Titular: Helio Fernandes

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

*Blog oficial do jornalista Helio Fernandes que durante 46 anos foi diretor do jornal Tribuna da Imprensa. Aqui teremos suas matérias exclusivas, e também a participação de colunistas especialmente convidados. (NR).
O GOLPE DE 1964 COMEÇOU EM 1889.
HELIO FERNANDES
12.12.14
Já disse várias vezes: não existe ditadura CIVIL ou MILITAR, e sim DITADURA pura e simples com a participação de civis e militares. Estes têm a força, mas precisam colaboração dos civis. Sem estes, quem seria Ministro da Fazenda, da Justiça, indicados para os mais altos tribunais? Civis, como Vargas, não poderiam conquistar ou antes o Poder, sem a participação dos militares.
O titulo simples que coloquei nestas notas de memória, rigorosamente verdadeiro, tão rigoroso e tão verdadeiro, tenho que ir sumarizando. Afinal, da República até 1964, são 125 anos, todos eles, ostensivamente ou veladamente, transcorridos sem a participação do povo, sem voto, sem urna.
Mas os golpes e contra-golpes tiveram sempre a união nem sempre indissolúvel de cidadãos fardados ou a paisano. "Excluídos” ou "esquecidos" os que ficaram pelo caminho dizimados pelo destino.
Mas alguns exibiram tal longevidade, que participaram de 1930, 37, 45 54, chegaram até 1964. Não se surpreendem. Todos começaram com 21 anos (com exceção de Castelo Branco) tiveram tempo de participar acintosamente com civis ou como militares.
E “revolucionários na oposição". chegaram ao poder, convencidos de que sem aparecerem "como conservadores", não cumpririam a trajetória que cumpriram.
A Repúbica nasceu militar, militarista e militarizada.
Da madrugada turva de 15 dede novembro de 1889 até o sol ”tórrido e escaldante” de 15 de Novembro de 1894, só mandavam os militares, Deodoro e Floriano. Foram 5 anos ditatoriais. Como eu disse precisavam dos Civis, Rui Barbosa foi Ministro da Fazenda, Aristides Lobo, Ministro da Justiça. Não eram cargos para generais de pijama, mesmo da cavalaria, embora não conseguissem montar num cavalo.
O Imperador era favorável á República, 1 ano antes mandou convidar Rui Barbosa para o cargo não de Ministro da Fazenda, que ocuparia  mas da Justiça. Rui não pode aceitar, respondeu: “Estou envolvido em outro movimento, que será completado com a sua participação, se for possível, sem ela se for necessária”. Era a República e a resposta, de improviso, prova da impressionante versatilidade de Rui.
5 anos de Deodoro e Floriano.
Como coronéis vieram brigados e sem se falarem, desde a estranha e inexplicável Guerra do Paraguai. Nessa madrugada contraditória e controversa, não se reconciliaram, mas se juntaram sem qualquer autenticidade. O que os unia era a ambição e a fome do poder. Nesses 5 anos se destruíram, se desgastaram, se despedaçaram. Mas demoliram a nascente República.
Os “abolicionistas” e os “Propagandistas da República”.
Vinham do Império, compunham uma geração brilhante, estoica e heroica, eram Republicanos de alma, cérebro e coração. Em 1860, o grande Saldanha da Gama fundou o jornal diário, “A República”, mas foi logo preso em 1890, pouco depois.
E sem medo dos marechais, fez a frase imortal, eterna e lembrada até hoje: “Esta, realmente, não é a República dos nossos sonhos”. Eleito senador á constituinte, (a púnica direta nesses tempos amaldiçoados e indiretos) foi preso quando estava na tribuna, discursando.
25 de fevereiro de 1891, “constituição”. Deodoro “presidente”, Floriano “Vice”.
Tudo indireto como convinha a este primeiro golpe. E o presidente entre aspas, como aconteceria em 1930 e 37 com Vargas e em 1964 com os generais. Todos vinham em linha reta, mas não direta, golpes e ditadura, civis ou militares no topo da hierarquia.
