Titular: Helio Fernandes

sábado, 8 de agosto de 2015




HELIO FERNANDES
publicada em 09.09.14

Mocissimo, meu primeiro trabalho jornalístico importante, foi cobrir a constituinte de 45 que discutiu, votou e promulgou a Constituição de 46. Eu era secretário-adjunto de "O Cruzeiro", o cargo de editor ainda não chegara ao Brasil. Foi trazido pelo notável jornalista Pompeu de Souza, que morou anos nos EUA e na Inglaterra.

Comecei praticamente toda uma geração de políticos, de varias tendências, mas inegavelmente superiores aos de agora. Naturalmente com as exceções de praxe. Fiz ótimo relacionamento, construí pontes e amizades. Um deles, o então deputado Juscelino Kubitschek. Em 1950 foi eleito governador de Minas,em 1954, candidato a presidente.

Um dia me telefonou Horácio de Carvalho, diretor-proprietário do Diário Carioca,jornal que eu dirigiria mais tarde. Queria me convidar para almoçar no seu apartamento da Avenida Atlântica, a pedido do governador Juscelino Kubitschek.

O então governador já candidato a presidente pelo PSD, o maior partido brasileiro, que não chegou a completar a maioridade, assassinado pela ditadura em 1964. Juscelino queria me convidar para dirigir a comunicação da sua campanha presidencial.

Mas antes me avisou e preveniu: "Hélio, não temos dinheiro para nada, se você aceitar, será o único no comitê, junto com o presidente, embaixador Negrão de Lima". Respondi imediatamente: "Governador, correr e percorrer o Brasil todo, durante um ano, é proposta irrecusável". JK ficou satisfeitíssimo, eu também.

Logo depois da morte de Vargas (suicídio politicamente genial como chamei sempre, desde o dia seguinte da tragédia) JK pediu audiência ao vice que assumira, Café Filho: " Presidente vim lhe comunicar que serei candidato a presidente". Café Filho agradeceu e respondeu: "Não terei candidato, ficarei neutro". Mas logo lançava o nome do general Juarez Távora, Chefe da Casa Militar.

A campanha foi excelente, conhecemos "grotões e igarapés", como Tancredo Neves definiria depois. JK ganhou muito bem, apesar da máquina governamental ser jogada totalmente no propósito de eleger o general. Antes de posse vieram os dois golpes de 11 de novembro de 1955. Um para não dar posse ao vencedor, e o outro para refender a vontade do eleitor.

Reconhecida sua vitória e com a posse garantida, JK resolveu viajar como "presidente eleito e ainda não empossado". Marcou a viagem para 2 de Dezembro, me falou "Hélio, vou viajar, apenas eu e mais três pessoas. (Dois do Itamarati). Quero convidar você para ir".

Aceitei, claro,mas disse a Juscelino: "Presidente, é lógico que aceito, mas sou jornalista, e o senhor é a grande noticia. Por isso quero ficar sempre ao seu lado". O presidente riu e garantiu: "Você saberá de tudo o que acontecer no Brasil enquanto viajamos, aqui você verá e saberá de tudo, na hora".        
Viagem maravilhosa, não há dinheiro que pague. Fomos recebidos por reis, rainhas, presidentes e primeiros ministros. Começamos pelo presidente Eisenhower, que se recuperava de um enfarte na bela Ilha de Key West.

JK-Salazar 

Não vou contar a viagem maravilhosa, apenas o que está atualíssimo, 59 anos depois. Fomos recebidos então pelo ditador, no belo palácio presidencial. Muita gente, mas num relâmpago, os dois ficaram sozinhos e eu ao seu lado.

Salazar então disse a JK: ”Presidente, se o senhor quiser governar todo mandato, não faça reforma cambial, nem se descuide do Banco Central”. Foi surpreendente. Mas logo as pessoas se aproximaram, a conversa que poderia render muito mais, acabou.

Ficamos algum tempo circulando, fomos embora. No carro JK me perguntou: “Helio, o que o presidente Salazar estava querendo dizer?”.

Resposta do repórter: “Presidente, Salazar é um ditador, Ministro das Finanças nomeado pelo presidente, general Carmona, que ele derrubaria. Mas antes disso, era um respeitado professor de Finanças da Universidade de Coimbra”.

