Chamado
de partido motel, o PMDB se considera o Copacabana Palace.
HELIO FERNANDES
Já que o assunto que domina e
predomina no Brasil, é a corrupção, temos que dar o maior destaque ao
senhor Del Nero. Nem sei se digo que ele é presidente da CBF. Pois desde maio
do ano passado, quando fugiu da Suíça com medo de ser extraditado para os EUA,
tudo em volta dele é misterioso.
Não saiu
mais do país, nem mesmo para acompanhar a seleção brasileira.Começou
conversações para continuar dominando a CBF, mas sem o seu nome
aparecer. Pediu licença, "elegeu" um deputado da bancada da
bola. Este assumiu, na primeira decisão, contrariou Del Nero, foi
demitido. Del Nero reassumiu.Procurou alguém para ficar no seu lugar.
Encontrou um coronel aposentado da Policia Militar do Pará, empossou-o. Vai
repetir não se sabe até quando.
O que é
preciso: que surja alguém que explique á opinião publica, por que Del Nero
dominou durante 11 anos o futebol de São Paulo? E só deixou a presidência da
Federação paulista, para assumir a CBF, que está acima dos estados. E os
grandes clubes, não apenas de São Paulo, por que são tão servos, submissos e
subservientes?
Chamado de partido motel, o PMDB se considera o
Copacabana Palace.
Os
partidos surgem no Brasil apenas em 1933 para a Constituinte de 1934. De
1889 (a falsa Republica) até 1930, 41 anos de domínio do Partido Republicano.
Era o único, não havia eleição, os presidentes escolhiam seus sucessores, os
governadores ratificavam. Em 1930, a "revolução" derrubou Washington
Luiz, Vargas assumiu, ficou 15 anos, sem voto, sem povo, sem urna e sem vice.
Derrubada
a ditadura Vargas, em 1945 houve a primeira eleição direta. 56 anos depois da
Republica foi eleito Dutra, de 1937 a 1945, poderoso Ministro da Guerra da
ditadura. 5 anos inúteis, desperdiçou as extraordinárias reservas que o país
acumulou nos anos de guerra. Ninguém pagava, o Brasil vendia "para receber
depois".Os EUA, mestres em vender matéria plástica a preço de ouro, e comprar
ouro a preço de matéria plástica, devoraram tudo.
Em 1950,
a primeira eleição com aparência legal e partidos verdadeiros, (PSD,UDN,PTB) a
volta certa de Vargas. E a sua incapacidade de governar democraticamente,
com partidos mas sem democracia. 1964 começava em 1950, quase que com os,
mesmos personagens. Alguns eram os "heróicos" tenentes de 30, agora
"envelhecidos " generais, acumulando "honrarias
desonrosas".
Foram
fundados os partidos. O mais combativo, a UDN, que ficou maculada pelo fato de
ter combatido a ditadura, de forma intransigente, até derrubá-la. O mais
efetivo e coordenado foi o PSD, presidido pelo genro de Vargas. Não chegou a
completar 18 anos, assassinado na véspera pelos generais arbitrários.
Na ditadura apenas dois partidos.
Castelo
não fechou o Congresso nem acabou com os partidos, pela ambição, a falta de
credibilidade e porque precisava deles. Convenceu Juscelino, que não tinha como
se opor: "Presidente, não quero ser chefe do governo provisório, não terei
nenhum poder. E meu objetivo é manter as eleições de l965 , o senhor é candidato
desde que deixou a presidência. Preciso ser eleito pelo Congresso".
Juscelino
conversou com lideres dos partidos assustados, sem força,
sem
capacidade de resistência. Foram eleitos, o Congresso ficou aberto, Castelo
precisava dele para a "prorrogação" do mandato. Aceitaram. Castelo
era tão sem caráter, que para seduzir JK, convidou seu ex-ministro José Maria
Alkmin para vice presidente. Tres meses depois de "eleito", Castelo
teve que sair do país por alguns dias, Alkmin não assumiu. Dormiu por três dias
num motel do Paraguai.
Com o
mandato "prorrogado" até 1967, Castelo começou a ofensiva-traição
contra Juscelino. Foi investigadissimo por um IPM chefiado pelo Coronel
Ferdinando de Carvalho, que submeteu o ex -presidente ás maiores humilhações.
Respondeu a esse IPM por um tempão, acabou cassado, com Castelo como
"presidente".
O MDB partido do "sim", e a Arena,
partido do "sim, sinhô".
Arena
era agressivamente situacionista. MDB tentava resistir, mas não tinha cobertura
da direção nacional. No MDB, dois grupos de resistência,todos
dizimados. Os "autênticos", notáveis. E aqui no Estado Rio, este repórter,
cassado em 1966, indicado pelas pesquisas como o deputado mais votado. Mas
tinha mos que assistir o senhor Chagas Freitas duas vezes governador entre
aspas. Foi "eleito" de 1970 a 1974 e de 1978 a 1982.
Surgem os partidos, mas a ditadura continua.
Em 1979
os generais produzem a famigerada, "anistia ampla, geral e
irrestrita", que só servia a eles. A partir de 1980 vão aparecendo os
partidos, Brizola tenta registrar o PTB, Golbery liquida suas aspirações, aparece
o PDT. E outros são registrados. Mas no inicio de 1982, Figueiredo
"presidente" (o menos pior de todos) chama Ulisses e Tancredo e
comunica que está acabando os partidos existentes e publicará as condições para
os novos. Precisavam começar com um P. Não limita o numero, foi aí que começou
essa multiplicidade.
Até hoje
não sei quem teve a ideia, mas foi notável. O MDB, que precisava começar com um
P, se transformou em PMDB, como está até hoje. Em 1989, a primeira
eleição depois da ditadura, resolveram disputar com um candidato próprio. Escolheram
o doutor Ulisses, não passaram de 5 por cento, nunca mais tiveram
candidato.
Até hoje
preferem a condição de coadjuvante importante beneficiado por generosas
parcelas do poder .
O PMDB
trava agora, de forma subterrânea , mas com repercussão
visível,
uma grande luta para saber ou decidir se um partido dominado
por
coronéis com interesse exclusivamente pessoal, é melhor do que um partido com
projeto, programa, compromisso com a comunidade.
Como coloquei no titulo, o
PMDB com o mesmo presidente desde 2001, é chamado muito justamente de
"partido motel." Principalmente quando esse "motelero",
quer continuar. Num visível ato de desprezo com todos os companheiros, "só
eu tenho condições de presidir". E Agora está apavorado e ameaçado. Pode
perder.
Para
provar que pode mesmo ser um partido Copacabana Palace, o PMDB tem
que construir uma ponte para o futuro, precisa se renovar, não pode se
comunicar por carta, aprovada antes por corruptos que estão á beira do precipício.
Até a chegada de fevereiro, o PMDB tem que se definir. Desde 1994 o partido
insiste em ser secundário. Não tem nem a ambição ou o orgulho de contribuir
para que o Brasil seja um país respeitado pelo mundo e admirado pelos
próprios conterrâneos?
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