Nosso judiciário é blindado
e sem dinâmica
“A blindagem é visível.
É quase
impossível ter acesso às folhas de salários dos tribunais do Brasil. Não há
uniformização nos procedimentos de busca, o que dificulta o entendimento e a
interpretação dos dados pelos cidadãos.”
ROBERTO MONTEIRO PINHO
A
divulgação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em 2014, no relatório do
judiciário no ano de 2013, revelando a existência de 92 milhões de ações em
tramitação na justiça, eram 83% de ações públicas sinalizava que o setor estava
em total embolia. A notícia enrubesceu a sociedade e instigou o setor econômico
do país, fazendo com que o mercado internacional e investidores, ligassem o
“sinal de alerta vermelho”.
No
final de 2014 o judiciário estava emperrado com 95,4 milhões de ações. Em 2017,
segundo estimativas, ultrapassou 108 milhões, devendo chegar em 2020 com a
marca bombástica de 130 milhões de processos.
Em
meio a esse alvoroço da máquina judiciária, seus atores simplesmente ignoram e
permanecem imunes aos reclamos. Sem proposta inteligente, para irrigar o setor
público, o governo optou por aumentar impostos e com isso sufocou mais ainda os
que produzem.
Ineficiência - O fato é que em 2014, o judiciário
consumiu 68,4 bilhões de reais em verbas públicas, o equivalente a 1,2% das
riquezas produzidas pelo País no período. Em 2017 foram R$ 93 bilhões. O
recorde de gastos está detalhado na pesquisa “Abrindo a caixa-preta: três
décadas de reformas do sistema judicial do Brasil”, uma parceria entre Luciano
da Ros, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e Matthew
Taylor, da Universidade Americana, de Washington.
A
Lei de Acesso à Informação, publicada em16 de maio de 2012 com o objetivo de
permitir um controle social, por parte da população, sobre os Três poderes,
parecia que o problema estaria sob controle, com dados mais acessíveis, a
fiscalização do dinheiro público seria mais eficiente. Houve avanços, mas não
em todos os Poderes.
O trabalho “O custo da Justiça no Brasil: uma
análise exploratória”, faz uma comparação das despesas entre países. O gasto é
de 0,32% do PIB na Alemanha, de 0,28% em Portugal, de 0,19% na Itália, de 0,14%
na Inglaterra e de 0,12% na Espanha. Nos Estados Unidos, 0,14%. Na América do
Sul, a Venezuela consome 0,34%, o Chile, 0,22%, a Colômbia, 0,21%, e a
Argentina, 0,13%.
Blindagem - O Judiciário é o Poder mais
fechado do país e, muito provavelmente, o mais corrupto. Não por acaso, acaba
provocando grandes distorções e facilitando a farra de salários nos tribunais.
Pesquisa realizada em 2016 mostra que 76,48% dos magistrados ganham acima do
teto constitucional de R$ 33,7 mil. Os maiores salários são recebidos por
desembargadores e juízes.
O que chama a atenção é o fato de as informações,
mesmo sendo públicas, estarem camufladas. A blindagem é visível. É quase
impossível ter acesso às folhas de salários dos tribunais do Brasil. Não há
uniformização nos procedimentos de busca, o que dificulta o entendimento e a
interpretação dos dados pelos cidadãos.
Não Com isso, protegidos pela
camuflagem, magistrados chegam a receber mais de R$ 500 mil por mês sem que os
contribuintes tomem conhecimento. Para perplexidade do contribuinte, o Brasil
tem uma das maiores cargas tributárias do mundo e alguns dos piores serviços públicos do planeta.
CNJ inoperante - O judiciário não
possuí uma dinâmica de trabalho. Não existe controle rígido das tarefas, essas
sequer são cobradas. Nas varas o
preposto do patrão (União) é o juiz, mas existe uma troca de favores, para que
este não fique assoberbado e tenha folgas alem do permitido. Quem conhece as
entranhas de um tribunal, sabe perfeitamente que nos gabinetes e secretarias,
os servidores, formam grupo de trabalho, de forma que todos só trabalhem quatro
dias por semana.
Os magistrados por sua vez, só trabalham três
duas. Por conta disso os advogado os denominam de TQQ (terças - quartas e
quintas). Quem controla o judiciário? A resposta é que não há controle. Ele
está descontrolado. De um lado, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), órgão que
possui a missão de contribuir para o aperfeiçoamento da justiça, possui
composição de membros que coincide com o perfil dos magistrados brasileiros.
Passados mais de 10 anos de existência do
Conselho, ainda há muito que se avançar para democratizar os espaços do sistema
de justiça, incluindo as demandas dos movimentos sociais e da sociedade civil
organizada. Por outro, as corregedorias são compostas pelos próprios juízes.
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