Titular: Helio Fernandes

sexta-feira, 21 de agosto de 2015


HELIO FERNANDES  
publicada em 29.04.15

O monstro que perdeu a conta de quantos torturou e assassinou, “sem arrependimento” (textual, nasceu em 1937, quando se instalava a terrível ditadura do “Estado Novo”). É possível que sua vida e sua carreira tenham sido influenciadas pelos fluídos da arbitrariedade.

Em 1960, com 22 anos entrava na ativa como segundo tenente, 1965 era promovido mas ainda não se destacava nem se iluminava pela crueldade. Começou a ser notado quando a violência e a crueldade atingiam o auge, no período mais torpe e mais sangrento da ditadura. Governo Médici.

Foi então requisitado para missões de maior barbaridade, a ponto de ter certa intimidade com o “presidente”. Isso era e é raro no Exército, um capitão se manter perto de um general.

O que acontece nas ditaduras cruéis, todas são, os generais que acreditam não se mancharem de sangue, afagavam oficiais de patentes muito mais inferiores. Que não se incomodavam com o sangue que derramavam, fosse de quem fosse. 

1969-1974, tempos de Médici e Malhães 

Promovido a major ainda com Médici. Em 1977, já com Geisel, completou 40 anos e foi “passado para a reserva”, sem sequer ser consultado. Ganhou uma promoção, a tenente-coronel, e o ostracismo completo, total e absoluto. Que ele mesmo manteve por 37 anos, até este 2014, quando fez o depoimento na Comissão da Verdade.

Essa confissão retardada, pode ter muitas explicações. Vingança e ressentimento pela forma como foi tratado. Espera até que atingisse a idade da impunidade. A demora da instalação da Comissão que deveria ter começado a partir de 1979. 

A ditadura ainda comanda, não temos uma data para festejar 

Em 1979 os generais comemoravam a anistia dada a eles mesmos. Comandaram a transição, no 1º de maio de 1981, tentaram a “prorrogação do regime de exceção”. Com mais um general, que seria o Chefe do SNI, Otávio Medeiros. Não deu certo, mas ninguém foi condenado. Quase todos os generais haviam morrido.

Malhães iria fazer outros depoimentos, acabou. Intimidaram também capitães ou majores da reserva, que estariam dispostos a seguir Malhães. Agora sabem que se depuserem na Comissão da Verdade, acabarão como ele, rapidamente num cemitério qualquer.

No sábado, Portugal em festa. 40 anos da Revolução dos Cravos. Eu estava lá, vi de perto a alegria do povo. E nós? Não temos nada para comemorar, não nos deixaram nem mesmo uma data. O que sobrou da ditadura, está vigilante, cuida do seu espólio de horror. 

Queima de arquivo, nenhuma novidade 

Vem de longe. O delegado Fleury matou tanto quanto Malhães e outros. Sabia muito mais do que devia e não merecia confiança. Um dia, “por acaso”, bateu com a cabeça na quilha de um iate, “morreu afogado”. Ele, que jovem, ganhou prêmios de natação. 

Molina Dias, “queimado” no Rio Grande do Sul 

Todos conheciam seu passado. Quando o SNI “decidiu” que a ditadura não podia acabar e perpetraram o 1º de maio no Riocentro, ele chefiava o Doi-Codi da Barão de Mesquita.

Como Malhães, Molina também participou da missão de esconder o corpo de Rubens Paiva. Foi morto por militares. Não prestou depoimento, mas tinham medo que o fizesse. 

Inacreditável: o monstro Malhães teve três mulheres 

A humanidade é mesmo indecifrável. Esse assassino agora silenciado pelos que tinham medo de suas confissões, teve três mulheres. Duas ex- e uma atual. Não tinham medo ou dormiam de olhos abertos? Como aqueles personagens do faroeste da formação americana?

Como ele começou a assassinar desde muito moço, “sem arrependimento”, eram corajosas. Não é possível que não soubessem de nada. Todas elas? Dizem que chegava em casa, a mulher perguntava, “como foi seu dia”, dizia simplesmente, “matei de tanto trabalhar”, e ia dormir. 

Não precisa muita investigação 

Não é necessário procurar muito. A morte dele foi “encontro de contas”. O esforço é ótimo por causa dos dois computadores, que devem “esconder” coisas interessantes. E descobrir os três executores, talvez se chegue a conclusões interessantes. 
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