UM
ANO DE TEMPESTADES
FERNANDO
CAMARA
25.02.15
Nunca
antes na história desse país um presidente da República começa um segundo
mandato com a popularidade tão baixa, a economia repleta de dificuldades e o
navio “base aliada” tão avariado. Esse triunvirato de problemas que vão mandar
nas atitudes presidenciais daqui para frente levam a presidente a tentar se
voltar ao único porto onde é possível recuperar parte do navio e recuperar a
capacidade de navegação: o povo que a elegeu.
Dilma
deverá, daqui para frente, viajar mais, visitar mais obras, agir como Lula em
2005, ano em que, abalroado pelo mensalão, ele foi às ruas buscar combustível.
Readquiriu velocidade, refez a base e, um ano depois, estava reeleito.
A
diferença entre Dilma e Lula é a de que o então presidente Luiz Inácio Lula da
Silva tinha a economia a seu favor. Dilma não tem essa vantagem. Portanto, vai
para a rua dizer o quê? Que está tudo bem quando seus eleitores vêem o preço da
gasolina subir, e com ele todo o resto? Difícil missão.
Se
não recuperar as ruas, Dilma terá problemas em tirar os problemas políticos de
cena. Primeiramente, os petistas e aliados do governo contam os dias para
abandonar o ministro Joaquim Levy. Os aliados anseiam por cargos de segundo
escalão que Dilma não deseja ceder. Para completar, a presidente “ouve” sempre
os mesmos, batizados informalmente de “sexteto 9h30”, pro causa do horário da
reunião: Aloizio Mercadante, Miguel Rossetto, Pepe Vargas, Ricardo Berzoini,
Jaques Wagner e José Eduardo Cardozo. Todos do PT. Ou seja, não tem visão de
fora.
Foi
desse grupo que partiu a primeira fala da presidente sobre o escândalo da
Petrobras este ano, onde ela tentou estabelecer 1996 como o marco zero da
corrupção na empresa, colocando a culpa da não-investigação no colo dos
tucanos. Poderia funcionar se o PT não estivesse no poder há 12 anos e dois
meses.
Dilma
se viu obrigada a sair da toca, em especial, depois que Cardozo ficou sob os
holofotes por causa do encontro com advogados. Errou em não ter sido claro logo
de saída. Se no primeiro dia tivesse respondido, não teria sofrido tanto
desgaste. A tendência, entretanto, é o assunto cair no esquecimento, como uma
típica “flor do recesso”, aquela que só aparece em tempos de pouca movimentação
em Brasília.
Petrobras
O
movimento na capital da República volta com tudo, com destaque para a Lava
Jato. Em todas as semanas, mesmo durante o Carnaval, volumosas movimentações
ilícitas foram denunciadas por autoridades. A metástase no HSBC Suíço mostra
que a contaminação irá alcançar outras instituições financeiras e revela a
fragilidade da fiscalização. E ainda deixa evidente que, enquanto o mensalão
era um escândalo “doméstico”, o Petrolão abala o Brasil aqui e no exterior. Vem
aí a divulgação dos políticos envolvidos para colocar mais lenha nessa
fogueira.
Paralelamente
às investigações em curso, vem a CPI da Câmara, de onde não se espera que saia
muita novidade em relação ao que vem sendo divulgado, fruto do trabalho do MPF,
PF e do juiz Sério Moro. Ali, entretanto, os políticos terão meios de acessar o
que já foi apurado pela Polícia Federal e a Justiça paranaense. A ideia do
presidente da Câmara, Eduardo Cunha, é entregar a relatoria ao PT (o nome
indicado é o do deputado Vicente Cândido) e deixar o PMDB com a presidência, a
ser ocupada pelo deputado Hugo Motta, de 25 anos. Assim, Cunha pretende buscar
uma relação mais cordial com os petistas depois do confronto eleitoral de 1 de
fevereiro.
Quanto
ao Senado, não houve número de assinaturas suficientes para instalação de uma
CPMI. A ausência de número se deveu ao PSB que, num aceno ao governo, decidiu
não dar fôlego à investigação no plano do Congresso. O cenário deve se alterar
ainda hoje, uma vez que o partido, no final de semana, decidiu apoiar a criação
da CPMI.
No
Congresso
A
opção pelo “não confronto” é mencionada todos os dias pelos peemedebistas. Na
Câmara o Líder do PMDB, Leonardo Picciani, repete que não é favorável à
discussão o Impeachment. No Senado, o PMDB, abre mão da prioridade de todas as
relatorias das MPs, e da Liderança do Governo... Assim o PT ficará com o Poder,
e com a responsabilidade de unir a Base para aprovar o que for do interesse do
Planalto e o PMDB ficará a vontade para pedir compensações.
No
PMDB da Câmara, entretanto, a situação não é pacífica. A disputa pela
Liderança, machucou a unidade da bancada, mas ainda não mostrou as feridas.
Aguarda-se os próximos movimentos e atitudes do Líder Picciani em direção da
reconstrução da bancada e a oportunidade para isso será a composição das
comissões permanentes a ser negociada esta semana.
Ao
mesmo tempo em que aguarda a Lava Jato, o PMDB se mostra disposto a demonstrar
um gesto de boa vontade em relação à economia. Hoje, à noite, a cúpula do
partido janta com o ministro Joaquim Levy. Quer detalhar as medidas que
chegarão ao Congresso. Pelo menos nesse quesito, parece que o partido está
disposto a ajudar a reparar as avarias no navio da base aliada.
Corrupção
Denúncias
seríssimas são expostas em todos os Estados todos os dias. Falta fiscalização
ou é “cultural”? Estes atentados a vida democrática trarão consequências...
Inoperância
Se o
Governo continuar a se omitir a greve dos caminhoneiros em 8 estados levará o
resultado econômico do país a patamares mais complicados. Esta manifestação
desta categoria de trabalhadores poder despertar atitudes violentas em
proporções inesperadas.
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