50 anos do
meu desterro em Fernando de Noronha
HELIO FERNANDES
De 1964 a
1985, minha vida foi tormentosa. Prisões, perseguições, processos de toda
ordem. Mas acredito que nem os generais ambiciosos, torturadores, arbitrários,
atrabiliarios, autoritários admitissem que poderiam chegar tão longe.
Em
novembro de 1966, eu era candidato a deputado federal pelo MDB. Como as pesquisas
me davam votação extraordinária, começaram as tentativas dos usurpadores, para
que eu retirasse a candidatura.
Nos
comícios diários, muita gente me perguntava a razão de eu querer trocar o jornalismo
pela política. E eu respondia invariavelmente: "Não quero trocar e sim
aumentar meu arsenal de combate. Como a minha forma de expressão é a palavra
escrita, mas também a palavra falada, vou usar as duas, diariamente. Um artigo
no jornal um discurso na Câmara".
Como
naturalmente eu era vigiadissimo, sabiam de tudo. E colocaram o general Golbery
grande articulador, com a missão de impedir a minha candidatura.
Naturalmente não conseguiu falar comigo.(Isso nem o "presidente"
Castelo Branco obteve. Só eu e o grande Sobral Pinto recusamos
"convite" para conversar).
A CASSAÇÃO
Golbery foi procurando meus maiores amigos, sem sucesso. Esteve varias vezes com o
padrinho de um dos meus filhos, Procurador da Republica. Com a mudança da
capital, não quis ir para Brasília.
Ficou
como Procurador Geral na Guanabara. Golbery insistia com ele: "Diz ao seu
compadre que ISSO não vai demorar para sempre, ele é moço, terá outras
oportunidades". De recusa em recusa, chegamos ao fim da campanha em 12 de
novembro, quando o Diário Oficial publicaria minha cassação. Mas na véspera,
todos já sabiam.
O
candidato a senador na chapa do MDB, o combatente Mario Martins me telefonou,
queriam ir á minha casa, com companheiros de candidatura. Foram. Ele Marcio
Moreira Alves, Hermano Alves e outros. A proposta: o encerramento da
campanha estava marcado para o dia seguinte, 9 da manhã na PUC. Queriam
que eu fosse o unico orador,falasse por todos. Aceitei, claro.
ÀS 9 da
manhã parava na PUC, o reitor, Padre Laércio estava me esperando, falou: "Jornalista,
na minha sala estão 2 coronéis, disseram que o senhor não pode falar, está
cassado. Respondi que não recebo ordens do Exercito e sim da Curia, que deixou
a decisão por minha conta. Por mim o senhor está autorizado a
falar".
Nenhum comentário:
Postar um comentário