Titular: Helio Fernandes

sexta-feira, 2 de outubro de 2015


DERRUBADA A DITADURA DO “ESTADO NOVO”, QUASE 18 ANOS DE ESTRANHA DEMOCRACIA. É UMA EXCELENTE CONSTITUIÇÃO QUE SERIA ASSASSINADA EM 1964, ANTES DE ATINGIR A MAIORIDADE.

02.10.15

HELIO FERNANDES
Publicada em 13.12.14

PARTE - III

 1945: derrotas em cima de derrotas, o fim da ditadura.

Em janeiro, começando o ano, Vargas não percebeu nada. Lourival Fontes, cujo caráter já descrevi ligeiramente, falou: “Presidente, estou cansado, gostaria de um tempo, a embaixada no México está vaga, poderia ficar um ano lá”. Foi nomeado embaixador imediatamente, no 29 de outubro, Vargas desapareceria, Lourival estava longe.

Quando Vargas voltou, “eleito” pela primeira vez em 1959, Lourival reaparecia, tomava o antigo lugar. Os militares se “dividiram” mas todos abandonaram Vargas. Na manhã do dia 29 de outubro, Vargas nomeou o irmão “Beijo Vargas”, Chefe de Policia. Bêbado, frequentador de cassinos, corrupto, dava tiros no próprio auditório, assustava todo mundo.

Ás 17 horas, Cordeiro de Farias, general antes dos 40 anos, fato raríssimo, foi ao Catete, disse a Vargas: “Presidente, o senhor está deposto, garanto sua saída e tranquilidade”.

Com apoio do cardeal, Vargas concordou, saiu, foi para Itu, sua cidade preferida. Surpreendentemente não houve inelegibilidade, punições, todos que estiveram mais de 10 anos no Poder, puderam se candidatar ao que bem entendessem, E a legislação eleitoral, que só vigoraria em 2 de dezembro desse 1945, extravagante, absurda, antidemocrática.

Todo e qualquer cidadão podia se candidatar cumulativamente por 7 estados, ao mesmo tempo a deputado e senador. Prestes se elegeu deputado e senador pelo então Distrito Federal tinha que optar, lógico, assumiu o senado. O mesmo aconteceu com Vargas, preferiu o Senado pelo Rio Grande do Sul. Mas só apareceu uma vez.

Vargas não devia ter voltado, jamais governara democraticamente.

Dutra, o militar que garantia o poder e a ditadura do civil Vargas, foi “eleito”. Ficou até 1950, quando Vargas foi feito presidente. Cometeu muitos erros a vida toda, mas esse o maior de todos. Quase não toma posse por causa da campanha violentíssima do general (da reserva) Golbery e de Carlos Lacerda, então intimissimos. (Em 1964 já estaria em lados opostos).

Para assumir, Vargas teve que recorrer ao general Stilac Leal, a mais respeitada liderança nacionalista militar. Acabara de assumir a presidência do Clube Militar, derrotando Cordeiro de Farias, numa luta tremenda. (naquela época só generais da ativa podiam presidir o Clube. Depois e até hoje, só generais da reserva). Stilac assumiu mas adiantou muito pouco.

Vargas nomeou Jango Ministro do Trabalho, mas ele só duraria um ano. Em 1952, surgiu o "Manifesto dos coronéis", 69 deles exigiam a saída do Ministro. Motivo: dobrara o salário mínimo. A primeira assinatura era de Amaury Kruel, um prussiano audacioso, da mesma turma de Castelo Branco, mas sempre ridicularizando o depois "presidente", por causa do seu físico disforme.

Jango, que gostava de "fingir de conciliador", foi a Vargas, falou: "Presidente, não estamos em condições de confronto, eu deixo o Ministério, o senhor nomeia qualquer um". O ditador de 15 anos não sabia o que fazer, aceitou, mas isso não era solução, os dois acreditavam que fosse paliativo. Também não era.

AMANHÃ PARTE FINAL
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