COMPARAÇÃO DOS MANIFESTANTES, SEXTA E
DOMINGO. ESPERAVAM QUE A DE ONTEM FOSSE MAIOR, MAS NÃO DESSA FORMA MASSACRANTE.
HELIO FERNANDES
16.03.15
Prometi que
segunda-feira, trataria da questão do impeachment, quem se beneficiaria, o que
o país ganharia com isso. Mas diante dessa manifestação que movimentou
multidões, deixo o impeachment para depois, existe tempo.
O que não pode
esperar, é a comparação e a análise isenta, baseada em números, do que houve nos
dois dias de povo nas ruas. Nem pode se dizer “povo nas ruas”, sexta-feira, e a
participação incalculável de ontem.
Usei a palavra
incalculável, para dizer que todos os números citados aqui, são todos da PM,
especialista nisso. Inclusive os 58 mil de Brasília, maior do total de sexta e
no Brasil, e esse 1 milhão em SP, superando todos o que já aconteceu por lá. E ultrapassado
até a multidão da Candelária no Rio, na grande defesa das “Diretas já”.
Manifestações dos dois lados.
SEXTA-FEIRA.
Desastre
total em matéria de apoio. Catástrofe como organização, manifestação dirigida e
paga, incapacidade de levar o povo ás ruas. Irrefutável: a pauta era complicada
e contraditória, não entusiasma ninguém, muitos só esperando o dinheiro da
alimentação e do transporte. Recebiam bonés e camisas, nem vestiam.
Os que
estavam nos caminhões de som e “dirigiam” o espetáculo, falavam (mal e sem
vibração) para ninguém. A CUT não empolga mais ninguém, se consideraram
satisfeitos, “por levarem milhões ás ruas”, como disseram. Esses milhões, com
boa vontade não passam de 40 mil, somando os 24 estados e o Distrito federal.
Em São Paulo, confessaram “12 mil’, podem colocar 9 mil, avaliando
generosamente. No Rio não ultrapassam a previsão de mil participantes, ninguém
contesta quando a contagem para em 700 ou 800, no auge.
Lembro do
comício das ”Diretas, já”, combatido pelos maiores jornais e órgãos de
comunicação. 1 MILHÃO de pessoas, (eu estava no gigantesco palanque) começando
na Candelária e não terminando em lugar algum., a multidão não queria mesmo ir
embora.
A pauta era
incompreensível e inexplicável. Contra a corrupção, contra o governo mas a
favor de Dona Dilma, contra ela “na questão da redução dos direitos dos
trabalhadores”, contra o impeachment, que ela e parte do PT, impensadamente
colocaram nas manchetes. Nos palanques desabitados, ninguém destacado. Perdão,
na Bahia, discursava Jose Sergio Gabrieli, presidente da Petrobras, no maior
período da corrupção.
Que ele afirma, “não foi sistemica”. Mas nomeou e
protegeu Barusco, o homem de 97 milhões dólares.
Tendo que
explicar o momento, sem constrangimento, mostrando desprendimento, o porta-voz
do Planalto falou: “Agradecemos o apoio das ruas. Estamos satisfeitos que tenha acontecido
com tranquilidade. Como deve ser sempre. Todos têm direito a manifestações democráticas”.
DOMINGO.
A manifestação
oficial e a da reivindicação. De sexta e ontem, domingo, não dá para comparar
mas também não para deformar. A de sexta, desperdício. A de ontem, começa com a
enorme diferença de números desde a organização até a participação. Isso é uma
realidade visível, não dá para concluir com alguma irresponsabilidade ou
objetivos não democráticos.
A
concentração foi rigorosamente cívica, é a palavra. Quase todos de camisa verde
e amarela (não distribuída ou paga por ninguém), bandeiras brasileiras, donas
de casa, crianças, um espetáculo, que Dona Dilma, do Alvorada, assistia assombrada.
1 – Contra a corrupção. 2 – Contra o desemprego resultante do escândalo. 3 – A favor
da Lava-jato. 4 - Contra o corte dos direitos dos trabalhadores.
5- Contra a
inflação que atinge os que ganham menos, e insatisfeitos com a alta dos preços
da cesta básica. 6 – Nenhuma palavra sobre o impeachment, embora se ouvisse algumas
vozes com “fora. Dilma” ou “fora, PT”. Mas isso era minimissimo.
Vou citar
alguns números de cidades, não apenas nas capitais, como na sexta. Todos os
números divulgados pela Policia Militar, que no Brasil, historicamente sempre
faz essas avaliações. Mesmo sem panelas o panelaço que tanto assustou a
presidente, foi amplamente superado.
Tudo começou
bem cedo, atingiu o auge, 5 ou 6 horas depois começava a dispersão. No rio, á 9
horas, grande concentração, ás 11 horas mais de 25 mil pessoas. Belém, lá
longe, inesperados 21 mil, todos pela democracia e pela mudança na economia.
Belo Horizonte,
2 mil manifestantes, foram cidades como Uberlândia, Varginha e outras. Pernambuco,
16 mil das mais entusiasmadas e tranquilas. Brasília, fora do comum, foi a
grande estrela do protesto. Às 11,30 entre 25 e 30 mil pessoas, concentrados no gramado em frente ao Congresso. Mas segundo a própria PM, em outros pontos,
multidões caminhando, sem dar tempo para avaliação.
