Titular: Helio Fernandes

terça-feira, 17 de julho de 2018


DE 1955 A 1965, 10 ANOS SEM FALAR COM JK.
HELIO FERNANDES
reprise
No final de 1980, Tancredo Neves fundou o PP. (Partido Popular), dizia: “não é nem de oposição nem de situação”. Um domingo, Tancredo me chamou no apartamento da Avenida Atlântica. Depois de quase 4 horas me convidou para candidato ao senador. (Brizola já me convidará também, aceitei o convite de Tancredo).

Marcou reunião para o maior salão do Congresso, diante de mais de 300 pessoas, afirmou com aquele vozeirão; ‘Quero ver que é que agora vai dizer que o PP não é oposição se temos o jornalista que é o maior oposicionista do país?”

Conheci JK na Constituinte de 45, mocissimo cobri esse acontecimento importantíssimo. Muitos deputados, senadores, alguns se transformaram em fontes preciosas. Com a promulgação da Constituição, câmara e senado separados frequentava as duas quase que diariamente.

Passei tempos sem ver Juscelino, se elegeu governador de Minas em 1950, em 1954 se lançou candidato a Presidente da República. Me procurou (por intermédio do jornalista Horacio de Carvalho, dono do Diário Carioca) convidou o repórter para dirigir a Comunicação da sua campanha. Falou: “Antes de você responder, tenho que confessar. Não temos dinheiro para nada”.

Respondi que assim aceitava com mais satisfação, quase 1 ano correndo o Brasil todo, excelente. Foi eleito no dia 11 de novembro de 1955, dois golpes: um para empossa-lo, fora eleito, outro para não dar posse a ele. Às duas da madrugada já do dia 12, vitorioso, empossado Nereu Gomes como presidente até 3 de janeiro de 1956, resolveu viajar como presidente eleito, diplomado e ainda não empossado.

Me procurou, disse: ”Helio vou viajar, não tenho nada que fazer aqui. Comigo só três pessoas, estou convidando você”. Aceitei, claro. Viagens maravilhosas que nenhum bilionário pode fazer. 

Começamos a divergir logo que ele anunciou que mudaria a capital, o ato e o fato mais catastrófico dos 50 anos. Não quis ser nada no seu governo, passei a fazer a primeira coluna política do país, (antes só existiam colunistas “socialites”), mudou tudo. E também participei de um programa na TV-Rio, jornal e TV de oposição.

Fui censurado brutalmente na televisão, junto com o Millor e o Carlos Lacerda. Decorrera 10 anos, em 1965 o ex-ministro e meu amigo, Renato Archer, telefonou: “Helio, o JK quer conversar com você, marquei um almoço, está bem?” 

Estava, Renato morava num apartamento simpático no Flamengo, chegamos quase juntos, Juscelino sentou, entrou logo no assunto: “Helio quero conversar com você, tenho que te pedir desculpas e explicar pela censura que você sofreu no meu governo”.

Cortei imediatamente: “Presidente não há nada a explicar, se passaram 10 anos, a realidade é outra, estou tentando concretizar o “relacionamento” com todos, pela democracia”. Não aceitou, confessou: “Os primeiros tempos do meu governo foram terríveis. Eu vivia dentro de um avião, não sabia se dormia no Rio ou em Brasília, que não saía do chão”.

Só muito mais tarde soube que você, o Millor e o Lacerda estavam censurados. Podia ter tomado providencias, mudado as coisas, vão te confessar com sinceridade: “é impossível alguém governar com vocês três fazendo oposição na televisão”.

Parecia aliviado. Enfrentou então momentos traumáticos. Cassado como senador de Goiás, diariamente respondendo aqueles interrogatórios do coronel Ferdinando de Carvalho, cassado pessoalmente, viajou para a Europa. Nunca mais nos vimos, fui ao velório no apartamento da Sá Ferreira, foi rápido o corpo ia para Minas.

Ficou bastante tempo na Europa, sofrendo por não poder voltar para o Brasil. Conversou muito com a deputada Sandra Cavalcanti. Não por acaso, sabendo que era grande amiga do repórter, confessou: “Não vou me pronunciar sobre a Frente Ampla. Mas considero que é um dos movimentos mais importantes do nosso tempo”.

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