JK ficou visivelmente preocupado, e não apenas durante a viagem. 
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sexta-feira, 7 de agosto de 2015


HELIO FERNANDES
publicada em 23.12.13

Parte - II

A conversa sobre guerrilha

Deixei o carro no Jardim do Meyer, além de ter nascido ali, ia muito à casa do extraordinário Agripino Grieco, que espantosa biblioteca. Os jornais naquela época tinham o que ficou eternizado como “rodapé”. Pela forma como eram colocados nas paginas e pela importância dos que escreviam.

Na verdade foram os precursores do “colunismo,” mas “Nossa Senhora”, que genialidade. Agripino foi o primeiro, depois vieram Alceu Amoroso Lima, Álvaro Lins, Eduardo Portela, todos grandes amigos do repórter. Sabia que em 15 ou 20 minutos estaria na casa do Marighella.

Genialmente automático. Olhei o numero da casa, atravessei a rua, a porta se abriu. 19 anos depois, reencontrava Marighella. Já era uma lenda, ainda iria mais longe, se transformaria em legenda, como conta magistralmente Mario Magalhães. Entramos logo no assunto.

Começou: “Helio, quando posso acompanho a tua luta, e tenho enorme admiração pelo teu poder de analise, por isso pedi para você vir aqui”.

O que ele queria, não demorou: ”Helio, estamos organizando a guerrilha, queria saber a tua opinião”. Ficou em silêncio, respondi: “Não tenho nada contra a guerrilha como forma de luta, o que me interessa é a proporção das forças. Quantos serão esses guerrilheiros?”.

“Seremos 60 no Maximo” 
   
Fiquei assombrado, sabia que não formaria um exercito, era uma força para combater. Incomodar o adversário, sem nenhuma possibilidade ou pretensão de vitória. Mas não queria desacreditar a vontade de ninguém, eu estava ali para analisar e não para desencorajar.

Falei para um Marighella atento, silencioso, mas muito bem informado: “O Exercito vai partir com tudo para cima de vocês. Pode ficar certo que serão 60 mil armadíssimos, contra 60 de vocês, que terão que enfrentar a luta na floresta, a traição que é natural, e a ânsia de tortura dos que se jogarão sobre vocês”.

Continuei, tentando mostrar a desigualdade: “Vocês todos tem admiração pela Coluna Prestes, eu também. Mas já se passaram mais de 40 anos. O país mudou as forças armadas, agora, tem serviços de inteligência, vão localizar vocês imediatamente e saberão sempre onde vocês estarão”.

Passei para a História de Canudos e Antonio Conselheiro: “O Exercito mandou três quartas partes do seu efetivo, para lá. Envergonhados, chamaram a quarta “expedição suplementar”. Assassinaram todos em Canudos, na quarta expedição levaram até canhões, que montaram num morro chamado FAVELA".

Que depois seria imortalizado e eternizado, nos morros do Rio, pelo único que escapou de Canudos.  E reprisei: “Morreram todos. O único “herói” de Canudos, foi o Coronel Moreira Cesar, conhecido muito verdadeiramente, como “coronel corta-cabeça”.
 
PS – O encontrou levou duas ou três horas, já sabíamos que havia terminado. E logo Marighella levantou, me abraçou: “Foi ótimo ouvir você. Toda luta tem riscos, você faz a tua parte que é importantíssima”.

PS2 – Continuou: “Você sabe muito bem, ou não teria sido convocado, que resistiremos, haja o que houver. Não vou contar nada aos companheiros, mas nossa decisão é definitiva. Considero tua analise positiva, em nenhum momento você negou a guerrilha”.

PS3 – Não me pediu silencio, não disse para manter a conversa entre nós, me conhecia. Guardei sigilo por 46 anos, mesmo depois de tudo ter acabado. Agora, conto, como homenagem ao bravo lutador.

PS4
 – Nunca mais encontrei Marighella. Ainda me lembro de suas ultimas palavras, não me levando até a porta: “Saia pelos fundos, você entrou pela frente”. Não era recomendação, e sim um dos segredos da clandestinidade.
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quinta-feira, 6 de agosto de 2015

HELIO FERNANDES
publicada em 23.12.13

Parte - I

Conversa interessantíssima, importante, pelo conteúdo, e que deixa bem claro, a razão dos comunistas serem mestres da clandestinidade. Durante vários períodos ficavam livres, apareciam. Logo, logo voltavam a serem procurados, desapareciam.

É a primeira vez que escrevo sobre o fato. Nem na Tribuna de papel nem no blog. Sabia que o grande jornalista e escritor Mario Magalhães fazia biografia elucidativa do líder comunista, não contei nada a ele. Não queria dar a impressão de que pretendia aparecer. Só falei com ele mês passado, quando a biografia já era sucesso de critica e de bilheteria, com várias edições.

