A crise da justiça é institucional e
cultural
(...)“Há um quadro de
distorção proporcionado pelo próprio Judiciário, que deu aumentos
indiscriminadamente e não freou as regalias. Autoridades viajam a trabalho
sempre em assentos da classe executiva, assunto que já foi denunciado em
representação ao CNJ.
ROBERTO MONTEIRO
PINHO
A
ministra aposentada do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Eliana Calmon em
janeiro deste ano declarou a revista IstoÉ, que a, “delação da Odebrecht sem
pegar Judiciário não é delação”. E foi mais adiante, afirmando que (...) não
quis insinuar que exista especificamente algum juiz corrupto em qualquer esfera
do Poder Judiciário brasileiro, mas reiterou que acha “muito estranho” a
construtora “quase nunca perder uma ação na Justiça” e “nunca ter sido suspeita
em nenhuma das licitações” das várias que já venceu no Brasil.
“Nessa
república lesiva que é o Brasil, temos o Executivo e o Legislativo
altamente envolvidos nas questões da Odebrecht, tudo relatado nas delações no
âmbito da Operação Lava Jato. Tem-se aí pelo menos uns 30 anos em que a
Odebrecht ganha praticamente todas as ações na Justiça.
O
Judiciário nunca toma uma posição contrária à empresa? Será que o Judiciário é
o mais correto dos poderes? “Em todas essas inúmeras licitações que a Odebrecht
já ganhou no Brasil nunca a Justiça encontrou nada suspeito sem que precisasse
alguém denunciar”, questionou a ministra em entrevista ao jornal Tribuna da
Bahia.
Sendo o judiciário o executor das
leis, baluarte da liberdade e da democracia, e que se encontra empobrecido,
falido moralmente e decadente, onde o cidadão com segurança poderá buscar seus
direitos? Mesmo bancando uma fortuna para manter a justiça e o serviço público
no Brasil, o cidadão é refém do mais escabroso sistema de estado, inspirado no
vetusto modelo colonial, totalmente distante da realidade econômica e social.
Um estudo feito na Universidade
Federal do Paraná (UFPR) já apontava o nosso Judiciário como um dos mais caros
do mundo. Informações do Conselho Federal de Justiça (CNJ), responsável por
fiscalizar o Poder Judiciário, aponta que a Justiça brasileira custou R$ 174,1
bilhões ao contribuinte entre 2012 e 2016. Em 2015, o Planejamento empenhou R$
38,1 bilhões ao Judiciário. Um ano depois, o montante subiu para R$ 39,8
bilhões. Agora o número é blindado.
Dados do Conselho Nacional de
Justiça (CNJ) revelam que a folha de pagamento dos tribunais e dos órgãos
judiciários, consome 89% do orçamento. Os servidores, abocanham benefícios,
como carros oficiais, passagens aéreas, diárias, indenizações e gratificações,
praticamente nunca detalhadas no Portal da Transparência.
O relatório do CNJ divulgado em
2016 apontava que a força de trabalho do Poder Judiciário era de 451.497 mil
pessoas, entre servidores e terceirizados, dos quais 17.338 são juízes;
278.515, servidores; e 155.644, auxiliares. O documento mostra ainda que a
Justiça estadual é a que mais consome dinheiro público, seguida do Trabalho e
da Federal. Os tribunais superiores ficam com 4,2% do total.
Há um quadro de distorção
proporcionado pelo próprio Judiciário, que deu aumentos indiscriminadamente e
não freou as regalias. Autoridades viajam a trabalho sempre em assentos da
classe executiva, assunto que já foi denunciado em representação ao CNJ.
Outro ponto são as rubricas do
auxílio-moradia concedido aos juízes, que consome R$ 800 milhões por ano, fora
os salários dos magistrados e dos servidores. "Se gasta muito com juízes e
desembargadores, todos parecem participar de uma corrida maluca. E não há
estrutura básica para os servidores. No interior, você vê gente recebendo pelos
tribunais e trabalhando nas prefeituras".
De fato os números são elevados,
mas a prestação de tutela jurisdicional no Brasil é uma das mais lentas do
mundo. Isso se reflete no Estado, visto como um ineficiente prestador de
serviços públicos.
"A Justiça é caríssima
e muito lenta. O serviço que oferece ao povo brasileiro não vale os gastos. É
necessário que toda a estrutura seja revista", disse a ministra aposentada
Eliana Calmon, primeira mulher a compor o Superior Tribunal de Justiça no país e
ex-corregedora do CNJ.
Calmon comparou ainda o
custo-benefício do Judiciário, como o da Justiça do Trabalho. "Gasta mais
dinheiro que a Justiça Federal. Foi feito um cálculo, acho que nunca nem
divulgaram, do quanto essa instância devolve para o trabalhador. Não valia o
gasto. Seria mais barato o Estado indenizar o cidadão”, - acentuou Calmon.
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