Original: domingo, 27 de dezembro de
2015
OS PERSONAGENS MAIS IMPORTANTES DO
GOLPE DE 64, FORAM JOÃO GOULART E OS GENERAIS. JANGO QUERIA FICAR NO PODER, OS
GENERAIS QUERIAM TOMAR O PODER.
HELIO FERNANDES
Matéria reprise de 17.01.15
A História do Brasil é inundada e conspurcada por
golpes e mais golpes. O primeiro aconteceu em 1889 quando República foi
dizimada por dois marechais cavalarianos, que mal podiam subir num cavalo. Essa
República que não é a dos nossos sonhos se dissipou nos 41 anos do partido
Republicano, até 1930.
Aí veio outro golpe a longo prazo, que se
transformou numa ditadura de 15 anos, que chamaram de Revolução. Os primeiros
sete anos, poder de apenas um homem (Vargas), pelo menos não havia violência,
tortura, prisão, perseguição. Era apenas preparação para o que surgiria em
1937, o assombroso e cruel "Estado Novo", com o mesmo Vargas, apoiado
e garantido pelos generais.
Como explico sempre não existe ditadura civil ou
ditadura militar, e sim a conjugação de civis e militares. Uns não podem manter
o poder sem os outros, são aliados sem o menor constrangimento. Pulemos logo
para 1960, quando foi dado o inicio ao golpe de 64.
Nesse ano, pela primeira e única vez, os
vice-presidentes eram eleitos pelo voto direto, junto com os presidentes. Era
registrada uma chapa, dois nomes, o cidadão-contribuinte-eleitor votava duas
vezes, no presidente e no vice.
Jânio Quadros, franco favorito, apoiadissimo pela
UDN, teve que aceitar um candidato da UDN, o responssabilissimo Milton Campos.
Queria como vice, João Goulart, sabia que este faria tudo o que ele mandasse.
Coisa que não aconteceria com um homem como Milton Campos.
Sem caráter, escrúpulos ou convicções, Jânio
corrigindo as coisas, criando o Comitê, Jan-Jan, mandando que votassem em Jango
para vice-presidente, o que aconteceu.
Jânio:
posse, véspera da renúncia.
Jânio chegou ao poder em janeiro de 61, começou
logo a articulação com os generais que o apoiavam, para que
"conquistasse" o poder sem tempo sem limitação. Meses depois mandou o
vice João Goulart para Cingapura, o outro lado do mundo, sem nenhum projeto,
nenhuma negociação ou acordo com outros países.
Jango que não era brilhante, mas não tinha nada de
tolo, desconfiou da viagem, mas foi. Quando estava lá, recebeu duas notícias. 1
- Jânio renunciara, não se sabia onde estava. 2 - Os generais não dariam posse
a ele, apesar de ser vice e o substituto natural, não assumiria. Confusão
terrível, os generais tinham armas mas não tinham popularidade.
Tiveram que
negociar.
Jango voltou, mas não veio direto para o Brasil,
parou em Montevidéu. Tancredo Neves, que fora Ministro da Justiça de Vargas em
1951, e tinha ficado intimissimo de Jango, Ministro do Trabalho, negociou. E os
generais para não perderem tudo, sugeriram o "parlamentarismo com Tancredo
de Primeiro Ministro", o que aconteceu.
(De passagem, esclarecimento para mostrar o
péssimo relacionamento de Jango com os militares, exatamente o contrário do seu
mestre e protetor, Getúlio Vargas. Ministro do Trabalho, em 1952 Jango dobrou o
salário mínimo, os militares não gostaram. Publicaram então o que se chamou de
"Manifesto dos coronéis". 69 deles exigiam a demissão de Jango, este
aceitou cordatamente. Tancredo aconselhou-o a ficar, Jango não aceitou).
Brizola não queria que Jango aceitasse o
Parlamentarismo, obteve do cunhado, a resposta: "Já aceitei. Tancredo é
nosso amigo, estamos no poder". Todo o ano de 1962, foi de preparação para
o referendo.
Conseguiu marcar a escolha para o dia 6 de janeiro
de 1963. Vitória facílima, 8 milhões para o presidencialismo, apenas 2 milhões
parlamentarias, Jango tomou posse logo, era outro Jango inteiramente diferente.
A eleição estava marcada para outubro de 1965, tinha muito tempo pela frente,
começou a agir.
Tenta atingir Lacerda.
