DE
1955 A 1965, 10 ANOS SEM FALAR COM JK.
HELIO FERNANDES
reprise
No final de
1980, Tancredo Neves fundou o PP. (Partido Popular), dizia: “não é nem de
oposição nem de situação”. Um domingo, Tancredo me chamou no apartamento da
Avenida Atlântica. Depois de quase 4 horas me convidou para candidato ao
senador. (Brizola já me convidará também, aceitei o convite de Tancredo).
Marcou
reunião para o maior salão do Congresso, diante de mais de 300 pessoas, afirmou
com aquele vozeirão; ‘Quero ver que é que agora vai dizer que o PP não é oposição
se temos o jornalista que é o maior oposicionista do país?”
Conheci JK na
Constituinte de 45, mocissimo cobri esse acontecimento importantíssimo. Muitos
deputados, senadores, alguns se transformaram em fontes preciosas. Com a
promulgação da Constituição, câmara e senado separados frequentava as duas
quase que diariamente.
Passei tempos
sem ver Juscelino, se elegeu governador de Minas em 1950, em 1954 se lançou
candidato a Presidente da República. Me procurou (por intermédio do jornalista
Horacio de Carvalho, dono do Diário Carioca) convidou o repórter para dirigir a
Comunicação da sua campanha. Falou: “Antes de você responder, tenho que
confessar. Não temos dinheiro para nada”.
Respondi que
assim aceitava com mais satisfação, quase 1 ano correndo o Brasil todo,
excelente. Foi eleito no dia 11 de novembro de 1955, dois golpes: um para
empossa-lo, fora eleito, outro para não dar posse a ele. Às duas da madrugada
já do dia 12, vitorioso, empossado Nereu Gomes como presidente até 3 de janeiro
de 1956, resolveu viajar como presidente eleito, diplomado e ainda não
empossado.
Me procurou,
disse: ”Helio vou viajar, não tenho nada que fazer aqui. Comigo só três
pessoas, estou convidando você”. Aceitei, claro. Viagens maravilhosas que
nenhum bilionário pode fazer.
Começamos a divergir logo que ele anunciou que
mudaria a capital, o ato e o fato mais catastrófico dos 50 anos. Não quis ser
nada no seu governo, passei a fazer a primeira coluna política do país, (antes
só existiam colunistas “socialites”), mudou tudo. E também participei de um
programa na TV-Rio, jornal e TV de oposição.
Fui censurado
brutalmente na televisão, junto com o Millor e o Carlos Lacerda. Decorrera 10
anos, em 1965 o ex-ministro e meu amigo, Renato Archer, telefonou: “Helio, o JK
quer conversar com você, marquei um almoço, está bem?”
Estava, Renato morava
num apartamento simpático no Flamengo, chegamos quase juntos, Juscelino sentou,
entrou logo no assunto: “Helio quero conversar com você, tenho que te pedir
desculpas e explicar pela censura que você sofreu no meu governo”.
Cortei
imediatamente: “Presidente não há nada a explicar, se passaram 10 anos, a
realidade é outra, estou tentando concretizar o “relacionamento” com todos,
pela democracia”. Não aceitou, confessou: “Os primeiros tempos do meu governo
foram terríveis. Eu vivia dentro de um avião, não sabia se dormia no Rio ou em
Brasília, que não saía do chão”.
Só muito mais
tarde soube que você, o Millor e o Lacerda estavam censurados. Podia ter tomado
providencias, mudado as coisas, vão te confessar com sinceridade: “é impossível
alguém governar com vocês três fazendo oposição na televisão”.
Parecia
aliviado. Enfrentou então momentos traumáticos. Cassado como senador de Goiás,
diariamente respondendo aqueles interrogatórios do coronel Ferdinando de
Carvalho, cassado pessoalmente, viajou para a Europa. Nunca mais nos vimos, fui
ao velório no apartamento da Sá Ferreira, foi rápido o corpo ia para Minas.
Ficou
bastante tempo na Europa, sofrendo por não poder voltar para o Brasil.
Conversou muito com a deputada Sandra Cavalcanti. Não por acaso, sabendo que
era grande amiga do repórter, confessou: “Não vou me pronunciar sobre a Frente
Ampla. Mas considero que é um dos movimentos mais importantes do nosso tempo”.
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