A MORTE DO DITADOR
CASTELO BRANCO, DOCUMENTO HISTORICO QUE COMPLETA 48 ANOS – II.
HELIO FERNANDES
*publicada em 14.01.15
É tolice e mais do que isso, é má
fé evidente e declarada, pensar que um presidente da República pode se furtar
ao julgamento da História. Principalmente um homem que chegou à “presidência”
inesperadamente no bojo de uma revolução contra o Poder constitucional e
legalmente organizado.
E o julgamento da posteridade
começa antes da morte, não pode respeitar a morte, é mais importante que a própria
morte acontecimento irrevogável; o julgamento da História é uma realidade que
transcende a existência do homem público, é um processo que não pode ser detido
apenas porque a morte brincou ou abreviou o espetáculo. Pelo contrário, é a
morte que acelera o julgamento, que o isenta de suspeição, que purifica, pois o
morto já não pode mais influir sobre os juízes. Na vida pública, a posteridade
começa ontem e não amanhã.
Quaisquer que sejam as opiniões
sobre o “presidente” Castelo Branco (a minha inclusive) a verdade é que ele já
pertencia a História brasileira. São os subsídios de todos os seus
contemporâneos, de todos os que contracenaram com ele, de todos os que
participaram com ele, ao lado dele ou contra ele, durante os principais
acontecimentos destes anos, que vão formar o “dossiê” do seu julgamento.
Se durante três anos forneci a
esse “dossiê” as mais terríveis peças acusatórias contra a administração do
ex-“presidente”, porque haveria de retirar todas essas peças do processo
histórico pelo simples fatio dele ter morrido? Seria uma covardia que não
engrandeceria em nada o julgamento Histórico do ex-“presidente”.
Morto ou vivo, o ex-”presidente”
Castelo Branco pertence ao grande acervo da História, que há de absolvê-lo e
glorifica-lo ou condena-lo e desprezá-lo. Mas a História não é uma entidade
abstrata ou mitológica, que e nutre de simbolismos ou se alimenta de “verdades”
absorvidas através de bolas de cristal.
A História se forma, se
consolida, se alimenta de depoimentos. O meu é rigorosa e inequivocamente
contra o ex-“presidente”. E os que se acirraram contra mim, prestaram um
terrível desserviço à memória do ex-”presidente”, pois deram ao meu depoimento
uma força e uma repercussão que ele não tinha, e agora indiscutivelmente tem.
Quem é que pode dizer quando
nasce o herói ou o anti-herói: Quem pode precisar o momento em que aparece o
mito ou surge o anti-mito? Quantas vezes o herói desaparece tragado pelas
páginas da História e em seu lugar nasce o anti-herói: E quantas vezes uma
figura execrável e combatida em determinada época, transforma-se no curso da
História, acaba por ser glorificada e endeusada? E quando a glorificação se dá
depois da morte, então ai o julgamento é irreversível e indiscutível, porque se
realizou sem a menor participação do morto.
Os julgamentos que se processam
em vida, são precários e inseguros, pois quase sempre representam apenas
manifestação da hipocrisia ou de interesses pessoais, coisa que não acontece
com o sagrado julgamento da História.
NA
PRÓXIMA PUBLICAÇÃO. (III-Parte) (...)
Rooselvelt, ao acabar de morrer era violentamente condenado por jornalistas
norte-americanos...
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