Desejamos aos nossos seguidores,
amigos e familiares um, ANO NOVO, repleto de saúde, paz, alegria e prosperidade.
A todos um ano de luz e harmonia,
Salve 2015!
*Blog oficial do jornalista Helio Fernandes que durante 46 anos foi
diretor do jornal Tribuna da Imprensa. Agora com suas matérias exclusivas,
e também a participação de colunistas especialmente convidados. (NR).
(MATÉRIA PUBLICADA EM NOVEMBRO/14)
A CUMPLICIDADE DOS MILITARES HOJE NA
ATIVA, CÚMPLICES PELO SILENCIO. E O LIVRO IMPERDÍVEL COM DEPOIMENTO MAGESTOSO
DE SOBRAL PINTO, SOBRE A DITADURA VARGAS.
HELIO FERNANDES
26.12.14
Nenhum dos
militares, hoje na ativa, participou de qualquer ato de violência, crueldade,
selvageria do golpe de 1964. Digamos que tivessem saído da Escola Militar, da
Escola Naval, ou da Escola da Aeronáutica no dia 1º de abril, quando assaltaram
o país, ou no dia 9 de abril desse macabro e tenebroso 1964 quando tomou posse
o primeiro usurpador, Castelo Branco.
A idade é uma
só para as três unidades militares. 21 anos. Digamos que tenham ficado na ativa
até á idade limite, 64 anos. Assim no ano 2000, teriam 57 anos, já seriam generais
ou não estariam na ativa. Em 2007 completariam os 64 anos limite. Portanto, há sete
anos não existe um só militar que tenha participado dos atos arbitrários,
autoritários atrabiliarios. Mas devem ser execrados pela cumplicidade
silenciosa e corporativa em “defesa” dos ditadores de plantão.
Desde que foi
criada a Comissão da Verdade, se recusam a colaborar, fornecer informações,
mostrar que o que negaram até agora é um ato repulsivo de colaboracionismo.
(como se chamou BA França em 1940, quando Hitler tomou Paris e foi exaltado por
franceses liderados pelo ex-herói Marechal Petain).
Em 1964 o Exercito dividido, sufocados
os contra o golpe
Quando digo
Exercito é porque a predominância deles era total, indecorosa, perigosa,
criminosa. Marinha e Aeronáutica “colaboravam”, (novamente a palavra imprescindível),
se destacaram no exercício da tortura e da violência.
Em julho de
1963, antes do golpe, fui preso por publicar uma circular sigilosa e
confidencial, assinada pelo Ministro da Guerra, general Jair Dantas Ribeiro. O
importante: fui mandado para o BIC, Batalhão de Investigação Criminal, minha
estreia na Rua Barão de Mesquita. Ainda sem CODI, que seria criado e comandado
pelo general Orlando Geisel.
Fiquei lá
três dias, até meus advogados, (Sobral Pinto, Prado Kelly, Adauto Cardoso e
Prudente de Moraes neto) pedirem ao bravo Ribeiro da Costa, presidente do
Supremo, minha transferência para Brasília, mas nesses três dias, pude
constatar pessoalmente, como o exercito estava dividido. Já se conspirava
abertamente, mas também, nos quartéis, se resistia também abertamente.
Não quero
contar a História, mas apenas mostrar que os militares não eram todos
golpistas. É lógico, esses tomaram o Poder por 21 anos com os crimes e a
impunidade garantida à vida inteira e sobrevivendo depois da mote. Sabiamente
morreram antes da c-r-i-m-i-n-a-l-i-z-a-ç-ã-o. Ao contrário do Chile da
Argentina, onde todos morreram na prisão.
Eu estava
incomunicável, mas na hora do banho de sol, me levavam para fora, queriam
fingir de magnânimos. Andava por aquele páteo enorme, lógico, cruzava ou
emparelhava com oficiais. Muitos me diziam: “Helio, resista, estamos com você”.
Outros, com o ódio na alma, na mente, no coração e nos olhos, acreditavam que
podiam me fuzilar á distância.
Os que comandam hoje, ofendem o
Exercito
Até agora,
desde agosto e setembro de 1979, “decretaram” o que não podiam fazer. O fim da
tortura ostensiva, a negativa dos crimes cometidos, e por fim, um crime ainda
pior: “Anistia ampla, geral e irrestrita”, que só serviria a eles.