Ás 11 da amanhã desse dia, Deodoro foi “eleito presidente”, aplaudido moderadamente. Ás 13,40 era a vez de Floriano ser “vice”, aplaudido de pé, estardalhaço que durou um tempo enorme. O mesmo tempo da revolta e decepção de Deodoro.
Mas este, insensato e já quase “gagá”, cometeu a leviandade de nomear Floriano Ministro da Guerra. “Vice” já era poderoso. Agora acumulando com o comando militar, imbatível, Deodoro não percebeu, dominado pela inveja e pelo ciúme, não esperou o ano terminar. E no dia 8 de novembro desse 1891, deu o “golpe dentro do golpe”.
Fechou o Congresso que já funcionava precariamente, demitiu Floriano prendeu deputados, senadores, jornalistas. Ministros do Supremo, embora tivesse deixado o tribunal aberto e funcionando. Acreditava que isso favoreceria sua nova condição de presidente sem aspas, só ele acreditava nisso.
Acontece que Floriano teve paciência apenas por 20 dias. No dia 28 do mesmo novembro, “demitiu” Deodoro, acabou com a farsa, continuou Ministro da Guerra mas agora dele mesmo,m passou a ocupar o cargo de “presidente”. Anunciaram que Deodoro “renunciara”. Alem da farsa, penetravam no cenário do embuste, da mentira, do domínio da força militar, com os civis como “agregados”, obrigatórios.
De 1894 a 1930, os civis e os militares, “agregados”.
Desses 36 anos, golpes em cima de golpes. Apenas um Partido, o Republicano, que escolhia, indicava e nomeava os presidentes. Eliminaram as aspas, embora a eleição não tivesse a menor representatividade. A partir de 1922, surgiram os “Tenentes” chamados sempre de heroicos. Até 1930, quando houve outro golpe, que duraria longamente, e que chamaram de Revolução.
5 de Julho de 1922, os "18 do Forte" que envolveria o país, iriam até 1930, "subvertidos por Vargas.
Esses "Tenentes" eram realmente brilhantes, autores e comandantes de movimentos (golpes sucessivos). De 22 a 24, 26, 27, exaltados por todos e empolgados pelos Poder. houve eleição em 1930, Vargas foi derrotado pelo candidato único do partido Republicano, Julio Prestes, (de nenhum parentesco com o próprio) governador de São Paulo.
Vargas se aquietou, se acomodou, se retirou, concordou com o resultado. Só que no mesmo ano de 1930, João Pessoa, governador da Paraíba, foi assassinado numa confeitaria do Recife. Nenhuma ingerência ou motivação política, mas que por pressão de Osvaldo Aranha e Flores da Cunha, retirou Vargas da "clandestinidade". Levou-o e elevou-o à condição de Chefe da Revolução de 1930. Outro golpe que ganhava ímpeto, aparato e denominação grandiosa e até generosa.
Os "Tenentes" se revelam apoiam Vargas ditador.
Em 5 de Julho de 1924, aniversário do movimento dos 18 do Forte de Copacabana, surgiu a ideia de organização de uma coluna, que se chamaria Prestes-Miguel Costa. Além da comemoração outra motivação, totalmente equivocada: a derrubada de Artur Bernardes, presidente da Republica, que era apontado como "entreguista”, Na verdade como governador de Minas e depois, presidente, foi sempre defensor do interesse nacional. Fez notável campanha contra as multinacionais de minérios, principalmente a Hanna.
Liderados por Prestes, ainda não comunista.
Esses “Tenentes” não tinham objetivo definido, não havia plano, tática, estratégia. Tanto isso é verdade que foram para o norte e não para o Sul, onde ficava a sede do governo, já então no Catete. Em 1896, Prudente, muito doente, teve que ser operado, passou o governo ao vice. Esse vice assumiu, trocou o belíssimo, Palácio do Itamaraty, comprou o do Catete, no meio da rua, as pessoas passavam pela calçada, sem nenhum impedimento.
A "coluna" endeusada mas desorganizada e "amalucada".
O compromisso era de lutar ate o fim do governo Bernardes, em 1926 quando Washington Luiz tomaria posse. Aí se "internariam" nos países mais próximos. Prestes que ainda não se deixara "contaminar" pelo comunismo, foi para a Bolívia, Paraguai, e depois Uruguai (Montevidéu).
