HELIO FERNANDES
*Há 50 anos morria o ditador
Castelo Branco, no mesmo dia escrevi esse artigo, a republicação é uma
lembrança histórica para o conhecimento dos que na época não tinham idade para
participar da história.
A grande
surpresa não foi o Congresso aprovar o golpista Castelo Branco, mas os rumos
que Costa e Silva e Cordeiro, unidos eventualmente, deram ao golpe. Fizeram um
Ato, modificando tudo o que existia no mundo em matéria de regime de exceção.
Arbitrário, autoritário, atrabiliário. Ditatorial como os outros, mas
inteiramente diferente.
Cordeiro
furioso, não sobrou lugar para ele, Costa e Silva ficou como Ministro da
Guerra, temido por todos. Fizeram então esse Ato, num bloco de papel, pequeno,
da mesma forma que Lucio Costa, em três traços ou linhas, criou o genial Plano
Piloto de Brasília.
Isto está sendo
publicado e revelado pela primeira vez, depois de 50 anos de ter saído na
Tribuna da Imprensa. Textual, podem ficar assombrados com a criatividade
ambiciosa dos dois generais. Em apenas cinco itens, sumaríssimos, mudaram e
modificaram a História.
Em vez de um
ditador FIXO, que ficaria no Poder pelo tempo que fosse possível. Um ditador
ROTATIVO com uma ditadura permanente. Teve repercussão no mundo todo, não só
por causa do golpe, mas principalmente pela inovação; Jamais existira isso, no
mundo ocidental ou oriental.
Os cinco itens.
1 – O presidente teria que ser um general. 2 – Do exercito. 3 – Da ativa e de
quatro estrelas. 4 – Não haveria reeleição para ninguém. 5 – Essas disposições
teriam que ser rigorosamente cumpridas. Era extraordinário, só que o tempo, o
espaço e o destino, são invioláveis e não podem ser entrelaçados ou planejados
com tanta antecedência.
Castelo queria
ficar mais tempo como “presidente”
Costa e Solva já
era candidatissimo á sucessão de Castelo. Marcada para 15 de março de 1965.
Golbery então, junto com os irmãos Orlando e Ernesto Geisel, lançou a
“prorrogação” do mandato de Castelo, com a aprovação do próprio. Era Chefe do
Estado Maior, se transformara em “presidente”, e não queria deixar o cargo.
Só que Costa e
Silva tinha força de Ministro da Guerra e notável popularidade junto á tropa.
Queriam que Costa w Silva assumisse logo, liquidasse a “prorrogação”. O general
foi para Vila Militar, acalmou a todos, garantiu: “Em 15 de março estaremos no
Poder”. (Não estariam, teriam que esperar até 15 de março, mas de 1967).
A seguir, como
desafio, viajou para a Europa, e no aeroporto respondeu aos
“prorrogacionistas”, satisfeitíssimo: “Embarco Ministro e volto Ministro”. Os
que estavam no Poder, desesperados e sem saber o que fazer, desistiram de lutar
contra Costa e Silva, mas tomaram sua providencias para não ficarem
subordinados ou ao alcance de Costa e Silva.
No final de
janeiro de 1965, Ernesto Geisel, que era general de Três Estrelas, foi
promovido, e logo nomeado Ministro do STM, (Superior Tribunal Militar). Golbery,
que era da reserva, foi para o Tribunal de Contas da União, também “vitalício”
até os 70 anos, Mas antes de tomarem posse, trataram da “prorrogação” do
mandato de Castelo, até 15 de março de 1967. Mais dois anos, explicavam:
“Castelo assim, com esse mandato de quase quatro anos, ainda fica menor do que
outros, civis, que tinham cinco”.
Por 1 voto,
“prorrogaram” Castelo
Golbery, que não
tinha o menor escrúpulo ou caráter, era presidente da Dow Chemical, a maior
empresa fabricante de distribuidora de Napal do mundo. Naquele tempo, ganhava
fortunas colossais com a Guerra do Vietnã, e a formidável derrota dos
americanos.
O general que
era Chefe do SNI ainda nascente, deixou o cargo, ganhou da Dow uma fazenda
maravilhosa, e de lá “exercia” o cargo de Ministro do TCU. E comandava a luta
pela prorrogação.
Conseguiram,
Costa e Silva aceitou, Cordeiro desistiu da “presidência”, foi nomeado Ministro
dos Transportes, importantíssimo.
