Titular: Helio Fernandes

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

A FEB, O GENERAL AFONSO ALBUQUERQUE LIMA, O ENCONTRO VARGAS-ROOSEVELT

30.10.15
HELIO FERNANDES
reprise  

incrível que alguns defendam Castelo Branco, com opinião, mas contrariando os fatos. Não leram nem os dois livros do general depois marechal Lima Brayner, que esteve sempre no centro dos acontecimentos. Podiam pelo menos ler os livros e fazer restrições aos fatos contados por ele.

O V Exército americano (muito citado aqui), uma piada, comandado pelo  general Mark Clark. Não era militar de carreira, quando foi convocado presidia a Sears Roebuck, uma espécie de mercado (ainda não havia shopping). Como levar a sério um “general” como esse?

O COMPETENTE E PRETERIDO AFONSO ALBUQUERQUE LIMA

Falando nos militares que não foram à Itália, queria me referir a generais. Mas como pessoas queridas me pedem, faço esclarecimento, não retificação. Como major ele foi para a Itália no primeiro escalão e voltou no último. Comandou o Batalhão de Operações. Fez carreira brilhante, nacionalista importantíssimo.

NÃO FOI “PRESIDENTE”, VINGANÇA DE ORLANDO GEISEL

A volta da FEB, acontecimento extraordinário. O Rio, então capital, foi todo para o centro da cidade. Não se podia andar da Praça Mauá à Cinelândia, engarrafando toda a Avenida Rio Branco e as transversais. Segundos cálculos, eram 2 milhões de brasileiros (não apenas cariocas) entusiasmados.

Albuquerque Lima foi logo a general de Brigada, em 1967 a Divisão. Em 1969, quando Costa e Silva teve o AVC e foi considerado “incapacitado”, assumiu a Junta Militar (os “Três Patetas”). Foi feita eleição indireta. Pela primeira vez colocaram urnas em diversos órgãos do Exército, Marinha e Aeronáutica. Orlando Geisel, candidato do governo, Afonso, da oposição, ganhou em todos os lugares.

Geisel, que chefiava o nascente Doi-Codi, ficou irritado (leia-se, revoltado): “Albuquerque Lima não pode ser ‘presidente’, é general de 3 estrelas, como é que eu, de 4 estrelas, vou fazer continência a ele?”. Isso foi em dezembro de 1969. Em março de 1970, duas vagas para general de Exército (quatro estrelas). Albuquerque Lima era o número um para promoção. Foi “caroneado”, teve que passar para a reserva. Era a vingança de Geisel.

O ENCONTRO VARGAS-ROOSEVELT EM NATAL

Não houve nenhuma intimação ou intimidação, e sim um encontro amigável entre dois chefes de Estado, que depois se transformou num acordo entre dois países. No início de 1942 (logo depois do massacre do Japão a Pearl Harbour, em 7 de dezembro de 1941), os americanos tiveram que entrar na guerra.

Precisavam então de uma base no Norte/Nordeste. Depois de contato com assessores de Vargas, oficiais americanos vieram conhecer os locais. Não quiseram Fernando de Noronha, muito exposto, estreito, sem aeroporto. Ficaram entusiasmados com Natal (Rio Grande do Norte), que, segundo eles, “preenchia todas as condições e requisitos”.

O DRAMA PESSOAL DE VARGAS

Comunicaram ao presidente Roosevelt, que telefonou pessoalmente para o presidente Vargas. Conversaram, marcaram um encontro, que se realizou 15 dias depois, em Natal. O drama de Vargas: na véspera da viagem, morreu seu filho mais moço, Getulinho. Vargas ficou a noite toda no velório, quando o corpo foi para São Borja, viajou para Natal, chegou rigorosamente no tempo marcado.

A CONVERSA DOS PRESIDENTES

Cordialíssima, como se esperava de dois homens como Vargas e Roosevelt. O presidente americano agradeceu, falou: “O senhor ajudou muito os EUA, essa base é importantíssima. Gostaria de saber o que o Brasil mais precisa no momento. E Vargas, sem hesitação: “Uma siderúrgica, presidente”. E  Roosevelt: “O senhor terá, o mais rapidamente possível”.

SURGE VOLTA REDONDA

Roosevelt imediatamente formou um grupo de técnicos respeitadíssimos, colocou um chefe de sua total confiança, mandou-os para o Brasil, montar as bases da siderúrgica. Ficaram aqui uma semana, não estiveram pessoalmente com Vargas. Mas compreenderam logo: “Tem que ser em Santa Catarina ou Paraná”.

Havia até um porto, Paranaguá, modernizado por Vargas para atender a produção e os interesses do seu companheiro de golfe, Wolf Klabin. Mas Vargas assustou os técnicos, fechando a questão: “Tem que ser em Volta Redonda”.

ROOSEVELT CUMPRE A PALAVRA

Os técnicos voltaram, foram recebidos logo por Roosevelt, disseram: “Presidente, é, impossível atender ao presidente do Brasil, ele quer a siderúrgica longe da matéria-prima, da mão de obra e de qualquer forma de exportação”. Roosevelt, imperturbável: “Voltem lá e façam tudo o que o presidente determinar. Está em jogo a minha palavra”.

PS – Vargas se fixou definitivamente em Volta Redonda. Surgiu lá a primeira siderúrgica, não técnica, mas política. Volta Redonda, no Estado do Rio, cujo interventor era seu genro, Amaral Peixoto.

PS2 – Sem dúvida que os EUA mandaram (e dominaram) muito no Brasil. Mas nesse episódio, apenas circunstâncias importantes para os dois países. Na mesma guerra contra o que se chama de nazi-nipo-fascismo (Alemanha, Japão, Itália).
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