Titular: Helio Fernandes

sexta-feira, 27 de março de 2015

E AS MANIFESTAÇÕES ECOAM E O GOVERNO ENFRAQUECE
FERNANDO CAMARA
27.03.15
Integrantes do governo e o PT passaram dias se referindo ao panelaço do 8 de março como uma manifestação de elite, usaram inclusive a expressão panelaço “Le Creuset” e às manifestações do domingo seguinte como um ato de eleitores do PSDB. E quando o Planalto finalmente mudou o discurso, repetiu " ipsis litteris "o que havia dito em 2013. Ou seja, ficou tudo com cara de velho.
O Óbvio Ululante
Diante das interpretações petistas sobre as manifestações, tratadas por eles como "choro de derrotados", faltam o óbvio: reconhecer que o partido e sua candidata apresentaram um país na campanha e, passada a eleição, mostraram outro: O PT mais uma vez envolvido em mais um grande escândalo de corrupção, as tarifas de energia subindo, os preços nos postos de gasolina e nos supermercados seguindo no mesmo caminho e a inflação resistindo a todas as medidas governamentais. A resultante de tudo isso, especialmente, nesse momento em que a maioria apresenta o Imposto de Renda, foi gente na rua. É exatamente a parcela que paga impostos e não vê serviços públicos decentes. Essa leitura, simples, clara e objetiva, o PT não fez. Preferiu buscar cabelo no ovo da oposição. Manifestantes que não pagam impostos estão sendo aguardados os instantes posteriores as aprovações das medidas de Ajuste Fiscal.
Por falar em oposição
Os problemas do governo até aqui são frutos de obras de engenharia política mal sucedidas, criadas dentro do Palácio do Planalto. Foi a vontade de Dilma se livrar do PMDB e de grande parte dos velhos aliados que fez com que a presidente entregasse o Ministério da Educação a Cid Gomes e o da Cidades a Gilberto Kassab. Cid e Kassab teriam a missão de engordar seus partidos fazendo minguar as bancadas da turma mais antiga: PP-PR-PTB e PMDB. O que ela e Aloizio Mercadante não contavam era com a frustração de Cid Gomes dentro do governo. Sem recursos para tocar seus projetos. Cid passou, então, a cuidar da política no “modo Ciro Gomes”. Deu no que deu.
O ministro, naquela tarde de quarta-feira, queria sair do governo. Jogou para seu eleitorado. Sua presença na Câmara foi como se ele pegasse de uma granada e ao chegar na tribuna, tirasse o pino. Explodiu o ministro junto com a imagem do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, “Prefiro ser acusado por ele de mal de educado do que ser que nem ele, acusado de achaque”, “larguem o osso!!!”
Cid enfraqueceu ainda um pouco mais a presidente Dilma.
A ligação de Aloizio Mercadante a Cunha
O ministro avisou o presidente da Câmara da demissão de Cid Gomes enquanto o cearense ainda estava na tribuna, foi a maior prova de que Dilma está empenhada em agradar o PMDB. O ministro da Casa Civil com aquele gesto reconhece a importância do presidente da Câmara e faz uma opção preferencial pela aliança com o PMDB. O que será do PROS daqui para frente, devemos aguardar os próximos movimentos políticos.
 O PMDB, o fiel da balança
A presidente simplesmente não pode prescindir do PMDB. Ela tem hoje a maior reprovação de um presidente desde Fernando Collor. O desgaste no primeiro trimestre do primeiro   ano deste novo mandato. Foi constatado por todos os institutos de pesquisas e em todos os cantos do Brasil. Sem discurso para reagir, as vaias tornaram-se rotineiras. Lula furioso aconselha a presidente a dar boas notícias. Sem notícias boas, Dilma tenta ser simpática. Sumida desde janeiro, teve que aparecer e tentar seguir o conselho do seu guru. Deu entrevistas, foi ao Rio Grande do Sul, com escala de vaias em Curitiba. No Rio Grande, inaugurou o silo de armazenagem do assentamento Lanceiros Negros. No país da piada pronta, antigamente fazendas de assentados tinham nomes de Santos ou nomes bíblicos. Agora, o sugestivo Lanceiros Negros levou Dilma a ter que escutar por 25 minutos o Stedile a criticar os seus ministros e incitar o ódio à classe média. Depois, foi aplaudida. Dificilmente, presidentes em tempos de crise chegaram tão perto de discursos “odiológicos” num momento em que precisa de apoio, dentro e fora do Congresso, para empreender o ajuste fiscal.