Brasília,
impressionante e politizada. Muitos gritavam, “nossa bandeira não é vermelha e
sim verde e amarela”. Ao meio dia e 40, a PM, voluntariamente retificava: “Agora
são entre 40 a 50 mil os participantes”. A capital, sozinha superava a
convocação e a concentração oficial, nos 24 estados e essa mesma Brasília.
Em São Paulo,
a concentração foi marcada para 14 horas, mas as 13, presenças enormes. Já ultrapassando
os 9 mil de sexta-feira. Pela circunstancia, informações visuais e em números da PM, mais tarde.
Mas os que já estavam, de camisas amarelas e sem bonés, e satisfeitissimas.
Expressivo:
em Ribeirão Preto, (do corrupto Palocci) 40 mil pessoas. 3 ou 4 vezes mais do total
da capital, sexta-feira. Dona Dilma perguntava “pelo Nordeste”, depois
englobava “Norte/Nordeste’. Todos majoritariamente contra o governo. Importante;
em todo Brasil. Nenhuma presença, citação, bandeira ou sigla de qualquer partido
ou político. Ausência voluntaria e determinada, para não ‘contaminar” a
manifestação.
Manaus de 18
a 28 mil, Fortaleza quase a mesma coisa, idem, idem, longe do fracasso de sexta-feira.
No Paraná, de
35 a 40 mil, (logo depois corrigido para 60 mil) mas a própria PM, informa: “Não
é um número conclusivo, existem participações esparsas e paralelas”. Para São
Paulo, o governo acreditava que podia chegar a 50 mil ou 60 mil pessoas.
Convocada para 2 horas, ás 3,15 o PM
assombrava de tão gigantesca; “580 mil pessoas participando”. A PM, que calcula
sempre para baixo, informava: “Esse número pode aumentar”. Mas já é o maior que
a concentração das “Diretas já”, em 1984.
Mas ás 3,40 a
PM vinha a público: “Pelo menos 1 milhão de pessoas estão nas ruas de São
Paulo, partindo da Avenida Paulista, em frente ao MASP e a Fierj”. Esses números
chamaram a atenção do mundo, e já estavam sendo anunciados e comentados nos
sites dos maiores órgãos de comunicação. Ninguém falou em impeachment, não
apareceu um líder de qualquer partido. Mas a partir de hoje surgirão obrigatoriamente
as consequências.
Toda a
tranquilidade, transparência e manifestação pacifica, desagradavam a alguém. E
ás 16 horas surgiu um grupo de 15 a 20 pessoas, que se intitulavam “carecas do
subúrbio”.
Com rojões que pretendiam jogar sobre multidões. A Polícia estava
atenta e ativa, foram presos, foi apenas um detalhe.
Gente ligada
ao governo começou a usar redes, dizendo: “Esse 1 milhão é de eleitor do Aécio”.
Perfeitamente compreensível. Mas por que o PT de Dilma, que tiveram votação
maior do que a de Aécio, só colocaram nas ruas, 9 mil (ou 12 , com eles eles
dizem) na sexta?
O Rio podia
ter ultrapassado muitos estados, se a manifestação tivesse acontecido num dia
de trabalho. No domingo, o centro do Rio é completamente abandonado, o mesmo
que acontece á noite. Motivo: ao contrário de Nova Iorque, Paris, Berlim,
Londres, aqui ninguém mora no centro.
A cidade que
já foi estado e Distrito Federal, tem tradição de grandes movimentos, Em 1945,
saindo de uma prisão de 10 anos, Prestes fez um comício no Estádio do Vasco com
capacidade para 35 mil pessoas.
Mas segundo a
Polícia Militar estavam presentes 150 mil, que se espalharam pelo próprio
gramado. E a população era de um terço de hoje. E em 1984, o 1 milhão da
Candelária.
Com o fim da
manifestação, aglomeração nos metrôs perto da Paulista, perfeitamente compreensível.
Como quase todos usaram esse tipo de transporte (carros não tinham como
circular) houve atropelo. 1 milhão de pessoas chegaram aos pouquinhos, queriam
ou precisavam ir embora em massa.
Dona Dilma
havia convocado uma reunião no Alvorada, “depois da manifestação”, ficou tão
perplexa que comunicou logo: “Hoje não falarei nada”. Nem surpreendente nem decisão
incorreta. Alem de todos os problemas que explodiram no segundo mandato mas cuja
origem é o primeiro, existem agora, interpretações sobre o que está acontecendo.
Isso levara muito tempo, ela terá que conjugar uma palavra, pela qual não tem
muito apreço: FAZER.
PS- Dona
Dilma derrotadíssima, no PT e nas ruas, O grande vencedor, pelo menos no
partido, contra Dona Dilma e seus conselheiros inúteis, foi o ex-Lula. Semana
passada, Lula esteve com a presidente: “Você tem que mudar o ministério, cuidar
da economia, da política e da administração”. Foi repelido agressivamente como é
o estilo dela. Tem que chama-lo e pedir desculpas.
PS2- Quando termino,
Dona Dilma tem no Alvorada,reunião inútil, e sem qualquer importância. Chegaram
três ministros. Miguel Rosseto, José Eduardo Cardoso e Aloizio Mercadante. Não
sabem o que farão, nem o que dirão. Se alguém falar, só poderá ser Miguel
Rosseto. Chegou agora e não está desmoralizado ou comprometido. Mas terão que
inventar alguma desnecessidade aceitável. Por eles, claro.
A maioria do
PT, que se considera “fora do governo”, cada vez mais reticente.
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