A DESMORALIZAÇÃO DO SUPREMO
HELIO FERNANDES
Na
segunda feira, a presidente Carmen Lucia marcou duas reuniões sobre o assunto,
a prioridade ou superioridade entre o Supremo e o Senado. Pauta: o que fazer
com o corrupto senador Aécio Neves. Comentando a decisão da presidente,
coloquei no titulo: "O Supremo poderá se reabilitar?".
Agora,
depois da tormentosa, ruinosa e vergonhosa sessão da quarta feira,
obrigatoriamente tenho que colocar a frase que está lá em cima. È irrefutável,
indispensável, irrevogável. E vou aproveitar para examinar minuciosamente o que
aconteceu, terminando quase ás 23 horas.
Isso
porque Carmen Lucia apelou para serem rápidos, alguns atenderam. Foram 13 horas
que talvez entrem na historia pelo aspecto negativo. Dos 11 ministros,poucos
resistirão de forma
positiva.
E apesar do feriado "enforcado", continuava como assunto
inesgotável.
O SOLIDO VOTO DO RELATOR
A
primeira parte, de 9 ao meio dia, só Fachin e os advogados. Ele como relator de
um caso polêmico, inédito, extravagante, não podia ser limitado no tempo e na
palavra. Podemos dizer que 2 horas e15 minutos não foi exagero, construiu uma
bela consição.
Não
fossem os interesses pessoais, pré-estabelecidos, os seguintes poderiam votar
magistralmente assim: "Acompanho o relator". Ganhariam no conteúdo e
no continente.
Almoçaram
frugalmente, ás 2 em ponto de volta, com o advogado do PSDB, Alexandre Moraes,
na tribuna.Se fosse permitido, os ministros deixariam o plenário.Teriam se
livrado de 1 hora e 32 minutos de lugar comum e ainda por cima com o
resultado conhecido. Seu voto não poderia prejudicar o senador do amado e
compartilhado PSDB
BARROSO, ROSA WEBER, FUX
Foram os
3 seguintes. Luiz Roberto Barroso, sempre incisivo, sem arrogância e sem
falhas. Em apenas 37 minutos colocou tudo o que era necessário. Abrilhantou e
garantiu a imponência, a importância e a independência do
Supremo.
È sempre
um prazer ouvir Rosa Weber. Tendo feito brilhante carreira na Justiça Trabalhista,se
destaca como eclética. E não esqueço sua participação e seu voto bravo e
corajoso no TSE, na absolvição de Temer, engendrada e executada por Gilmar Mendes.
Terminou em 23 minutos, excelente.
Chegou a
vez de Luiz Fux, ninguém sabia, que encerraria a fase defensável do julgamento,
só retomada horas mais tarde pelo decano. Fux é outro remanescente do julgamento
ultrajante e degradante do TSE, da "absolvição" de Temer,
da farsa de Gilmar Mendes.
Foi o único
que votou praticamente de improviso. Raramente recorrendo ao texto escrito. O
que demonstra convicção. Usou 42 minutos. Podia ter sido mais rápido, precisava
silenciar a rapinagem intelectual do ministro do PSDB. 4 a 1, satisfação para
os que pretendiam e esperavam dignidade e credibilidade.
COMEÇA A FASE DEGRADANTE DO JULGAMENTO
Dias
Toffoli com a superficialidade de sempre, com a mediocridade habitual,
pretendendo dar aulas, num local em que pelo menos 6 poderiam ser seus
professores. Não se importou com o 4 a 1 contra. Tinha certeza de que ele,
Lewandowski e Gilmar, recuperariam o placar, levando-o para 4 a 4. Sem
nenhuma dúvida.
Começou o
festival de bobagens e ao mesmo tempo definindo seu caminho, com esta invenção
interpretação tola: "O papel do Supremo foi sempre o de manter o poder
moderador da Constituição". Como faz habitualmente, olha para todos os
lados, pretensiosamente esperando aplausos. Ninguém riu.