Meu relacionamento com Marighella

Conheci os 14 deputados comunistas e mais o Senador Luiz Carlos Prestes, na Constituinte de 1945. Que promulgou a tão esperada Constituição, em 18 de setembro de 1946. Mocíssimo, Secretario-adjunto da Revista O Cruzeiro, fui cobrir os trabalhos. (Ainda não existiam os editores. Foi o bravo jornalista Pompeu de Souza, que morou anos na Inglaterra e nos EUA, que trouxe a palavra. Implantada por ele na belíssima fase jornalística do Diário Carioca).


Como eu ia à constituinte durante 7 meses e 18 dias, e como era de uma revista importante, fiz amizades. Não era nem nunca fui comunista, mas minhas inclinações progressistas eram visíveis na convivência e no que escrevia. Daí as conversas com Grabois, José Maria Crispim, Lamarca, Jorge Amado, e lógico, Marighella, personagem de hoje.

Com Prestes conversei também varias vezes. O que não me impedia de ficar furioso, quando ele e Plínio Salgado sentavam juntos amigavelmente. E depois, os dois na tribuna, se agrediam (é a palavra) violentamente.

Separados Câmara e Senado, continuei freqüentando as duas casas, com os comunistas, até 1948. Nesse ano o partido (Partidão) teve o registro cassado. Prestes foi avisado pelo seu advogado na ditadura do “Estado Novo”, e para sempre seu amigo pessoal, o bravo Sobral Pinto. Todos foram embora, ninguém foi encontrado ou preso. Embora não tivessem fugido do Brasil.

“Marighella quer conversar com você, com urgência”

Um dia, antes do AI-5, mas com o endurecimento mais que visível nas ruas, e os prisioneiros sofrendo na carne a tortura impiedosa, tortura que era a base, a idolatria, filosofia e ideologia dos generais, me telefona um grande amigo, que não via ha tempos.

Excelente figura, líder comunista, morreu ha mais ou menos três anos, fui ao enterro. No telefonema não disse o que esta no titulo destas notas, era sabido, discreto e eficiente. Textual: “Helio, pode me encontrar ás 2 horas da tarde?”. Nem podia recusar, ele completou: “Então me encontre na Avenida Rio Branco esquina de Assembléia”.

Não disse mais nada, desligou. Nessa avenida, quando abre o sinal para os pedestres, passam uns 300 para um lado ou para o outro. Não olhou para lado algum, o sinal ficou verde, disse, “vamos”, tirou um papel do bolso, e no meio daquela confusão, me entregou sem uma palavra, era a lição maior da clandestinidade.

Li rapidamente fiquei surpreendido. Era um endereço no Cachamby, quase um sub-bairro do Meyer, onde nasci. Perguntou, “decorou?”. Como respondi afirmativamente, terminou: “O Marighella está te esperando às 2 da tarde, não toque a campainha ele sabe quando você chegar”. Esperou eu dar a indicação do lado para onde iria, seguiu logo no sentido contrario, sem um aperto de mão, realmente desnecessário. Só vi quando esmigalhou o papel, que já era pequeno, foi jogando pedaços nas lixeiras.


Continua amanhã – Parte II
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terça-feira, 4 de agosto de 2015

(CONTINUAÇÃO DO PARTE – ll)

A MORTE DO DITADOR CASTELO BRANCO, DOCUMENTO HISTORICO QUE COMPLETA 48 ANOS – IIl.

HELIO FERNANDES
15.01.15

Roosevelt, ao acabar de morrer era violentamente condenado por jornalistas norte-americanos, tendo mesmo um deles chegando a dizer "que morrera um comunista que traía o seu próprio país". D. Pedro II ao morrer, era cruel e violentamente atacado antes mesmo do seu corpo baixar à sepultura.

O império romano, que era tido e havido como uma muralha intransponível, foi abalado pela morte violenta de Cristo e pela sua flagelação, que inclusive desencadeou um processo que não terminou até hoje. Os exemplos são inúmeros e sem conta. Stalin já foi herói, canalha outra vez herói e no momento a confusão é tão grande que ninguém pode sequer afirmar com segurança se seu nome figura até mesmo nos livros de História da Rússia...

Júlio César foi apunhalado por seu maior amigo quem ele venerava como filho. E o próprio Brutus, depois de assassinar aquele a quem mais amava no mundo, chorou amargamente, pois o que destruía ao assassinar Júlio César, era o despotismo era a ambição desvairada, era a sede de poder que se sobrepunha a tudo. Brutus adorava o homem e desprezava o político. Por isso, assassinou-o. 