Em 1930 foi procurado por dois dos maiores amigos, inseparáveis, Siqueira Campos e João Alberto. Comunicaram a ele que "fariam a Revolução" e queriam que ele fosse o chefe. Não se sabe se estavam autorizados, mas ficaram supreendidissimos quando Prestes perguntou: "Essa revolução é comunista?".
A reação dos dois foi imediata e até duríssima. João Alberto disse textualmente: "Eu não tenho vocação para Apóstolo, não vou jogar minha carreira fora".  Decidiram voltar para o Brasil. Pegaram um avião da empresa Condor (depois Cruzeiro do Sul), um Latacoera bem antigo.
Em frente ao porto de Montevidéu o avião caiu. Siqueira, campeão de natação do Exercito, resolveu nadar, foi encontrado uma semana depois, comido pelos peixes. João Alberto, que não sabia nadar, se agarrou á asa do avião, foi salvo. Como disse a Prestes, que não era Apóstolo, fez carreira brilhantíssima, sempre no auge, até morrer.
Em 1932, o Manifesto comunista.
Não querendo participar de "movimentos burgueses", Prestes lançou o que chamou com esse nome, e viajou imediatamente para a União Soviética. Voltou em 1935, aí comandando uma Revolução verdadeira, comunista. Mas completamente disparatada, sem qualquer recurso ou organização foi completamente dizimada e desbaratada em 27 de novembro 1935, sem qualquer vislumbre de vitória. Foi chamada para sempre de "Intentona vermelha", ninguém conseguiu explicar a razão.
Preso por acaso em 1936, num aparelho (como se chamava na época) não se sabia que o procuradissimo Prestes estava ali naquela casa da rua Honório, no Meyer. Levado para a policia Central, onde tantos haviam sido presos, torturados e assassinados, ficou entregue ao Chefe de Policia, Filinto Muller. Também "Tenente" só que expulso por votação unânime dos outros "Tenentes". Depois enturmadissimos no governo Vargas.
De 1930 a 1945, três fases da ditadura Vargas, ambição única e pura de Poder. Prisões, tortura e assassinatos.
Assumiu como “Chefe do Governo Provisório”, coisa que Castelo Branco não queria em 1964. Para Vargas tanto fazia a denominação, o que lhe interessava era o Poder total, que conquistaria. Sabia que tinha que fazer escalas, não se incomodou. Fez  três, projetadas planejadas e consumadas, utilizando a corrupção e a volúpia que todos tinham pelo poder.
1 – De 1930 a 1933, a constituinte e a ”eleição direta pela primeira vez na história”. 2 -  Incluiu nessa constituinte, os primeiros “pelegos”, trabalhadores e patronais. Com esse reforço cumpriu a primeira fase. Não realizou a eleição direta, foi “eleito por mais quatro anos, até outubro de 1938”.
3 – Só que não estava interessado nesse 1938, 1 ano antes, em 1937, revelou todo seu  plano, entronizou a ditadura fascista do “Estrado Novo”. Com apoio dos “Tenentes”, muitos já então coronéis. E quase todos, governadores, senadores, Ministros, embaixadores, mas sem se despirem das fardas.
E a constituinte de 1945, logo depois da derrubada do “Estado Novo”, descobriria, todos esses militares ocupavam importantes cargos civis, não iam aos quartéis, mas recebiam duplamente. Foi um escândalo, com enorme repercussão. Tentaram acabar com isso, o Poder Militar era fortíssimo, os constituintes tiveram que “fazer um acordo”. Essa bandalheira acabaria, mas continuaria vigorando por mais oito (8) anos, até 1954.

Aí o país já estava conflagrado e “golpeado”. O suicídio de Vargas, os golpes contra a posse de JK, a “renúncia” de Jânio, o “parlamentarismo”, o “plebiscito”, e tudo o que aconteceria.
Amanhã:
Mesmo antes da derrubada do “Estado Novo”, todos conspiravam, civis e militares, juntos ou separados.

Nenhum comentário:

Postar um comentário