O ALTO CUSTO DE UMA JUSTIÇA QUE SERVE TÃO SOMENTE A
DOIS SENHORES: O ESTADO E SEUS ATORES
(...) Em suma a insegurança jurídica se perpetua no judiciário, em especial na justiça trabalhista, que afoga o cidadão no mar de descrédito deste jurisdicionado.
ROBERTO MONTEIRO PINHO
Escrevi no meu
livro, Justiça Trabalhista do Brasil, editado pela Topbooks: “que o judiciário
brasileiro serve a dois senhores, o estado e a seus atores”. O estado porque
litiga sem custo algum, e tem privilégios que nem mesmo o novo CPC conseguiu
extirpar, alem de que seus prazos são diferenciados e os pedidos de vista,
recebem critério benevolente de juízes que atendem desordenadamente ao seu
patrão, a República.
Por outro lado,
sua folha salarial consome 93% do total do seu orçamento anual para remunerar
mais de 1 milhão de serventuários públicos que se comportam num nível abaixo da
critica, onde desdenham os mais relevantes princípios de cortesia e atendimento
ao público. Este quadro é real, permanente e dificilmente terá fim, eis que se
trata de uma cultura milenar implantada pela nobreza que chegou ao Brasil para
impor seu ranço autoritário, aristocrata e escravagista.
Em
20 anos, possivelmente 50 milhões de processos estarão tramitando na JT.
Enquanto a reforma não decola, discutimos a terceirização que abrange
atualmente 11 milhões de trabalhadores, o trabalho temporário, 65 milhões de
informais, contra 43 milhões de formais e o trabalho escravo.
Por
outro nossa taxa é baixa em relação aos países que ocupam posições próximas do
ranking mundial, um quadro preocupante não só pelos números apontados, mas
também pela desconfortável expectativa de que tudo é cíclico, imutável, e de
que o país, embora não esteja em crise econômica, não pode se dar ao desprezo
de não ter a reforma trabalhista para ajustar seus equívocos e desmandos jurisdicionais.
Em suma a insegurança jurídica se perpetua no judiciário, em especial na
justiça trabalhista, que afoga o cidadão no mar de descrédito deste
jurisdicionado.
Falta ao principal ator da justiça, a visão linear da sociedade.
Calamandrei ensina que “não basta que os magistrados conheçam com perfeição as
leis tais como são escritas; seria necessário que conhecessem igualmente a
sociedade em que essas leis devem viver” (Eles, os juízes, vistos por um
advogado. São Paulo: Martins Fontes, 1995. p. 183).
O
fato é que a reforma a trabalhista tem sido um grande desafio para os governos.
A famigerada alteração do artigo 618 da CLT, para flexibilizar e cortar
direitos pretendidos pelo governo FHC resultou no seu arquivamento no Senado.
Modelos de trados trabalhistas internacionais apontam para a, “negociação”,
“manutenção do emprego”, e a “solução dos conflitos pela via extrajudicial”.
Técnicos e estudiosos do
tema defendem o chamado “flexiseguridad” uma ideia de insiders e outsiders (tema trabalhista, agora
defendido também no Brasil). A proposta vai responsabilizando
os primeiros que estão trabalhando em uma empresa e sua estabilidade no
emprego, pelo desemprego dos segundos. Vamos lembrar aqui, a política de
trabalho na Espanha onde a “flexiseguridad” tem seu duplo efeito abrangendo o
social e o trabalho, desonerando as empresas do déficit social, e que exporta
para o governo, a questão, por exemplo: de despedida
do empregado, onde o governo fica responsável pela proteção social dos
desempregados. Seria algo como o sistema do FGTS brasileiro, sustentado pelo
dinheiro público. Melhor assim, data vênia, do que emprestar para um: “Eike
Batista da vida”.
Pesquisa realizada em 2012 pela FGV em todo país, indicam que 76,3% dos
pernambucanos afirmaram que o Judiciário é nada ou pouco confiável na solução
de conflitos, seguidos por Brasília (67,8%), Salvador (66,2%), Rio de Janeiro
(64,2%), São Paulo (63,3%), Belo Horizonte (63,1%) e Porto Alegre (59,1%).
Na
linha conceitual da pesquisa, a coordenadora do índice, Luciana Gross Cunha,
professora de Direito da FGV, explicou que a avaliação está relacionada à maior
exposição na mídia de casos que põem em xeque a atuação de juízes no país, a
exemplo as recentes inspeções do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) nas Cortes.
A
questão da lentidão teve péssima avaliação pelos entrevistados, dentre as
capitais, São Paulo é a que indica que o judiciário resolve os conflitos de
forma lenta, com 96,3%, (acima da média nacional 94,5%), ou de qualquer cidade.
Com relação aos custos do judiciário, 77,9% dos entrevistados disseram que eles
são altos, ou muito altos (83,2%).
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