Titular: Helio Fernandes

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

A Tragédia da Chapecoense (e da Fox Esporte),
e o jornalismo que não pode parar

HELIO FERNANDES

Ontem pela manhã, como faço habitualmente, sentei no computador, comecei a selecionar os assuntos que devia comentar, outros que precisava aprofundar.  E esperar os telefonemas que surgiriam incessantemente. E precisamente ás 9 horas atendo um deles, de um amigo querido: "Helio, você viu a tragédia com o avião da equipe da Chapecoense na Colômbia?". Ligo imediatamente a televisão, fico surpreendido, assombrado, estarrecido.

Começo a tomar conhecimento desse fato espantoso. A primeira constatação vem dos números: o avião transportava 81 passageiros, 75 estavam mortos. Como eram 22 os jogadores da Chapecoense e 20 os jornalistas e técnicos da Fox Esporte, não podia haver dado mais lancinante. 

Os que se salvaram eram pouquíssimos. A Fox Esporte que com excelente trabalho, conquistara lugar de destaque na televisão esportiva, perdera uma equipe inteira. Narradores, comentaristas, repórteres, técnicos. Pessoal e profissionalmente, como substituí-los? Alguns, amigos do repórter. Outros, que assistia com o maior prazer, em diversos momentos.

A Chapecoense, pela primeira vez disputava uma final internacional. A cidade de Chapecó, Santa Catarina, vibrava com o fato, e com a final que seria disputada hoje, quarta feira. O prefeito da cidade iria viajar no avião fretado, teve que desistir no último momento. E a tragédia aconteceu por causa de outro fato rigorosamente inesperado.

O avião foi diretamente para a Bolívia. Lá, constataram que o avião fretado não poderia continuar a viagem. Como era pequeno o trajeto entre a Bolívia e o aeroporto da Colômbia, e havia um avião saindo, quase vazio, mudaram, sem nenhuma dificuldade. Pelo menos acreditavam. Quase descendo, o avião desapareceu no espaço. No momento em que escrevo, não se sabe exatamente o que aconteceu. Durante toda a terça, as televisões irão informando e dissecando os fatos. A internet completará.

Quanto ao repórter, alem da saudade, completamente traumatizado. Mas tendo que continuar a "cobrir" os assuntos nacionais e internacionais. Imprescindíveis e irrefutáveis.

A cremação de Fidel

Minha ultima nota, ontem, sobre o domingo dia 4, com a cremação do homem que dominou Cuba por 50 anos, foi sobre a possibilidade do não comparecimento de grandes personalidades. E mais a ausência de Putin e de Obama. Agora, já foram oficializados outros nomes, todos da Europa. Angela Merkel, o Presidente da França, o Primeiro Ministro da Itália, e mais e mais.

O único que confirmou a ida, foi o Rei da Espanha. Não faz parte do que Fidel costumava identificar, "como a consagração da minha despedida da vida". Em 1935, Proclamada a Republica e eleito o primeiro, presidente, em 1936 começou a mais terrível guerra civil dos tempos modernos. E o cruel carrasco general Franco implantou a ditadura, que durou mais de 30 anos de carnificina.

No final já praticamente fragilizado, Franco restabeleceu a monarquia. E o atual Rei, que apoiou a ditadura de extrema direita, agora vai á cremação de um ditador comunista. Isso se obtiver licença para viajar. Ele, a filha e o genro, respondem perante a justiça por irregularidades financeiras.

Trump e Cuba

O presidente eleito, não escondia durante a campanha, que revogaria muitos dos atos praticados por Obama. Um deles: acabaria com o restabelecimento das relações diplomáticas e comerciais, entre Cuba e Estados Unidos. Assim que Trump foi considerado eleito, revelei aqui. Ele pretende voltar atrás na decisão de Obama, até para agradar uma parte do Partido Republicano. 

Que não aprovou o que foi feito pelo Presidente Obama. E acrescentei: "Receio de Trump é enfrentar o Papa, conciliador e avalista do acordo". Chegou a ir a Cuba, para reforçar a posição de Raul Castro, no Poder. E precisando muito dessa reconciliação com os Estados unidos.

Trump enfrentará problemas e pressões empresariais. A reconciliação está em pleno desenvolvimento. Ontem pousou em Cuba, pela primeira vez em 50 anos, um avião vindo de Miami. Trump falou sobre o assunto, mais cauteloso. Pregou modificações e não o fim do relacionamento. É possível conversar. Mas o difícil quase impossível, é conversar ou confiar num racista, extremista, traste humano como é o presidente eleito.

