Promessas e mentiras de uma justiça elitizada
(...) No fim de 2010, os processos em
fase de execução na Justiça do Trabalho apresentavam um índice de
"congestionamento" de 69%, o que equivalia a 2,6 milhões de processos
aguardando uma solução.
Roberto Monteiro
Pinho
Em 18 de novembro de 2011 foi realizado na cidade de Porto Alegre, o V
Encontro Nacional do Judiciário, na oportunidade, o então presidente do
Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e do Supremo Tribunal Federal (STF),
ministro Cezar Peluso, na presença de 90 presidentes de tribunais do país,
declarou: “As metas são para todos os ramos da Justiça”. Determinava a figura
maior do judiciário, que os tribunais tivessem que julgar uma quantidade maior
de processos de conhecimento em 2012 em relação ao número de ações que
ingressarem no mesmo ano.
No retrovisor do
ministro, em 2011, os tribunais julgaram, até setembro daquele ano, 74,4% dos
4,3 milhões de novos processos que entraram na Justiça até dezembro de 2005, ou
seja: exatamente quando decorridos seis anos. Um lote de processos contaminados
de nociva morosidade, (processos sem julgamento), e 60% dos já julgados sem solução.
Convém observar que
as duas principais Metas do CNJ (Meta 1 e Meta 2), que tratam do aumento da
produtividade restaram melancolicamente, desastrosamente, malogradas. Embora
tenha sido enfático, o ministro Peluso, lacônico, afirmou: “Com o cumprimento
da Meta 1 significa que os tribunais estarão julgando automaticamente mais
processos de anos anteriores a cada ano”. Não julgou, não está julgando e não
julgará, a conversa desceu pelo “talo” da incompetência da magistratura.
O judiciário promoveu
nos dias 5 e 6 de novembro de 2012, na cidade de Aracaju (SE), o VI Encontro
Nacional do Judiciário, reunindo presidentes de tribunais quando decidiram
reajustar algumas das metas estabelecidas para 2013, mantendo as metas gerais
integralmente, alterando duas metas específicas. Na oportunidade os magistrados
ouviram dos organizadores que o Judiciário
brasileiro precisava definir uma estratégia de comunicação profissionalizada e
institucional para garantir sua afirmação como Poder da República perante a
sociedade.
Para
o especialista em Direito Público e professor da Universidade Estadual do Rio
de Janeiro (UERJ), Gustavo Binenbojm, "a sociedade precisa ser capaz de
entender o funcionamento da Justiça, para que possa não só cobrar quando metas
não são cumpridas, como aplaudir quando os objetivos são alcançados". Nem
uma coisa nem outra. Decorridos dois anos, as ações se aproximam de um total de
100 milhões em tramitação na justiça e a distância entre esse grupo se
distanciou mais ainda.
O Poder público é o
maior cliente da JT, no primeiro grau e no TRT. O congestionamento é de mais de
60%, no ranking de litigantes do TST, dos 242.558 processos, de um total de
(244.571) que tramitam na corte, trazem como parte o poder público. A União
ocupa o primeiro lugar com 20,3 mil processos, enquanto a Caixa Econômica
Federal aparece em 12.996 processos, figurando em cerca de 8 mil processos no
polo passivo.
Por mais que procure
as razões que mergulharam a justiça especializada no caos que se encontra, não
conseguimos encontrar outra, a não ser que ao longo de décadas, acentuando a
partir do ano de 2001, os seus integrantes a lesionaram de tal forma que nem a
reforma trabalhista que está no “ostracismo” do Congresso, não poderá tira-la
do trauma administrativo que se constituiu. As razões são muitas, a julgar
pelas medidas e forma de condução do processo do trabalho, onde seus juízes
desdenham seu mecanismo pacífico-social, e adicionam ingredientes negativos nas
relações de trabalho.
Os números chamam
atenção dos investidores estrangeiros e chegam a pensar que é um erro de
tradução porque nenhum país tem um volume tão grande processos judicial. No fim
de 2010, os processos em fase de execução na Justiça do Trabalho apresentavam
um índice de "congestionamento" de 69%, o que equivalia a 2,6 milhões
de processos aguardando uma solução.
O fato é que os
juízes brasileiros tiveram menos processos sob sua responsabilidade em 2011,
mesmo assim o Relatório divulgado recentemente, pelo Conselho Nacional de
Justiça (CNJ) mostra que a carga de trabalho dos juízes foi em média de 4.594
processos, número 12% inferior ao de 2010. Eles julgaram 1.179 ações, o que
representou uma queda de 14,3%. Em 2011, quase 90 milhões de
processos tramitaram no Judiciário brasileiro, (lembrando) que um lote de 63
milhões já estava pendente desde o início do ano e 26 milhões eram casos
novos.
Para solucionar as
ações, a Justiça conta com 17 mil juízes e 366 mil servidores. Há uma média de
8,8 magistrados para cada grupo de 100 mil habitantes, o país possui 5.565
Comarcas, 90% com população inferior a 100 mil habitantes, isso equivale à
média de um juiz para cada grupo de 12,5 mil habitantes, mas a litigiosidade é
de praticamente 50% da população.
Só na justiça
laboral existem 16 milhões (eu comprovo esse número) de ações tramitando,
dessas 71% em fase de execução, muitas sem solução, num grupo que reúne
nulidades por erro de juízo, equívocos nos tribunais de Segunda Instância, e
outras sem liquidação. O volume de ações, o estrangulamento na fase de
execução, a sucessão de erros e a demora na solução do litígio, lesionou o eixo
da JT.
Nenhum comentário:
Postar um comentário