HELIO FERNANDES
Publicada em
04.06.14
ÚLTIMA PARTE
Herzog foi assassinado pelos insensatos
Preso na TV-Cultura, não era para ser morto. Mas seus prisioneiros
obedeciam ordens do poderoso general Eduardo D’Avila Mello, comandante do II
Exército. Já fora advertido pelo general Geisel, “não quero violência contra
ninguém”.
Quatro Estrelas, comandante do II Exército (que englobava São Paulo),
suas ordens foram as mais específicas e minuciosas possíveis. Acreditava que
nada iria lhe acontecer. Mas aconteceu.
Quando soube da morte (assassinato) do jornalista, Ernesto Geisel mandou
preparar o avião, “vou para São Paulo”. Muitos queriam ir com ele, foi duro e
definitivo: “Vou sozinho”. Chegou em São Paulo mandou chamar o general Ednárdo,
disse imediatamente: “O senhor está demitido, vai chegar do Rio o novo
comandante do II Exército”.
O general Ednárdo não acreditou, nunca um general comandante do Exército
foi demitido dessa maneira. Ficou parado, perplexo, Geisel fulminou: “Pode se
retirar, o senhor não tem mais nada a fazer aqui”.
Confissão do general Cordeiro de Farias
Na minha casa, só ele e o grande criminalista Oscar Pedroso Horta,
Ministro da Justiça de Jânio, e talvez a única pessoa a saber da “renúncia”,
Cordeiro contou o seguinte. Foi interventor no Rio Grande do Sul, e depois
governador de Pernambuco, eleito pelo voto direto. Fez muitos amigos, de vários
setores.
Um dia recebeu telefonema do Recife. Um amigo advogado, contava que seu
filho de 21 anos estava preso no DOI-Codi, apavorado que fosse torturado. Ligou
logo para Orlando Geisel, pediu providências.
Relato integral de Cordeiro de Farias: “Ele me disse, vá lá na Barão de
Mesquita, mostre a identidade de general, chame o coronel, (foi dizendo os
nomes) diga que fala em meu nome, que em mandei soltar logo o estudante”.
Continuando: “Fui, não me deixaram nem passar da portaria, telefonei de
volta para o Ministro Geisel: Você não manda nada, não pude nem entrar, nem
procurar o coronel da tua confiança”.
O general-Ministro perguntou onde eu estava, mandou esperar. Chegou
fardado, foi demitindo todos que apareciam. O coronel encontrou o menino que
procurávamos, conseguiu retirá-lo.
E Cordeiro de Farias, ainda emocionado: “Não adiantava mais nada, ele já
fora torturado”. O coronel explicou que procuravam informações. E Pedroso
Horta, revoltado: “Que informações poderiam obter de um estudante de 21 anos?”.
Os personagens do “Pasquim”, presos, mas na Vila Militar
Quero terminar com este episódio que mostra a diferença do Exército dos
generais ambiciosos e torturadores e dos oficiais que repudiavam o golpe, quase
todos perseguidos e expulsos.
Os jornalistas do “Pasquim” ficaram num Batalhão de Paraquedistas. 60
dias de prisão. Mas o comandante, duas ou três vezes por semana, “pernoitava”
no quartel, jantava com alguns. Que diferença.
Por hoje acho o suficiente. Fui preso outras vezes, cassado,
sequestrado, desterrado, proibido de escrever, e mais e mais. Os fatos que
estão aqui, tiveram o repórter como personagem, observador e participante.
F I M
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