E Shakespeare sintetiza magnificamente esse drama, em poucas palavras: "Para o homem as lágrimas; para o homem o amor; para o homem a alegria; para o homem a honra. Para a ambição e o despotismo do político, a morte."

O jornalista é o melhor informante da História, e os jornais são os grandes repositórios onde os Historiadores vão buscar os fatos que transformarão em verdades eternas ou fulminarão inapelavelmente. A própria essência e o fator principal de sobrevivência da democracia, é precisamente esse: o respeito aos julgamentos contrários. E com a minha crítica ou sem a minha crítica, o ex-“presidente” Castelo Branco já pertence à história. 

Quanto à postura que exibirá é o recolhimento dos depoimentos de hoje que dará a ultima palavra. Campos Salles saiu do governo humilhado e reabilitou-se.

Floriano foi apedrejado e repudiado, mas já adquire hoje uma dimensão própria. Quem dirá que o mesmo não acontecerá com Castelo Branco? No meu entendimento, a passagem do tempo só agravará os seus terríveis erros. Mas quem dirá que o meu entendimento não será superado pelo julgamento da História?

De qualquer maneira, a mim o que interessa é  meu julgamento íntimo. Com o ex-presidente vivo ou morto, mantive-me coerente, não modifiquei uma linha o meu comportamento diante dele. Como político ou como figura histórica minha impressão sobre ele, é sinceramente a mesma. É muito conhecida a posição de alguns donos de jornais em relação a Juscelino e Jango. 

Quando estavam no Poder, eram chamados de estadistas endeusados, elevado às culminâncias, glorificados em vida. Agora que estão fora do poder no ostracismo, cassados e banidos são chamados dos piores adjetivos, insultados quase que diariamente. Essa canalhice eu me recuso a praticar.

Quanto ao meu julgamento político sobre o Castelo Branco era rigorosamente igual ao da maioria esmagadora do Exército. E tanto isso é verdade (hoje uma simples verdade, amanhã um fato rigorosamente histórico), que o ex-“presidente” foi virtualmente deposto, pois de outra maneira o seu esquema continuista, teria funcionado e o marechal Costa e Silva não seria "presidente" da República. 

E os que tentaram se servir da minha sinceridade e da minha coerência como trampolim para atingir as suas ambições, sabem muito bem disso.

Em outubro de 1965, o Sr Humberto de Alencar Castelo Branco foi deposto pelos seus próprios companheiros militares.
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“COLOMBINA ONDE ESTA VOCÊ!” DILMA JÁ ESTÁ ARRUMANDO AS MALAS. LULA JÁ ESTÁ COM AS MALAS NO EXTERIOR. DIRCEU JÁ ESTÁ DANDO AUTOGRAFO NO PRESÍDIO DE CURITIBA. CUNHA O EQUILIBRISTA E ESTRATEGISTA NUM CONGRESSO DE MALABARISTAS

ROBERTO MONTEIRO PINHO
04.08.15.

Dilma, Temer e Cunha. O impeachment como solução ou desestruturação. PT, Lula e Boquinhas cantam a marcha: “Colombina onde está você!”.

No dia 25 de junho o vice-presidente Michel Temer usou sua página no Twitter para dizer que não participa de “movimento contra o presidente da Câmara”, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O Cunha foi citado no depoimento de um dos delatores do esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato, Júlio Camargo, que o acusa de ter recebido R$ 5 milhões em propina. Cunha nega a acusação, mas pode vir a ser denunciado pela Procuradoria-Geral da República ao Supremo Tribunal Federal.

Muitos perguntam, Cunha rompeu mesmo com o governo Dilma?  “Não participo de movimento contra o presidente da Câmara. As relações entre governo, Câmara dos Deputados e PMDB devem ser institucionais, tendo em vista os interesses do País”, escreveu Temer na rede social. A mensagem foi compartilhada por Cunha minutos depois, também pelo Twitter.

