O TEST
DRIVE DA REFORMA
FERNANDO CAMARA
06.10.15
Há
tempos, Dilma não tinha uma semana tão decisiva quanto essa. No Tribunal de
Contas da União, as pedaladas entram em cena. No Congresso, os vetos polêmicos
em pauta. Diante de tanta pressão, a ordem no Poder Executivo é tentar adiar as
votações na arena do TCU e centrar fogo no Congresso, onde a base aliada terá
seu primeiro teste pós-reforma ministerial. Veja abaixo a análise de cada um
dos lances desses próximos dias:
CUNHA, O
FATOR IMPONDERÁVEL
Confirmado
pelo Ministério Público da Suíça que Eduardo Cunha, e sua família, têm contas
bancárias naquele país, o que ele nega, fica a dúvida sobre a condução da
política nos próximos dias. O presidente da Câmara virou alvo. Sem dúvida,
perdeu massa muscular nesse processo, mas não o suficiente para deixar de comandar
o navio.
Enquanto
as acusações de falta de decoro não se consolidam, ele tem nas mãos o comando
da Câmara dos Deputados. E, nesse sentido, está numa situação que pode desviar
os holofotes dos malfeitos para Dilma e seu governo. Por isso, há probabilidade
em assumir a decisão de acatar o pedido de impeachment assinado pelo
fundador do PT, Hélio Bicudo; evitando levar a decisão ao Plenário da
Câmara, desviará toda a mídia negativa para a presidente.
Cunha tem
atenção às 11 semanas que faltam para acabar o ano legislativo, e sabe os
motivos que levaram a 22 dos 64 deputados do PMDB a rejeitarem a oferta de
ministérios, avalia que tem grandes chances de voltar a ser o Centro das
soluções e não o de ser o inimigo do país.
Do lado
dos oposicionistas, seguem as cobranças para que haja em relação ao presidente
da Câmara da mesma forma que agiram com o PT: que sejam implacáveis. No
entanto, DEM e PSDB seguem se equilibrando em respostas cuidadosas para não
deixar Cunha desanimado em relação ao impeachment.
1)TCU
Em
reuniões no fim de semana, o governo se movimentou para tentar declarar o
relator impedido de analisar as contas governamentais. Pretende com o gesto
ganhar tempo para recompor a base política no Congresso. A decisão do TCU, que
deve ser adiada em pelo menos uma semana, até porque virá um pedido de vistas,
pode dar aos congressistas o argumento para o impeachment.
Embora a decisão
seja técnica e seja apenas uma recomendação aos congressistas, as implicações
políticas são grandes e, antes que chegue a hora da análise da política dessas
contas pelo Congresso, Dilma quer ter a certeza de que a sua base funciona.
Aliás, a reforma ministerial foi feita justamente para ver se a presidente
escapa de um processo de impeachment.
2)
Vetos, o primeiro teste
O aumento de 72,8% para os servidores do
Judiciário, o fator previdenciário e outros quatro vetos polêmicos são a
prioridade do governo essa semana. Os novos ministros terão que mostrar serviço
e, diante do receio de uma piora do cenário macroeconômico, é bem capaz que o
governo vença, embora de forma apertada.
DANÇA DAS
CADEIRAS MINISTERIAIS
Sem
proposta de governo além das necessárias tesouradas, sem respeitar o prometido
durante a campanha eleitoral, Dilma agora tenta se segurar na política. Resta
saber se conseguirá, uma vez que a reforma soa retrocesso.
Vejamos
a dança:
Jacques
Wagner já atuava como articulador. É
respeitado por Lula, mas a sua recente trapalhada,quando usurpou as
responsabilidades da presidente da República de nomear e demitir oficiais
generais, maculou a sua fama revelando segundas intenções. Assim, teve que
voltar atrás.
Aldo
Rebelo tem que estar em algum
ministério porque ele ajuda na articulação política e o seu partido tem 11
sólidos deputados e uma senadora. Mais ainda: o PCdoB tem capacidade de
mobilização estudantil, algo crucial para o governo, caso as manifestações de
rua pró-impeachment se ampliem.
Aloizio
Mercadante tem que ser ministro, senão
o pau e todas as reclamações cairão sobre a presidente. Ele tem a capacidade e
a inteligência para desagregar.
Henrique
Alves e Eliseu Padilha são
articuladores de votações, não têm tido muito sucesso mas são da equipe de
confiança do vice-presidente, sucessor da presidente num eventual afastamento.
Helder
Barbalho será ministro porque Dilma
tem um medo, sem explicação, do senador Barbalho e não o quer na oposição.
Jader deseja ter o Pará de volta aos seus domínios, e quer a compreensão de
todos, (nem que para isso tenha que atropelar), principalmente do deputado José
Priante.
Ricardo
Berzoini, o novo secretario de
governo, com poderes até para mandar no setor de inteligência do Planalto,
representa a presença do PT nas conversas e na arapongagem. Não por acaso, o
general José Elito, que ocupava o Gabinete de Segurança Institucional (GSI),
reclamou e pediu que o Ministério seja retomado. Em tempo: o único que mexeu
até hoje com o serviço de informações foi Fernando Collor, que extinguiu o SNI.
Deu no que deu.
O outro
ministro petista, Miguel Rosseto, que ficou na Previdência, permaneceu
porque representa mais uma extensão de Dilma, que pode aproxima-la de Lula e a
uma parte do PT.