E que anos
mais tarde, imprudentemente e sem poderes para isso, o Supremo Tribunal
consideraria constitucional. O Supremo ainda pode se reabilitar, votando pela
inconstitucionalidade do que eles mesmos referendaram sem sentir culpa ou remorso.
Os que
comandam hoje, e não participaram de nada nos porões do Exercito, FAB, Marinha,
até agora se negaram a reconhecer que esses porões existiram, enxovalharam as
Forças Armadas, negaram toda e qualquer violência do Exercito no passado.
Agora, em posição cúmplice, omissa pelo corporativismo, insustentável pelo
conhecimento do que houve, dão sinais de que pretendem falar.
Não acredito neles, não aceitamos desculpas mentirosas e retardadas, não torturaram fisicamente ninguém, mas mantiveram o país no mais completo desconhecimento de tudo.
No dia 9
de Abril de 1964, Sobral Pinto mandou carta a Castelo Branco na sua posse. Mas
no dia 29 do mesmo Abril, tomando conhecimento da tortura, mandou nova carta a
Castelo: "O senhor é chefe de estado maior do exercito, não pode fingir
que é presidente". Castelo tentou falar com Sobral, não conseguiu de jeito
algum.
PS- É preciso examinar e reexaminar a posição dos presidentes civis que colaboraram com a ditadura e não permitiram investigação. Começando com Sarney, serviçal da ditadura, depois presidente por acidente. Mortal para a história por muitos e vários motivos.
"Sobral Pinto": um livro imperdível
Recebi nessa segunda feira, na terça já havia terminado de ler as 316 paginas dos 40 capítulos. Emocionante da primeira a ultima pagina, é estarrecedor em todo o relato sobre a tortura de Harry Berger, o homem mais torturado da historia do Brasil.
Advogado de Prestes e de Berger, além do retrospecto da vida do inimitável defensor, o único que esteve ao lado de presos políticos em duas ditaduras: a de Vargas apoiado pelos militares, a dos militares (generais) garantida pelos civis.
Além do relato das dificuldades do próprio Sobral, que não cobrava de ninguém, não atendia nem os apelos da própria mulher, "Sobral, cobre alguma coisa, não temos nada em casa". Continuou imperturbável, não mudando o mínimo que fosse do seu comportamento como advogado.
O relato capitulo por capitulo, pagina por paginam linha por linha, obriga a uma retificação do próprio repórter. Eu sempre escrevi, que "Prestes foi o prisioneiro mais torturado do Brasil". Sabia que Berger havia "enlouquecido" com a tortura e com o regime de prisão a que foi submetido durante dois anos.
Mas não
tinha ideia do que Berger sofrera nesse tempo todo. Sobral, sem o mínimo de
esmorecimento escrevendo e procurando pessoalmente juízes, Ministros da
Justiça. E até para o ditador Getúlio Vargas que se recusou a receber Sobral
Pinto, mas não pode deixar de ler a carta minuciosa e candente, que Sobral
escreveu a ele. Leu e não tomou nenhuma providencia.
Dois anos num vão de escada
Ninguém pode sofrer mais do que Berger sofreu. Segregado, sem sol, sem qualquer forma de limpeza, Berger estava num espaço, como define Sobral: "Era tão pequeno, que ele não podia ficar em pé, sentado ou deitado". Sobral também esclarece: "Pedi realmente a colaboração da Sociedade Protetora os animais, mas não para Prestes e sim para Berger”.
PS- Berger enlouqueceu, Vargas era informado de tudo, mas tomou nenhuma providencia. Assim mesmo, Berger foi condenado a 20 anos de prisão. Em 1945, o ditador derrubado, houve a anistia, Berger foi posto num avião de carga. Ainda não havia aviação comercial, que só começaria em 1949 levado para a parte soviética de Berlim. Morreria 14 anos depois sem saber de nada.
PS2- Sobral, o advogado que não cobrava e suas cartas famosas. Defendendo este repórter no Supremo foi o encarregado da magistral defesa oral. Em pagamento, ninguém tinha coragem de falar com ele.
PS3- Uma semana depois, recebi uma breve carta dele, curta e explicativa: "Hélio, estou satisfeito com a tua absolvição, você nem devia ser processado e julgado, cumpriu o dever de jornalista. Mas quero deixar bem claro que existem grandes divergências ideológicas entre nós". Assinado HERACLITO grande, e em baixo, menor, Sobral Pinto.
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