Titular: Helio Fernandes

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

A MORTE DO DITADOR CASTELO BRANCO, DOCUMENTO HISTORICO QUE COMPLETA 48 ANOS – II.

HELIO FERNANDES
*publicada em 14.01.15

É tolice e mais do que isso, é má fé evidente e declarada, pensar que um presidente da República pode se furtar ao julgamento da História. Principalmente um homem que chegou à “presidência” inesperadamente no bojo de uma revolução contra o Poder constitucional e legalmente organizado.

E o julgamento da posteridade começa antes da morte, não pode respeitar a morte, é mais importante que a própria morte acontecimento irrevogável; o julgamento da História é uma realidade que transcende a existência do homem público, é um processo que não pode ser detido apenas porque a morte brincou ou abreviou o espetáculo. Pelo contrário, é a morte que acelera o julgamento, que o isenta de suspeição, que purifica, pois o morto já não pode mais influir sobre os juízes. Na vida pública, a posteridade começa ontem e não amanhã.

Quaisquer que sejam as opiniões sobre o “presidente” Castelo Branco (a minha inclusive) a verdade é que ele já pertencia a História brasileira. São os subsídios de todos os seus contemporâneos, de todos os que contracenaram com ele, de todos os que participaram com ele, ao lado dele ou contra ele, durante os principais acontecimentos destes anos, que vão formar o “dossiê” do seu julgamento.

Se durante três anos forneci a esse “dossiê” as mais terríveis peças acusatórias contra a administração do ex-“presidente”, porque haveria de retirar todas essas peças do processo histórico pelo simples fatio dele ter morrido? Seria uma covardia que não engrandeceria em nada o julgamento Histórico do ex-“presidente”.

Morto ou vivo, o ex-”presidente” Castelo Branco pertence ao grande acervo da História, que há de absolvê-lo e glorifica-lo ou condena-lo e desprezá-lo. Mas a História não é uma entidade abstrata ou mitológica, que e nutre de simbolismos ou se alimenta de “verdades” absorvidas através de bolas de cristal.

A História se forma, se consolida, se alimenta de depoimentos. O meu é rigorosa e inequivocamente contra o ex-“presidente”. E os que se acirraram contra mim, prestaram um terrível desserviço à memória do ex-”presidente”, pois deram ao meu depoimento uma força e uma repercussão que ele não tinha, e agora indiscutivelmente tem.

Quem é que pode dizer quando nasce o herói ou o anti-herói: Quem pode precisar o momento em que aparece o mito ou surge o anti-mito? Quantas vezes o herói desaparece tragado pelas páginas da História e em seu lugar nasce o anti-herói: E quantas vezes uma figura execrável e combatida em determinada época, transforma-se no curso da História, acaba por ser glorificada e endeusada? E quando a glorificação se dá depois da morte, então ai o julgamento é irreversível e indiscutível, porque se realizou sem a menor participação do morto.

Os julgamentos que se processam em vida, são precários e inseguros, pois quase sempre representam apenas manifestação da hipocrisia ou de interesses pessoais, coisa que não acontece com o sagrado julgamento da História.

NA PRÓXIMA PUBLICAÇÃO. (III-Parte) (...) Rooselvelt, ao acabar de morrer era violentamente condenado por jornalistas norte-americanos...
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