*Blog oficial do jornalista Helio
Fernandes que durante 46 anos foi diretor do jornal Tribuna da
Imprensa. Aqui teremos suas matérias exclusivas, e também a participação
de colunistas especialmente convidados. (NR).
COMISSÃO DA VERDADE NEM SE PREOCUPOU
COM A DESTRUIÇÃO ASSASSINA DA TRIBUNA. TAMBÉM NÃO SE INTERESSOU PELO MEU
DEPOIMENTO DE SEIS HORAS NO SENADO. DENUNCIEI O GENERAL OTAVIO MEDEIROS,
NOMINALMENTE, PELO ATENTADO-PRORROGAÇÃO DA DITADURA.
HELIO FERNANDES
13.11.14
Fez trabalho
mais ou menos competente, embora tenha usado e abusado dos holofotes. São
humanos. Ontem exaltei a última tentativa: terminar os trabalhos, acabando com
a “anistia ampla, geral e irrestrita”. Hoje com base nessa mesma decisão, faço
restrição á Comissão, num fato gritante de perseguição e vingança dos ditadores.
Em 26 de
fevereiro de 1981, prédios e máquinas da Tribuna da Imprensa foram destruídos e
destroçados. Essa data é naturalmente posterior a 1978 e 79, quando os generais
se inocentaram, com essa “anistia ampla”. A Comissão não examinou esse crime,
não percebeu que mais do que uma vingança, aquele atentado era a preparação da “prorrogação
da ditadura.” O que tentaram no 1° de maio a seguir.
Meu depoimento de seis horas, na CPI
do terror.
Naquela madrugada,
diante dos escombros do jornal, grandes personalidades que estavam no Rio
souberam. Barbosa Lima Sobrinho, Alceu
Amoroso Lima, Ulisses Guimarães, Bernardo Cabral, e mais e mais. Funcionava em
Brasília no Senado a chamada CPI do Terror. O relator era Franco Montoro, que
me telefonou: “Helio, quero que você venha depor imediatamente. Conversei com o
presidente da ABI, Barbosa Lima Sobrinho, vou me encontrar com você amanhã no gabinete
dele”.
Encontramos-nos.
Acertamos, três dias depois fui a Brasília depor. Sessão extraordinária, lotadíssima,
não apenas de senadores mas também de deputados, da situação e da oposição. Respondi
a todas as perguntas, depoimento contundente e revelador.
Não esqueci
de um fato a respeito da preparação do atentado. Ou um nome dos criminosos,
começando e terminando com acusações tremendas ao Chefe do SNI, general Otavio
de Medeiros, que estava no cargo, poderoso. Se a ditadura fosse prorrogada, o
próximo general a chegar ao poder seria ele.
Seis horas assustadoras.
Como gosto
sempre de falar de improviso, as denuncias foram surgindo com precisão
Estarrecimento geral, as recordações estavam mais do que provadas pela precisão
das informações. Eu havia reservado Hotel (o de Brasília), ia dormir lá, previa
que o depoimento acabaria tarde.
Quando
souberam do fato, senadores me falaram até como repreensão: “Você não vai dormir
em Brasília de jeito algum”. Colocaram-me num carro, seguido por mais dois
também com parlamentares, me “empurraram” para dentro de um avião. Sabiam o que
podia acontecer se eu passasse uma noite em Brasília.
Meu depoimento desapareceu.
Na época os
discursos e depoimentos eram registrados por taquigrafas, hoje é de forma
eletrônica. Algum tempo depois, pretendi rever o que falei, pedi ao senado que
me desse cópia. Como disse aí em cima, falei de improviso. O senado me informou
oficialmente: “não há registro do seu discurso”.
Recorri e
muitos senadores, todos ficaram perplexos, não encontraram nada. Telefonei para
o próprio relator, Franco Montoro, que já era governador de São Paulo. Considerou
“impossível”, mas como tinha muitas ligações com o senado, disse que ia apurar
e “descobrir” onde estava o depoimento, “assustador” para os remanescentes da
ditadura.
Alguns
dias depois, Montoro me telefonou: "Helio, é inacreditável, não existe o
menor traço do teu depoimento. Se eu não fosse o relator e não estivesse
presente do primeiro ao ultimo minuto, até eu acreditaria que não houve nada,
que você não esteve presente".
Desapareceu mesmo para a Comissão da Verdade não
existiu
Essa
Comissão passou várias vezes pela Rua do Lavradio, sede da Tribuna e local da
vingança-depredação-prorrogação, nem se lembraram do passado, do presente, e da
lição depreciadora e destruidora que ficaria para o futuro. Principalmente
pelos efeitos negativos. E alguns insensatos e irresponsáveis, já pregam a
"volta da ditadura militar".
Essa
Comissão está na obrigação de investigar em profundidade o que estou
denunciando, até para me desmentir publicamente, se for o caso. E como tentam
(?) responsabilizar criminosos, podem e devem usar o poder que têm para
descobrir o meu depoimento de seis horas, na CPI do Terror do senado.
PS-
Imaginem esse depoimento publicado e revelado agora. Que frustração para os que
pedem a "volta da ditadura", não sabem conviver com a liberdade e a
democracia.
PS2- Por
outro lado, que trunfo e triunfo a CPI teria contra este repórter, com todos os
elementos para desmenti-lo. Se puderem provar que eu não fui depor no Senado,
que esse depoimento não desapareceu pela razão muito simples de que jamais
existiu.
PS3- A
sorte está lançada. Os membros da Comissão podem atravessar o Rubicon, sem se
molharem. Ou ficarão encharcados de pusilanimidade. Acreditando que são
baluartes da santidade, mas fétidos de responsabilidade.
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