SIAMESES
FERNANDO CAMARA
20.10.15
Dilma e Eduardo Cunha, dois
personagens embaralhados num caos político.
As evidências de que Eduardo
Cunha mentiu ao Congresso e ao Fisco estão expostas em colaborações de seis
condenados na Lava Jato e em documentos oficiais do MP suíço, onde constam
dados pessoais, assinatura e fotos, cópia do passaporte dele e de familiares. O
outro personagem é a presidente Dilma Rousseff: ela tem legitimidade e
credibilidade para dar prosseguimento ao seu governo por mais três anos?
Os fatos acerca desses dois
atores devem ter tratamentos distintos, cada qual com as suas complexidades e gravidades
analisadas individualmente. Porém, hoje estão interligados por causa da
personalidade do presidente da Câmara e do apoio que ainda resta a ele dentro
dos partidos de oposição, em troca do sinal verde para que a Casa avalie a
abertura do processo de impeachment.
Diante disso, só tensão
Esta semana teremos, tal como na passada, mais
um momento crítico. Na semana passada, Cunha aguardava chances para construir
algum acordo em seu benefício. Na hipótese de abrandar as suas punições no
Conselho de Ética, ele se equilibraria no topo do Poder, tendo em mãos a
possibilidade de decidir pelo prosseguimento da análise de um possível
impeachment de Dilma. Ao mesmo tempo, acenava em favor da oposição e do
governo.
O governo terminou salvo por
três liminares do Supremo que estancaram as ações de Cunha. Ao longo da semana,
o vazamento da tentativa de acordo com o governo e os documentos da Suíça
viraram a artilharia mais pesada na direção dele. Partes expressivas dos dois
lados, governo e oposição, passaram a jogar pelo afastamento de Eduardo da
Presidência da Câmara. Ele sabe que, a hora em que deixar o cargo, estará
perdido, portanto está semana volta a ser um momento crítico, com a expectativa
de que ele acolha o novo pedido de impeachment apresentado por Hélio Bicudo e
Reali Júnior e, assim, tente redirecionar a artilharia pesada e o foco da mídia
na direção do governo Dilma.
Cunha pode ser preso
Cunha
sabe que diante das evidências que o envolvem, assim como à sua mulher e filha,
caso aconteça a cassação do seu mandato, a possibilidade de ele ser preso é
altíssima, e a situação pode ficar pior caso sejam presas a esposa e filha
antes dele. No exercício do mandato o presidente da Câmara somente pode ser
preso em flagrante, mas esta prerrogativa não é extensiva à família, a
possibilidade de ser decretada a prisão preventiva, existe. Ainda há de se
considerar o fator emocional de uma esposa acuada e ferida, ou ainda de uma mãe
vendo sua filha encurralada.
O novo pedido de impeachment
Não acredito em negociações que envolvam o presidente da Câmara para barrar ou engrenar o novo pedido de impeachment. Essa fase passou. Porém, há quem diga que ele ainda jogará com essa carta, por absoluta falta de opção.
Sem governabilidade
As notícias sobre o governo Dilma ganharam um segundo plano nesta semana, inclusive o rebaixamento de mais uma nota do Brasil, desta vez pela agência Fitch. Mais um sinal de que a crise econômica se agrava, a pressão se mantém e ao mesmo tempo a sociedade e os empresários se acostumam ao caos.
Aliás, vale um comentário
pessoal: Essas Agências são incríveis! Lido o essencial do texto explicativo,
eu entendi que a Fitch rebaixou a nota do Brasil não por causa da
inflação, do desemprego, da paralisação da indústria e do caos na infraestrutura.
Rebaixou porque entende que o Governo não tem condições de dar respostas à
crise instalada.
Sem bom senso
Na comemoração da CUT, Dilma lê:
"A Oposição quer encurtar o seu caminho ao Poder", "golpismo escancarado! "
Ela passou a ler os
discursos e, portanto, vamos ouvir menos descalabros. Mas combater a tese
dos questionamentos jurídicos e legais com discursos beligerantes demonstra
insegurança na argumentação da sua defesa; e essa tática não deu certo no
julgamento das contas no TCU.
Em viagem, Dilma endureceu o
discurso contra o presidente do PT, Rui Falcão, que desceu a lenha em Joaquim
Levy em entrevista à Folha de S.Paulo neste domingo. Segundo ela, “a posição
do PT não é a do governo”. Sintomático, porque pela primeira vez ela arrisca
uma insurgência para defender a si e ao seu governo do qual, em tese, o partido
faz parte.
Apesar do discurso,
espera-se uma inflexão na política econômica, de forma a dar ao governo a
perspectiva de manutenção do apoio dias movimentos sociais. Aliás, ela adotou
esse discurso mais agressivo para indicar que vai lutar até o fim pelo seu
mandato. E, se o PT e os movimentos sociais lutarem por ela, teremos um país
conflagrado.
Cadê?
Lula em campo
O ex-presidente Lula voltou aos holofotes mais para se defender e à sua família, do que propriamente buscar apalavro mandato de Dilma. Entretanto, um personagem mergulhou: o ex-presidente José Sarney.
E Levy segue enfraquecido
Joaquim Levy foi ao Congresso, e repetiu a cantilena de sempre. A sensação que se tem é a de que ele está nos estertores assim como os recursos orçamentários. Todos têm dito que se o governo não obtiver a CPMF, acabou. Sobre esse tema, aliás, vale lembrar que o governo pode inclusive perder a DRU, desvinculação das Receitas da União, que por ser emenda constitucional, precisa de 3/5 para aprovação. Durante a crise política, não se sabe se o governo terá essa maioria. Ou seja, caminhamos para o caos.
MP 680
Foi retirado do texto final a possibilidade de passar a ser respeitado legalmente o acordo entre empregados e empregadores.
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