Em março desse 1963, manda Mensagem ao Congresso,
decretando Intervenção na Guanabara. O objetivo nítido e visível é tirar Carlos
Lacerda do governo da Guanabara. O Congresso reage assombrado, não concorda,
nem mesmo os partidos que o apoiam.
Os líderes Waldir Pires (PSD) e Doutel d Andrade
(PTB) vão ao palácio Laranjeiras, (Jango quase não ia a Brasília) dizem a ele,
“não há clima para a intervenção”. Jango imediatamente retira a Mensagem.
Chega a vez deste repórter.
Em 21 de julho, recebo de um extraordinário informante,
cópia autentica de uma circular que o Ministro da Guerra, Jair Dantas Ribeiro
mandara a 12 generais. (no total eram 36). No, dois carimbos: “Sigiloso e
confidencial”.
Lógico, publico no mesmo dia, assim que a Tribuna
sai, Jango telefona para o Ministro, e deu a ordem: “mande prender o jornalista
AUDACIOSO, e enquadre na Lei de segurança”.
Fui preso
no mesmo dia, no Batalhão de Polícia, na Barão de Mesquita, onde anos depois se
abrigaria o Doi-Codi, comandado inicialmente pelo general Orlando Geisel, mais
tarde Ministro da Guerra. Na hora do banho de sol, pude constatar a tremenda
divisão do Exército.
Alguns oficiais cruzavam comigo, diziam, "resista, Hélio, estamos com você". Outros me olhavam com ar feroz, se pudessem me fuzilavam. Enquanto isso, meus advogados, Sobral Pinto, Prado Kelly, Adauto Cardoso e Prudente de Moraes, neto, entravam com Habeas-Corpus no Supremo.
O bravo presidente, Ministro Ribeiro da Costa mandou ouvir o Ministro para "saber quem mandara me prender". O general confirmou, aí o Supremo teve que julgar. Desconfiando de que havia alguma coisa fora da curva. O ministro ficou como relator, o que o regimento interno permite. Aceleraram o julgamento, para que terminasse em julho mesmo, os poderosos são supersticiosos, têm pânico do mês de agosto.
Ganhei de
5 a 4, surpresa para o presidente Jango e seu Ministro da Guerra. Tudo estava
preparado para que me condenassem a 15 anos de prisão.
Vou
numerar os quesitos para facilitar a compreensão.
1-
"Em março de 63 foi feita pesquisa, Jango aparece com 70% de aprovação. 86
na classe pobre, 62 na A e B". Desculpe, Navarro não houve nenhuma
pesquisa oficial. Se tivesse havido, Jango não teria obtido 62% nas classes A e
B.
2- Outra
suposta pesquisa, perguntava. "se Jango pudesse ser candidato, o que
aconteceria?". Não houve mais essa "pesquisa", a reeleição era
impossível.
3- Folha
e Estadão não tinham censores nas redações. Os censores só foram impostos para
alguns jornais, a partir de 1968, pouco antes do macabro AI-5. A situação do
Estadão, sempre foi a mesma, desde 1932, quando surgiu a "Revolução
Constitucionalista de 32", comandada pelo Doutor Julio Mesquita. Em 1937
ele foi exilado em Portugal, junto com o ex-presidente Bernardes.
Em 64
apoiou o golpe, não demorou muito foi dos maiores combatentes. Da ditadura.
Doutor Julio era assim, gostava do que considerava o bom combate. Não tinha
interesse, acima de tudo convicções. Diferente de quase todos os outros.
4- Depois
foi sempre contra o golpe, a tortura, a perseguição, não transigia. O jornal
foi sempre independente, contra ou a favor. 5- Juscelino era franco favorito
para 1965. Pouco antes de terminar seu mandato, fez sondagens sobre uma
possível reeleição, confessou, "não havia clima, desisti". Mas lançou
seu nome para 65, não perderia.
6- Jango
nem era considerado, jamais ganhou eleição, a não ser a fraude da vice montada
por Jango em 1960. 7- Os candidatos para disputaren contra JK, se não tivesse
havido o golpe, seriam Ademar de Barros pelo PPS, e Lacerda pela UDN. Este
sempre admitiu que "sua grande meta era a presidência".
Final:
vi, vivi, convivi. Tudo aqui é fato. Conclusão é outra coisa, cabe a cada um. Os
jornalões enriqueceram com o golpe, ganharam canais de radio, televisão (que
nem havia na época), hoje explicam o passado: "Apoiar a ditadura foi
equivoco jornalístico".
Enriquecidos
mas não arrependidos. Só que sabem que nada é esquecido, precisa ser explicado.
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