Depois do
relator, foi o primeiro e único a ultrapassar 1 hora,na verdade, 1 hora e 42,
desperdício total, completo e absoluto. Menos para o placar que ficou em 4 a
2.
Lewandowski
começou dizendo "serei breve, farei apenas algumas
considerações". Cumpriu rigorosamente, usou apenas 13 minutos, seu voto já
era conhecido, 4 a 3.
19 horas
em ponto, é Gilmar Mendes também anunciou, "farei abreviações no meu
voto", realmente não chegou a 40 minutos. Voto conhecido, o que
levou o placar para 4 a 4, provocando discussão de mais ou menos 30 minutos, com a pergunta: " 4 a 4
é empate?".
Parece
piada, é que muitos votos continham sub-definições. Resolvida a questão, votou
Marco Aurélio Mello, que como anunciara, repetiria o voto da Turma, a favor de
Aécio. Pela primeira vez ficava 5 a 4 contra o Supremo, faltavam votar o decano
e a presidente, eram 8 da noite.
CARMEN LUCIA ESTRAÇALHOU A PRÓPRIA BIOGRAFIA
Precisamente
as 8:20, Celso de Mello começou a votar. Expectativa total. O Supremo, na
segunda sessão, iniciada as 14 horas, já transcorridas 7 horas, estava na mais
completa ignorância em relação aos próprios votos. Nove deles, já livres. Mas
não tinham a menor idéia do que haviam decidido ou repelido.
Eu tinha
duas certezas. Marco Aurélio e Carmen Lucia, votariam da mesma forma anterior,
ratificando o poder do Supremo de tomar decisões a respeito de Parlamentares.
ACERTEI no voto de Celso de Mello. ERREI de forma inacreditável no voto da
Presidente Carmen Lucia. Celso de Mello falou durante 1 hora e 25 minutos, como
sempre, magistral.
Ele
alterna leitura com improvisação, com a mesma segurança e credibilidade, não
deixando o menor rastro ou indicação da finalização do seu voto. Só quando se
aproximava bastante do final, é que apareceria o grande decano do Supremo, com
um voto de grandeza, bravura, credibilidade, respeito e pela independência
total do Supremo. Com isso, 5 a 5, e como sempre, o último voto do Presidente,
Carmen Lucia.
Jamais
imaginei que Carmen Lucia, uma esperança mais do que visível e constatada,
fosse votar contra o Supremo, contra a credibilidade, contra a opinião pública,
e consumando tudo isso, contra ela mesma como está no título desta matéria e
que faço questão de repetir: CARMEN LUCIA ESTRAÇALHOU A PRÓPRIA BIOGRAFIA.
O mais
grave de tudo, foi assistir uma Carmen Lucia atrapalhada, transformando o seu
voto numa trapalhada. Ela não sabia o que estava dizendo, o que estava lendo, o
que estava transformando num voto vitorioso, num controverso julgamento, mas
que mesmo os mais pessimistas, acreditavam que o Supremo garantiria sua
independência por 7 a 4, ou no mínimo 6 a 5.
Aconteceu
esse tenebroso 6 a 5, mas com o Supremo se despojando da credibilidade, da
dignidade, da credibilidade e até da autoridade, por intermédio de sua própria
Presidente, tida e havida como esperança. Não só no plano interno do Supremo,
como no externo do próprio País. Carmen Lucia estava tão confusa, ia
desfolhando o voto de mais de 20 laudas, sem saber se lia ou jogava fora, as
duas coisas com o mesmo efeito negativo.
A
situação era tão lamentável, grotesca e até mesmo ridícula, que o decano,
caridosamente saiu em seu socorro. Ele, que votara a favor da respeitabilidade
do Supremo, demonstrou tal grandeza, que saiu em defesa de quem ia votar
exatamente ao contrario. Assim mesmo, Carmen Lucia levou mais de meia hora para
encontrar o caminho da ruína dela e do próprio Supremo, o que surpreendeu a
quase todos, especialmente a este repórter.
Finalmente,
já passava um pouco das 11 horas, quando as televisões, transmitindo o dia
todo, puderam informar o resultado. Não é o ponto final. Mas também não se sabe
se é o começo de uma derrocada ou da esperada recuperação.
