a
palavra do relator, Ministro Fachin. Como falou por quase 2 horas, ele mesmo
fez a proposta de não começar e terminar hoje (quarta) a votação dos outros 10
Ministros. Ficaria, como ficou, para quinta (hoje) ou amanhã, (sexta) ultimo
dia antes do recesso.
O voto do Ministro é profundo, minucioso, erudito, mas
altamente polemico e até contraditório. Ele mesmo mudou de convicção na
importantíssima questão, se deveria ser voto aberto ou secreto. Na semana
passada, apressado, anulou ou paralisou tudo, determinou que o voto deveria ser
aberto. Agora, restabelece o voto secreto, uma excrescência, que provocará
enormes debates.
Pontos que não sofriam e nem sofreriam contestação,
irão dividir o plenário. O artigo 86 que é claríssimo, foi praticamente
inutilizado. Por ele, o presidente deixaria o cargo caso o plenário da Câmara
conseguisse dois terços, 342 votos. Agora, se o voto de Fachin for aprovado
(não será), o presidente só deixará o cargo, depois de começado o julgamento. O
relator pode perder por ampla margem de votos.
Outro ponto que não sofria duvida ou contestação,
agora colocada. A abertura do processo autorizada pela Câmara, com
o numero de votos necessários, pode ser anulada pelo Senado.Não pode. O Senado
pode condenar ou absolver o presidente e mais nada.
Pelo visto, o grande julgamento do voto do relator,
começa hoje, quinta. Os Ministros aceitaram o adiamento com tanta satisfação, que fica visível a vontade da
contestação, que é democrática.
Democrática também, a
afirmação do relator: "A parcialidade do presidente da Câmara não contamina
o processo". Pode ser genérica e não especifica ou circunstancial.
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