Por falar em Congresso…
Joaquim Levy segue tentando convencer os partidos da necessidade de aprovar o ajuste fiscal. E faz esse serviço independentemente de Pepe Vargas e Cia. Os políticos respeitam Levy, mas não se conformam em votar um pacote fiscal que o PT critica. E enquanto o PT não abraça a política de Levy, a economia patina. Dólar R$ 3,30!
Essa semana, com as comissões especiais do ajuste começando a trabalhar será a chance de averiguar quais as perspectivas de o governo aprovar o ajuste fiscal.
CPI, cada vez mais perto do PT
O ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque sentado no banco da CPI constrangeu o PT, não negou nada, e só quebrou o silêncio para falar da esposa e do filho. Informações que Daniel Duque, funcionário da Tecnip, estava na Europa, não foram desmentidas. Aguarda-se João Vaccari Neto, o tesoureiro irá sentar no banco com o rosto vermelho, cor da estrela símbolo do PT.A briga em torno da convocação dele está marcada para esta terça-feira.
MP RJ x Petrobras & Odebrecht...
O ex-diretor da BR João Augusto Henrique que fez uma “delação” que “premiou” o jornalista Diego Escosteguy com duas capas da Revista Época no passado, voltará à cena. Naquela “delação”, uma conversa gravada pelo jornalista, o executivo se vangloriou de como trabalhou para arrancar dinheiro da Odebrecht, trabalhando para “orientar” uma licitação de mais de 800 milhões de dólares na Diretoria Internacional da Petrobras. Na semana passada, foi noticiado que o ex-diretor Jorge Zelada, intitulado pelo Sr. João como “o boneco”, teve 10 milhões de euros bloqueados no Principado de Mônaco. O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro ouviu, até agora, 14 funcionários da petroleira e aponta pelo indiciamento do ex-diretor e de seus 3 assessores diretos.
Clube militar
Enquanto as várias frentes de investigações da Lava-Jato vão confirmando o que a imprensa publicou ao longo dos últimos anos, o caldo anti-Dilma vai encorpando. No Clube Militar, centenas de insatisfeitos participaram do ato de lançamento da Campanha pela Moralidade Nacional. Ali, um palestrante, o empresário James Akel, fez as vezes de agitador: falou sobre política, caminhoneiros, haitianos que invadem o Brasil, novelas e outras situações que incomodam os cabeças prateadas. Foi aplaudidíssimo ao final.
Marco Legal da Biodiversidade
O texto que se encontra no senado é fruto de um ano de trabalho e discussão pelas entidades e órgãos governamentais envolvidos. É o que podemos classificar de texto possível. Senadores desinformados, e minorias violentas trabalham para rasgar a paz conquistada.
Código de Processo Civil:
A sanção terminou opaca por causa das declarações de Dilma sobre as manifestações e a crise política. Mas o novo texto avançou sobre situações delicadas do Direito Marítimo e deve ser lido por todos os interessados.
Medidas Provisórias
A semana promete intensificar os movimentos da equipe econômica e do governo como um todo em prol das medidas do ajuste, que serão discutidas no Congresso. Está prevista a ida do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, ao Congresso para falar do tema, da política macroeconômica e do binômio Câmbio-Juros, que preocupam a todos, com destaque para a classe média endividada e recorrendo ao cheque especial.
Fies
Este é outro tema que não deixará a pauta tão cedo. Como bem escreveu Elio Gáspari no fim de semana, o governo primeiro afrouxou as regras _ até quem tirava zero em redação tinha acesso ao financiamento __ e agora quer apertar. Obviamente, que estava acostumado à mamata, vai reclamar. Quanto à Educação, é bom prestar atenção no que tem a dizer o senador Cristovam Buarque: Estive com ele, investirá parte do seu tempo para transforma o quadro-negro numa peça de museu...
Para encerrar, lá vem a nova pesquisa CNT/ Sensus sobre a popularidade do governo. Hoje à tarde. Vamos aguardar, mas pelo que se tem notícia será mais um sinal de que as manifestações ainda ecoam e Dilma está cada vez enfraquecida.



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