E a população bate panela
FERNANDO
CAMARA
10.03.15
A
semana começou com um tom que preocupa o governo: o som das panelas brasileiras
ecoando, justamente no momento em que Dilma Rousseff fazia seu pronunciamento
em homenagem ao Dia Internacional da Mulher. Em Brasília, São Paulo, Vila Velha
(ES), Belo Horizonte, Rio de Janeiro, os 15 minutos da fala presidencial e
misturaram ao barulho vindo das janelas e das buzinas dos carros, dando o tom
de uma crise econômica que chegou ao bolso do contribuinte. E servem ainda para
aumentar a balbúrdia na política que promete levar a ampla base governista à
derrocada.
Não
existe um canto na seara política e econômica que esteja respirando em paz.
Vamos por partes:
1.
Os
índices de emprego ainda se sustentam, mas, não se sabe até quando.
2.
As
agências de investimentos grade começam a rebaixar a nota da Petrobras e o
governo age para ver se consegue evitar que rebaixe a nota do país.
3.
A
grande Odebrecht, que já teve 300 mil funcionários, hoje emprega 70 mil.
4.
A
produção de carros caiu 30%.
5.
O
setor que ainda se sustenta é o agronegócio, onde o dólar em alta favorece as
exportações. São números que afetam diretamente a vida do cidadão.
Na
política, temporada de tormenta
A
lista de Rodrigo Janot soou como a queda de um meteorito em solo nacional. São
49 políticos investigados. A única surpresa... Maluf não esta na lista! Mas o
rol de enroscados é maior do que o do escândalo do Orçamento, que veio à tona
em 1993. E a investigação está apenas no começo e quanto tempo pode durar
ninguém sabe.
Diante
desse quadro, houve uma tentativa de conversa entre o governo e o tucanos, mas
a operação foi prontamente abortada porque o PSDB não parece disposto a salvar
o que, na avaliação do partido, não merece ser salvo.
Presidentes
atormentados
Os
próximos meses nos mostrarão o que pode ser salvo em todo esse processo e o que
está entrará em estado terminal. E nesse período, nada será calmo. Os dois
presidentes citados no processo, o da Câmara, Eduardo Cunha, e o do Senado,
Renan Calheiros, estão com a faca nos dentes, como costumam dizer os gaúchos. Quaisquer
atos políticos e legislativos que tomem contrários aos interesses do Governo
serão interpretados como reação a possível pressão do Planalto na elaboração da
lista de investigados.
Faltam
presidentes?
Ao
longo do fim de semana, Cunha deu uma série de entrevistas. O Correio
Braziliense menciona uma conversa dele com Michel Temer. No telefonema, o
presidente da Câmara avisou a Temer que iria “subir o tom” e “baixar o cacete”. Os peemedebistas consideram
que o governo operou para tirar Lula e Dilma de qualquer possibilidade de
investigação. Sustentam que o procurador escolheu quem estaria com a cabeça a
prêmio e quem seria preservado.
Dilma
foi citada, mas não será investigada. No entanto, as campanhas de 2010 e de
2014 certamente estarão no olho do furacão. Isso se soma à queda de
popularidade, que certamente levará a base governista a definhar.
PMDB
pronto para descer do barco
Todas
as manobras do governo para compor uma ampla maioria que prescindisse do PMDB
fracassaram ao longo dos últimos meses, inclusive a ideia do novo partido de
Gilberto Kassab, movimento que só serviu para deixar os peemedebistas mais
furiosos. Agora, o caldo dessas rusgas é apimentado e engrossado com a
avalanche de pedidos de inquéritos da Lava Jato. A tendência é seguir para o
afastamento do governo.
Várias
atitudes dão esses sinais: Alguns jornalistas e alguns colunistas alardearam a
atitude de Renan em devolver a MP 699 (aquela do fim das desonerações) como uma
revanche. Nem tanto. Uma MP com aquele conteúdo, com tantos impactos na
economia, deve ser democraticamente discutida com a sociedade.
A
mensagem de envio da MP 699 ao Congresso continua na página do Planalto, também
consta uma nota à imprensa informando que o Projeto de Lei que substitui a MP
foi assinado, no entanto no Congresso não há confirmação do recebimento.
Portanto, os efeitos desejados, monocraticamente, por Levy devem esperar por um amplo debate nas duas casas do
Congresso, onde certamente haverá forte atuação da sociedade.
CPI do MP
Não
é para surpresa se em breve for protocolada uma CPI para investigar as ações,
atitudes e a falta destas pelos membros do Ministério Público. Se lembra da
“Pasta Rosa” do senador ACM?
IR
Essa
semana, antes do projeto de lei e das outras MPs do ajuste fiscal, vem à pauta
o veto à correção de 6,5% na tabela do Imposto de Renda, proposta que será o
grande teste político do governo pós-divulgação da lista de Janot. A tendência
é a de que seja derrubado de forma a agradar a sociedade e mostrar a
fragilidade do Governo, que até aqui se recusa a mexer na coordenação política.
Núcleo
Duro de aturar
Pepe
Vargas é apresentado como um ex-ministro. Aloizio Mercadante continua no papel
de principal ministro político do governo. Ontem por sinal, os dois estiveram
no Alvorada para discutir a Lava Jato. Também participaram Miguel Rossetto e
José Eduardo Cardoso, o ministro que, no sábado, deu uma entrevista para
reforçar que Dilma não seria investigada não por causa do artigo 86 e sim
porque não há nada contra a presidente.
Desastrado
Todo
o esforço, porém, não ajudou a desanuviar o ambiente politico e essa semana não
promete ser diferente. O ministro da Educação, Cid Gomes, promete se manter no
modo “macaco numa loja de louças”. Ele estará no Congresso nesta quarta-feira,
chamado a explicar por que se referiu aos parlamentares como “300 a 400
achacadores”, algo que serviu para piorar ainda mais o clima entre Executivo e
Legislativo. Cid não irá em missão de paz.
Pelo
tom da entrevista de seu irmão, Ivo Gomes, ontem em Sobral (CE), o ministro vai
para citar pelo menos parte daqueles que considera “achacadores”. “Todo mundo
sabe que o Congresso Nacional está infestado de picaretas”, diz.
As ruas
Todo
esse clima promete levar as pessoas às ruas no próximo dia 15, quando está
convocado um protesto contra o governo, a corrupção e a crise econômica. Até
ontem à tarde, ninguém apostava muita coisa nessa mobilização, Depois do
panelaço de ontem, o vento virou.
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