Um governo inerte num mar de crises
FERNANDO CAMARA
06.04.15
06.04.15
A semana política será curta, por causa da Semana Santa, mas
intensa graças à ineficiência do próprio governo para resolver as crises que se
acumulam a cada dia criando vários focos de tensão. O primeiro deles vem do
PMDB, onde a Câmara anseia pela mudança no Turismo, mas o Senado não se
conforma em perder o posto. A tendência, até a última sexta-feira, era Dilma nomear Henrique Eduardo Alves para o
Turismo, agradando assim a Câmara, e, ao mesmo tempo, transferir Vinícius Lages
para a Conab numa tentativa de compensar Renan Calheiros, que havia indicado
Lages para o cargo.
Essa divisão do PMDB interessa ao
governo, cansado de ver o Pas de deux entre Renan Calherios e Eduardo Cunha.
Mas, no médio prazo essa estratégia de dividir pode incomodar e mais uma vez,
será Dilma Rousseff a perder. Cunha e Calheiros até aqui têm valsado em
sintonia. Juntos, buscam isolar o governo e o PT. Foi assim com a dívida dos
estados e municípios, que comentaremos mais à frente. É assim também no que se
refere ao novo partido, o PL, criado na semana passada sob as bênçãos do
Planalto, algo que deixou o PMDB furioso e respingou ainda em outros partidos
da base e desaguou em mais uma crise.
O fato de Dilma vetar o projeto
de lei à impedindo que as fusões tenham o mesmo tratamento de novos partidos
(podendo levar deputados e detentores de mandatos eletivos sem problemas) e
fazer isso numa tarde depois que o PL havia sido criado de manhã, só fez
ampliar a desconfiança de que o Planalto age para acabar com o PMDB.
Para completar, Dilma ainda
tentou, com os vetos ao projeto, segurar aqueles que lhes fazem oposição. O
PTB, que planejava uma fusão com o DEM e com isso, arrastar alguns deputados
que hoje estão em partidos aliados ao governo. Essa fusão, há algum tempo
serviria ao governo, porque poderia levar alguns deputados do DEM para a base
governista. hoje, graças à baixa popularidade de Dilma, viria para fortalecer a
oposição. Outro crescimento nos adversários seria a fusão do PSB com o PPS.
Agora, diante dos vetos de Dilma ao projeto que pretende segurar a fusão do PL
com o PSD de Gilberto Kassab, a ordem nesses partidos é esperar que os
congressistas derrubem esses vetos em breve, algo previsto para depois da Páscoa.
PIB Bum!
Outra crise que o governo não consegue
conter e é grave de todas para Dilma e o PT , é econômica. Resultado do
PIB do 4º trimestre, 0,1% mostra a economia parada. Verificou-se o que já se
fazia sentir. Cadê Joaquim Levy? Tentou atropelar e está prestes a ser
atropelado pelo PT que faz coro por mudanças no ajuste fiscal. E nos últimos
dias, o ministro da Fazenda terminou criticando a presidente Dilma num evento
fechado. Disse que ela era genuína, ou seja, tinha boa vontade, embora não
fosse "efetiva", ou seja, custa a agir. O ministro não disse que nada
que todo mundo já saiba. Porém, vindo de viva-voz pelo ministro da Fazenda...
PT tenta sair da inércia
Depois de todos esses
acontecimentos, o PT nesta segunda-feira reúne seus comandantes com Lula em São
Paulo justamente para tentar encontrar um meio de fortalecer o governo. E na
terça, será a vez da CUT preparar um ato de apoio ao governo e de defesa da
Petrobras. O ato tem também o objetivo de reunir o maior número possível de
apoiadores ao governo para dar aos partidos um recado: Se alguém tentar
encurtar o mandato de Dilma haverá uma guerra.
Enquanto isso, no Congresso...
Relatório da Lei do Marco Legal da Biodiversidade
atenta contra a Soberania Nacional.
