Titular: Helio Fernandes

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019



RUI BARBOSA HÁ 120 ANOS
"Não há salvação para o juiz covarde"

De Anás a Herodes o julgamento de Cristo é o Espelho de todas as deserções da justiça, corrompida pelas facções, pelos demagogos e pelos governos. A sua fraqueza, a sua inconsistência, a sua perversão moral crucificaram o Salvador, e continua a crucificá-lo, ainda hoje, nos impérios e nas repúblicas, de cada vez que um tribunal sofisma, tergiversa, recua, abdica. Foi como agitador do povo e subversor das instituições que se imolou Jesus. E, de cada vez que há precisão de sacrificar um amigo direito, um advogado da verdade, um protetor dos indefesos, um apóstolo de ideais generosas, um confessor da lei, um educador do povo, é esse, a ordem pública, o pretexto, que renasce, para exculpar as transações dos juízes tíbios com os interesses do poder. Todos esses acreditaram. Como Pôncio, salvar-se lavando as mãos de sangue que vão derramar, do atentado que vão cometer. Medo, venalidade, paixão partidária, respeito pessoal, subserviência, espírito conservador, interpretação restritiva, razão de estado, interesse supremo, como quer que te chames, prevaricação judiciária, não escaparás ao ferrete de Pilatos! O bom ladrão salvou-se. Mas não há salvação para o juiz covarde.

RUI BARBOSA ”A Imprensa”, 31 de março 1899

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