PS:
Conclusão para as centenas de advogados com clientes no Supremo. O plenário
está votando diferente das Turmas. Na votação da primeira Turma, Aécio Neves
sofreu sanções por 3 a 2.
PS 2: Na
quarta feira, dos 3 que votaram contra Aécio, um mudou de voto, então ele ficou
com 3 votos dessa Turma. Da segunda Turma, os 3 que votaram a favor dele,
(Gilmar, Toffoli e Lewandowsky) confirmaram os votos, o que levou o placar para
6 a 5 a favor do Aécio.
PS 3: Na
semana passada, dois presos não muito importantes, entraram com HC contra a
Lava-Jato na segunda Turma. Aconteceu o seguinte, que os advogados tem que
levar em consideração. Sabendo que ia ficar 2 a 2, o Ministro Toffoli não
compareceu, ele que era voto certo pela liberdade. Com o empate e pela
tradição, os presos foram soltos. Derrotados, Fachin e Celso de Mello.
Quando dias antes houve a reunião entre a Carmem Lúcia e o Eunício Oliveira eu já sabia que ela iria votar contra. Elementar meu caro WATSON !!!...
ResponderExcluirPrezado Hélio Fernandes, fiz a postagem do meu comentário anterior ao seu, por isso o repito, com o intuito de cumprimenta-lo por mais um artigo brilhante e coerente com a sua biografia. Já a presidente do supremo ficou menor que era possível, sumiu e junto com ela pode sumir a justiça no Brasil, lamentável e PERIGOSO, estão levando o Pais para uma possível nova aventura obscurantista para salvarem a pele de meia dúzia de corruptos amplamente conhecidos. Parabém de novo pela sua coerência.
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Prezado jornalista Hélio Fernandes, acompanhei todo o transcorrer da votação de ontem no STF, mesmo sabendo, como todos ou a maioria, que era muito previsível um empate e que sobraria para a Presidente a decisão, e foi isso que aconteceu e para o espanto de quem estava acompanhando a Presidente se encarregou de criar uma confusão jamais imaginada ao proferir um voto confuso e sem pé nem cabeça, como é possível imaginar que após uma decisão do STF essa decisão tenha que ser submetida ao Plenário de uma das casas, dependendo de quem seja o acusado, para que essa casa refende ou não essa decisão....simplesmente um absurdo...inimaginável que uma decisão do supremo possa ser anulada pela Câmara ou pelo Senado. O STF perdeu a oportunidade de se engrandecer e ser de fato o Supremo, apequenou-se diante da ameaça vindo da outra casa e compôs uma decisão histriônica, ridícula, de submissão total ao outro poder. A desfaçatez foi tanta que até o decano, depois de ter proferido um voto perfeito, voltou atrás e compôs com a outra metade da casa para escreverem um voto vergonhoso e humilhante. Decisão judicial se cumpre não se discute, pode-se apelar para quem julgou e recorrer da decisão, simples assim, mas esses ministros, com M minúsculo mesmo fizeram uma justiça de mesa de botequim. Ao final da sessão todos manifestavam uma alegria incontido pelo resultado repugnante e escabroso que acabavam de produzir. VERGONHA é a palavra e deveriam todos se demitem de seus cargos se tivessem efetivamente vergonha na cara. Salvaram-se dessa vergonhosa submissão o ministro Relator e o ministro Barroso. Outros ministros que já sabiam da vergonhosa conduta deles mesmos, saíram ates do término da sessão, não se submeteram ao vexame final que eles patrocinaram, deixaram a pantomina para os que quiseram falsamente salvar suas biografias que acabou arranhada, quase destruída, ou destruída mesmo. Sinto vergonha e nojo como cidadão e me sinto impotente diante de tanta desfaçatez e falta geral de caráter até mesmo onde essa premissa deveria ser a regra. Aguardo seus comentários sobre o desastre que certamente não deixará passar essa vergonhosa decisão sem a sua brilhante análise.