Marcelo
Castro, novo ministro da Saúde,
foi candidato a líder do PMDB, mas abriu a intenção em favor de Lúcio
Vieira Lima, contra Leonardo Picciani. Mostrou que não é tão bom na política,
pois soube como perder espaços na Comissão da Reforma Eleitoral e foi
destituído da relatoria. A solidariedade da bancada dependerá da distribuição
dos cargos de segundo escalão do Ministério.
Na
sociedade, dificilmente conseguirá apoio, uma vez que chegou defendendo a CPMF
nas duas pontas, no débito e no crédito. Hoje foi publicado no D.O.U. a
transferência de R$ 1,5 bilhões do Ministério da Saúde para o Ministério de
Combate a Fome. Marcelo ainda não sabe que foi tungado...
André
Figueiredo, o novo ministro de Comunicações
é considerado uma incógnita, proque não se sabe se conseguirá levar os votos do
PDT. O governo deseja que ele assuma a coordenação de alguns parlamentares na
Câmara, uma vez que a atuação e votações no Senado são sempre contra ao
Governo.
Por
fim, Celso Pansera, o novo ministro de Ciência e Tecnologia, área
que o PMDB aceitou meio a contragosto, como aquela criança que a mãe obriga a
comer verdura e faz isso de cara feia. A indicação mostra a força da
bancada do Rio de Janeiro no governo, leia-se o governador Luiz Fernando Pezão
e Jorge Picciani, pai do líder da bancada na Câmara, Leonardo Picciani. Jabuti
não sobe em árvore, e não há ministro sem algum padrinho e força política que o
banque.
Em fim o
paciente continua no estado de coma, no mesmo hospital, com o mesmo tratamentos
e com a mesma equipe médica.
POR FALAR
EM PICCIANI…
O jovem
líder Picciani teve um papel importante na dança ministerial; fez ecoar
no Jaburu a insatisfação da bancada, fazendo valer a voz do líder, mas ainda
não assumiu a liderança política. Na compreensão dos parlamentares, Leonardo
ora segue Cunha, ora segue o pai, ora segue ao Pezão. E agora quer ser líder de
novo e se articula com a sua bancada.
Lúcio
Vieira Lima, empenhado em reinventar o sentimento de oposição do PMDB, age nos
bastidores.
Danilo
Forte foi vice-líder, desistiu do PMDB e foi brigar pelo futuro no PSB, mas o
sonho de consumo do PSB, hoje, é ser igual ao PMDB.
OS
COMANDANTES
Dilma
reconheceu: "Atualizar a base política do governo buscando uma maioria que
amplie a nossa governabilidade". Ela sabe que perdeu. Lula e caciques do
PMDB ocuparam espaços e, a partir de agora, espera-se um jogo mais profissional
na política governamental.
LULA QUER
MAIS
Na quinta-feira,
véspera do anúncio da reforma, circulou um boato em Brasília de que a mudança
atingiria Joaquim Levy e que Lula estaria na cidade apenas para tentar
convencer Dilma a substituí-lo por Henrique Meirelles, de quem a presidente não
gosta muito. Lula entendeu que Levy perdeu sustentação no empresariado.
Por
enquanto, não teve sucesso. Ele sabe também que mudar a política econômica
representa muito, e que a atual proposta não encontrou eco na Sociedade.
Não se
assustem se Nelson Jobim, o articulador das madrugadas, voltar ao ministério de
Dilma,nem se ele voltar a votar em José Serra novamente.
FARMÁCIA
POPULAR E BOMBARDEIO AO MSF
A
presidente Dilma continua fazendo a vaca tossir, e cada vez mais forte. Sem
qualquer constrangimento ou explicações, cortou os repasses do programa
Farmácia Popular. Em três anos, 19 milhões de pessoas foram atendidas pelo
programa. Com a inflação beirando os 10%, e o desemprego idem, pode se concluir
que milhares de pessoas ficarão sem os remédios, muitas delas com doenças
graves. Diante disso, a redução de 10% dos salários da presidente, seu vice e
ministros é praticamente uma demonstração perdida.
AGROTÓXICOS
A Folha
de São Paulo trouxe manchete distorcida neste domingo.
"Controle de agrotóxicos em alimento é quase nulo" está em
desacordo com a realidade, com base científica duvidosa, e não ouviu os
principais segmentos envolvidos.A ANVISA usa método equivocado para avaliação
de risco e também para monitoramento dos resíduos.
Isso
acontece porque as normas internacionais recomendadas e reconhecidas legalmente
não são cumpridas. E não são cumpridas porque existe aparente conflito entre a
lei de defensivos e as normas Códex Alimentarius que definem
os limites máximos de contaminantes. Esses limites usados na matéria nada têm a
ver com saúde pública. São meros indicadores para medir se as tecnologias estão
sendo usadas corretamente.
Na
verdade os itens da lei de agrotóxico de 1989 devem ser:
1.
I) interpretados
como derrogados por outros diplomas posteriores mais específicos; ou ,
2.
II) substituídos
pelos comandos das leis específicas.
MP 680,
Muda tudo
Muita
atenção à aprovação do artigo 11, da MP 680. Pode revolucionar as relações
trabalhistas no Brasil, permitindo que o acordo entre empregados e empregadores
tenha força de lei.
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