(Já havia
ocupado, com enorme competência e honestidade, dois cargos civis. Interventor
do Rio Grande do Sul, quando morreu o general Daltro Santos, isso ainda com
Vargas. Mais tarde, já derrubado o “Estado Novo”, foi eleito governador de
Pernambuco pelo voto direto, quatro anos sem roubo ou violência).
Tudo começa a
dar errado, menos a perda do Poder
1967, acaba o
novo mandato de Castelo, ele morre num desastre de avião. Costa e Silva assume,
tem um derrame cerebral, (AVC) em 1969, os “Três Patetas” militares tomam o
Poder, mas são logo desalojados. Antes surge o tenebroso e monstruoso AI-5, que
teria provocado a “incapacidade e morte” de Costa e Silva.
E finalmente,
ainda em 1969, os americanos, que apoiaram, financiaram e garantiram com
dinheiro e intimidação as triturantes e torturantes ditaduras do Chile, da
Argentina e do Brasil, entram em desespero: seu embaixador no Brasil PE
sequestrado, têm que se render á exigências deles e os ditadores do Brasil
também.
Começa uma nova
Era, amargura para os americanos que querem seu embaixador de volta, a qualquer
preço. Os ditadores militares, aceitaram não tinham opção. Mas depois se vingam
inundando, encharcando e engolfando o país num mar de sangue. Torturavam
eventualmente passaram a tortura exaustivamente. Diziam que a “tortura era
indispensável”, (como confessou agora George Bush, 8 anos presidente dos EUA),
mas os próprios generais passaram a saber e a ter satisfação. Exatamente como
Pinochet no Chile, Videla na Argentina.
Aqui, todos os
generais morreram “anistiados”, o debate não é para punir e sim saber quem
torturou mais.
Carlos Lacerda e
Roberto Marinho: os dois sem qualquer preconceito
Em 1962, caiu um
edifício de 12 andares, no Bairro Peixoto, zona sul do Rio. Muitos prédios
construídos ali, um antigo e profundo lamaçal. Imediatamente a Câmara Municipal
aprovou projeto reduzindo os gabaritos para seis andares, naturalmente em
prédios novos.
Carlos Lacerda
era governador, Roberto Marinho comprou o terreno, queria construir outro
edifício com os mesmos 12 andares. Sem preconceito ético de nenhuma espécie
pediu ao governador licença para repetir o número de andares.
Lacerda negou,
respondeu: “Se eu violar o novo gabarito, posso ir preso na hora”. O dono do
“Globo” passou a atacar o governador diariamente na Primeira. Um amigo
perguntou a razão, Lacerda sem o menor preconceito racista, explicou: “Isso é
coisa do Roberto azul Marinho quase preto”.
CASTELO SE UNIU A GOLBERY PARA
DERRUBAR COSTA E SILVA, NÃO CONSEGUIRAM. MAS O GENERAL-MINISTRO ASSUSTOU A
TODOS. AS OBRAS DE ARTE DOS CORRUPTOS-CORRUPTORES, VÃO PARA O BELO MUSEU
NIEMEYER, TAMBÉM EM CURITIBA.
Parte Final.
Como falei
antes, a Junta Militar assumiu, tentou governar, não havia jeito. Enquanto
Castelo Branco garantia a JK: “Presidente, só quero confirmar e realizar a
eleição de 1965. E não posso fazer isso, sendo o Chefe de Governo Provisório, como
Vargas em 1930”. Já confundiam o golpe de 64 com o de 30.
Castelo
continuou mentindo descaradamente para JK: “O senhor é o mais interessado na
eleição de 1965, já é candidato desde que deixou o cargo em 1961. Preciso ser
aprovado e referendado pelo Congresso”. Juscelino acreditou e aceitou,
surpreendeu o Congresso com a proposta. Os parlamentares não tinham alternativa
nem força concordaram.
Depois das
cassações do “Primeiro de Abril”, JK que era senador, foi o primeiro preso
cassado, perseguido. Até que foi para o exterior. O golpe de 64 se dividiu
entre Castelo apoiado por Golbery e os irmãos Geisel, e a “Junta” de Costa e
Silva.
Separados,
divididos, em pânico com a força de Costa e Silva, o golpe se apossou do Poder.
E a tortura se materializou logo, ainda informal. Mas do plano conhecido de
Castelo, Geisel (Chefe da Casa Militar) e Golbery. Este o “homem fortíssimo” de
tudo, apesar de general da reserva.
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