 Moro veta perguntas de Cunha a Temer

O ex-presidente da Câmara apresentou o presidente da Republica, como uma de suas testemunhas de defesa. Como Temer tem direitos privilegiados, o juiz comunicou o fato a ele. E informou perguntando: "Se aceitar pode escolher como quer depor". Como se esperava, Temer respondeu, "por escrito".

Quando soube pelo juiz, da resposta de Temer, Cunha ficou furioso. Era o único que acreditava que Temer fosse pessoalmente se encontrar com ele. Cunha levou 12 dias para redigir 41 perguntas para serem encaminhadas ao presidente Temer. Não esperava que fossem lidas antes, pelo próprio Moro.

Ainda não foram enviadas ao destinatário. Delicadamente, Moro cortou 21 das 41 perguntas. Acusado de ter feito censura, explicou simplesmente: "Essas 21 perguntas não tinham nada a ver com os processos a que Eduardo Cunha responde". Na verdade Cunha acusava Temer, perdeu uma testemunha que poderia ser importante.

Para Cunha, nenhuma testemunha pode salva-lo. Ele é um dos muitos personagens, que todo tempo que ficou em liberdade já é lucro. 

Calero: gravações e carreira diplomática

Ele não cometeu nenhum crime, nem premeditou a gravação. Como eu disse no
mesmo dia, Calero fazia um seguro profissional. Se a conversa com o presidente fosse normal, tudo continuaria normal. Mas diante da tremenda indignidade verbal do presidente, Calero não teve saída ou opção.

O próprio presidente indireto, voluntariamente colocado na posição de cúmplice de Geddel, percebeu logo que tinha havido gravação. Isso depois de Calero ter se
retirado. Chamou o "chefete de policia "(royalties para Renan Calheiros), mandou "verificar se a conversa havia sido gravada". Só descobriram ,quando já ex-ministro, Calero foi á policia.

A situação profissional de Calero é insustentável. Já existem rumores de que receberá um posto no exterior. Diante da falta de grandeza de Temer. E da nenhuma independência do Ministro do Exterior, Calero estaria mais perto da Tanzânia do que de Paris. 

E sua carreira, com pouca chance de sobrevivência. O corporativismo dos que ocupam o Poder, realidade indestrutível. O Ministro Chefe da Casa Civil, foi o primeiro a fazer pressão sobre Calero, por "sugestão" de Temer. Ontem teve que chamar um médico. Motivo: inesperado pico de pressão alta. 
A votação das medidas contra a corrupção

Ás 17 horas, na Comissão Especial, praticamente ninguém. Alguns justificavam com o trauma da queda do avião, que matou o time do Chapecoense. E 20 jornalistas da Fox Esporte e de outros órgãos de comunicação. È possível, o trauma foi inimaginável. Mas uma realidade inacreditável.

Ás 18,15 no plenário, 19 deputados. A sessão presidida pelo segundo suplente da Mesa. Ficavam procurando oradores para não encerrar os trabalhos. Também não podiam abrir a "Ordem do Dia", por 2 motivos. 1- Não havia numero. 2- Se abrissem a "ordem do dia", a Comissão Especial não poderia funcionar. È o momento mais degradante do Legislativo.

O POVO NA RUA

Durante horas, milhares de pessoas, protestavam em frente ao Congresso Nacional. Repelidos violentamente pela policia, multidões gritavam: "Queremos votação".  Referiam-se á Comissão Especial contra a corrupção, que não se manifestava. Ninguém sabia a que horas ia começar ou terminar a votação.

A PEC DO DESGASTE

Diretamente contra o Senado, protestavam contra a PEC dos gastos. Também conhecida como "PEC do desgaste". Era a primeira votação no Senado. Arrogante, o senador Romero Jucá blasfemava: "Teremos no mínimo 65 votos". Devem ter mesmo. Coordenaram e compartilharam 65 senadores, é esse numero que tem que aparecer no placar.

PS- O Movimento Brasil Livre, que obteve grande repercussão em 2013, voltou ás ruas. E publicou ontem, entre aspas, o seguinte: "Que nojo, Aécio Neves! FH foi outro que se esmerou em nos fazer vomitar. (Ao dar declarações positivas sobre Fidel Castro)".

PS2- Mas ainda existe grandeza e esportividade. O Atlético da Colômbia, que disputaria hoje, quarta, a final contra o Chapecoense, mandou oficio á Commebol: "Não tem nada de marcar outra data, o Chapecoense é o campeão, de fato e de direito".

PS3- Clubes cariocas e paulistas, coordenam movimento de solidariedade ao Chapecoense. Cederiam de graça, jogadores, para que o clube continuasse disputando o campeonato. Já com adesão de outros estados.

PS4- A votação do projeto contra a corrupção, terminará perto da madrugada. Se terminar. Os obstáculos, as manobras, as tentativas pelo menos de retardamento, incontáveis.


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