HELIO FERNANDES
publicada em 23.12.13
publicada em 23.12.13
Parte - I
Conversa interessantíssima, importante, pelo conteúdo, e que deixa bem claro, a razão dos comunistas serem mestres da clandestinidade. Durante vários períodos ficavam livres, apareciam. Logo, logo voltavam a serem procurados, desapareciam.
É a primeira vez que escrevo sobre o fato. Nem na Tribuna de papel nem no blog. Sabia que o grande jornalista e escritor Mario Magalhães fazia biografia elucidativa do líder comunista, não contei nada a ele. Não queria dar a impressão de que pretendia aparecer. Só falei com ele mês passado, quando a biografia já era sucesso de critica e de bilheteria, com várias edições.
Meu relacionamento com Marighella
Conheci os 14 deputados comunistas e mais o Senador Luiz Carlos Prestes, na Constituinte de 1945. Que promulgou a tão esperada Constituição, em 18 de setembro de 1946. Mocíssimo, Secretario-adjunto da Revista O Cruzeiro, fui cobrir os trabalhos. (Ainda não existiam os editores. Foi o bravo jornalista Pompeu de Souza, que morou anos na Inglaterra e nos EUA, que trouxe a palavra. Implantada por ele na belíssima fase jornalística do Diário Carioca).
Como eu ia à constituinte durante 7 meses e 18 dias, e como era de uma revista importante, fiz amizades. Não era nem nunca fui comunista, mas minhas inclinações progressistas eram visíveis na convivência e no que escrevia. Daí as conversas com Grabois, José Maria Crispim, Lamarca, Jorge Amado, e lógico, Marighella, personagem de hoje.
Com Prestes conversei também varias vezes. O que não me impedia de ficar furioso, quando ele e Plínio Salgado sentavam juntos amigavelmente. E depois, os dois na tribuna, se agrediam (é a palavra) violentamente.
Separados Câmara e Senado, continuei freqüentando as duas casas, com os comunistas, até 1948. Nesse ano o partido (Partidão) teve o registro cassado. Prestes foi avisado pelo seu advogado na ditadura do “Estado Novo”, e para sempre seu amigo pessoal, o bravo Sobral Pinto. Todos foram embora, ninguém foi encontrado ou preso. Embora não tivessem fugido do Brasil.
“Marighella quer conversar com você, com urgência”
Um dia, antes do AI-5, mas com o endurecimento mais que visível nas ruas, e os prisioneiros sofrendo na carne a tortura impiedosa, tortura que era a base, a idolatria, filosofia e ideologia dos generais, me telefona um grande amigo, que não via ha tempos.
Excelente figura, líder comunista, morreu ha mais ou menos três anos, fui ao enterro. No telefonema não disse o que esta no titulo destas notas, era sabido, discreto e eficiente. Textual: “Helio, pode me encontrar ás 2 horas da tarde?”. Nem podia recusar, ele completou: “Então me encontre na Avenida Rio Branco esquina de Assembléia”.
Não disse mais nada, desligou. Nessa avenida, quando abre o sinal para os pedestres, passam uns 300 para um lado ou para o outro. Não olhou para lado algum, o sinal ficou verde, disse, “vamos”, tirou um papel do bolso, e no meio daquela confusão, me entregou sem uma palavra, era a lição maior da clandestinidade.
Li rapidamente fiquei surpreendido. Era um endereço no Cachamby, quase um sub-bairro do Meyer, onde nasci. Perguntou, “decorou?”. Como respondi afirmativamente, terminou: “O Marighella está te esperando às 2 da tarde, não toque a campainha ele sabe quando você chegar”. Esperou eu dar a indicação do lado para onde iria, seguiu logo no sentido contrario, sem um aperto de mão, realmente desnecessário. Só vi quando esmigalhou o papel, que já era pequeno, foi jogando pedaços nas lixeiras.
Continua amanhã – Parte II
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