O senador Jorge Viana, relator
do PLC 02 na Comissão de Meio Ambiente, acolheu emenda onde considera que os
Povos Indígenas, em substituição do termo População da Floresta, devem receber
repartição (dinheiro) de benefícios por repassar conhecimento tradicional da
biodiversidade. Tal substituição de termos não é ingênua. Trocar Povos por
População, em uma situação clara em que as Populações Indígenas já possuem
território estabelecido por lei, caso venham ser considerados como um
Povo, poderão reivindicar a consolidação de Estados Indígenas Jorge Viana
manobrou por cima do novato senador José Medeiros e tomou para si, também, a
relatoria da Comissão de Constituição e Justiça, a mais importante do Senado.
Significa que se a sociedade deixar passar, os nossos netos poderão ver um mapa
do Brasil menor.
Sem segundo escalão, base também para.
Os partidos aliados começam a ficar
impacientes com a demora do governo em indicar os cargos de segundo escalão. Há
as agências reguladoras, que seguem adentro do segundo trimestre com vacância
em seus postos de comando e ainda a vaga aberta no STF, até hoje sem solução. e
até agora Dilma nomeou apenas o novo ministro da Educação, Renato Janine, e o
novo ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência da República que,
pela primeira vez, será alguém do partido do governo e não um profissional da
área de imprensa. Edinho Silva, ex-tesoureiro da campanha de Dilma, tomará
posse na terça-feira.
Óbvio Ululante > A Secretaria de Comunicação
O processo de mudança na secretaria é capítulo à
parte. Thomas Traumann, militante do PT do Poder, foi caindo... Caindo...
Caiu... Mas caiu atirando para dentro. Será um anúncio? Um presságio? Um ditado
milenar diz que: “Em casa em que irmão briga com irmão, não sobrará pedra sobre
pedra”. Edinho Silva, Petista de São Paulo, esperou ser indicado à
presidência da APO – Autoridade Pública Olímpica, mas segundo informações não
seria aprovado na sabatina do senado, assim foi poupado e seguiu trabalhando
como professor. Thomas pensou em ser o Todo Poderoso da Comunicação da
Petrobrás, mas o vazamento do documento interno que ele produziu para o governo
terminou por tirá-lo de cena.
O problema não é apenas... ( reticências)
Thomas caiu como todos os outros que não tinham
autonomia para empreender a política de comunicação do governo. Da mesma forma,
caem os ministros de Relações Institucionais. Dilma teve três primeiro mandato
e nada indica que será diferente no segundo. Não existe um canal de comunicação
entre o Planalto e o Congresso. Todas as ações de Dilma contra a crise não
geram efeitos, não há dinheiro para uma agenda positiva. Portanto, restam
apenas os cargos para levar a base a confiar no governo e, junto com eles, a
recuperação da economia, a ação mais urgente a empreender.
Dentro dessa negociação, vem ai o quesito dívidas
de Estados e Municípios. Projeto do ano passado, que até hoje não foi
regulamentado e que o Congresso pretende analisar esta semana, caso o ministro
Joaquim Levy não apresente uma solução.
Lava-Jato
A investigação que parece não ter fim faz a cada
semana novos prisioneiros. Segue desvendando e prendendo, e deixando o poder
cada vez mais apreensivo, em especial, os petistas. Ha quem diga que Joao
Vaccari Neto, agora denunciado, espera para breve um [pedido de prisão. A CPI
da Petrobras, que até aqui segue fazendo espuma, pretende ouvi-lo para
desgastar ainda mais o partido. Por outro lado, a CPI do SwissLeaks promete
seguir no sentido oposto, ou seja, dando trabalho aos paulistas aliados do
PSDB. E ainda há o escândalo que abalou a Receita Federal, uma fraude fiscal
que promete ser ainda maior que o Petrolão! Diante de tantos problemas, o
governo, realmente, terá dificuldades para reagir. Difícil encontrar um
brasileiro que deseje estar na pele de Dilma...
Nenhum comentário:
Postar um comentário