A bancada do PMDB na Câmara dos Deputados saiu em defesa de Cunha e informou que não aceitará “especulações que visem a enfraquecer a autoridade institucional do presidente da Câmara”.
O escândalo que envolve políticos e executivos brasileiros tem seu foco atual na Lava jato, onde empreiteiros e executivos do governo e políticos figuram numa lista de mais de 100 nomes envolvidos.
Todos os anos a organização não governamental (ONG) Transparency International realiza um abrangente estudo sobre a corrupção mundo afora. A edição 2014 do Corruption Perpception Index (Índice de Percepção da Corrupção) avaliou 174 países. A partir da opinião de diversos especialistas no tema, são conferidas aos países notas que variam de 0 a 100.
Foram considerados apenas os países mais problemáticos, de acordo com a sua classificação geral no índice, e os destaques são a Somália e a Coreia do Norte. Ambos registraram a nota 8, considerada muito ruim. Juntos, os países ocupam a última posição no ranking, a 174ª.
Para a entidade, os resultados mostram que a corrupção é uma realidade global e nenhum país conseguiu atingir a nota máxima. A Dinamarca, por exemplo, que ocupa a 1ª posição da classificação geral, obteve 92 pontos. Já o Brasil ficou em 69° com nota 43. 
Agora José Dirceu o líder do PT Boquinhas, mais uma vez caminha para a prisão, sob acusação de envolvimento na Lava jato, e sendo desta não mais primário, entendo que terminará seus dias, com tempo de sobra para escrever uns três ou quatro livros sobre “As entranhas do Poder”, Ou “Como um líder consegue desmoronar, com tamanha facilidade?”.
Se acontecer a queda de Dilma e Temer, um suspense!, o presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha será o presidente? Essa é a pergunta, que preocupa milhões de brasileiros. Moço, inteligente, articulado, um ousado, que pode ser a opção num momento de ira nacional.Nada contra, respeito opiniões...


segunda-feira, 3 de agosto de 2015

A MORTE DO DITADOR CASTELO BRANCO, DOCUMENTO HISTORICO QUE COMPLETA 48 ANOS – II.

HELIO FERNANDES
*publicada em 14.01.15

É tolice e mais do que isso, é má fé evidente e declarada, pensar que um presidente da República pode se furtar ao julgamento da História. Principalmente um homem que chegou à “presidência” inesperadamente no bojo de uma revolução contra o Poder constitucional e legalmente organizado.

E o julgamento da posteridade começa antes da morte, não pode respeitar a morte, é mais importante que a própria morte acontecimento irrevogável; o julgamento da História é uma realidade que transcende a existência do homem público, é um processo que não pode ser detido apenas porque a morte brincou ou abreviou o espetáculo. Pelo contrário, é a morte que acelera o julgamento, que o isenta de suspeição, que purifica, pois o morto já não pode mais influir sobre os juízes. Na vida pública, a posteridade começa ontem e não amanhã.

Quaisquer que sejam as opiniões sobre o “presidente” Castelo Branco (a minha inclusive) a verdade é que ele já pertencia a História brasileira. São os subsídios de todos os seus contemporâneos, de todos os que contracenaram com ele, de todos os que participaram com ele, ao lado dele ou contra ele, durante os principais acontecimentos destes anos, que vão formar o “dossiê” do seu julgamento.

Se durante três anos forneci a esse “dossiê” as mais terríveis peças acusatórias contra a administração do ex-“presidente”, porque haveria de retirar todas essas peças do processo histórico pelo simples fatio dele ter morrido? Seria uma covardia que não engrandeceria em nada o julgamento Histórico do ex-“presidente”.

Morto ou vivo, o ex-”presidente” Castelo Branco pertence ao grande acervo da História, que há de absolvê-lo e glorifica-lo ou condena-lo e desprezá-lo. Mas a História não é uma entidade abstrata ou mitológica, que e nutre de simbolismos ou se alimenta de “verdades” absorvidas através de bolas de cristal.

A História se forma, se consolida, se alimenta de depoimentos. O meu é rigorosa e inequivocamente contra o ex-“presidente”. E os que se acirraram contra mim, prestaram um terrível desserviço à memória do ex-”presidente”, pois deram ao meu depoimento uma força e uma repercussão que ele não tinha, e agora indiscutivelmente tem.

Quem é que pode dizer quando nasce o herói ou o anti-herói: Quem pode precisar o momento em que aparece o mito ou surge o anti-mito? Quantas vezes o herói desaparece tragado pelas páginas da História e em seu lugar nasce o anti-herói: E quantas vezes uma figura execrável e combatida em determinada época, transforma-se no curso da História, acaba por ser glorificada e endeusada? E quando a glorificação se dá depois da morte, então ai o julgamento é irreversível e indiscutível, porque se realizou sem a menor participação do morto.

Os julgamentos que se processam em vida, são precários e inseguros, pois quase sempre representam apenas manifestação da hipocrisia ou de interesses pessoais, coisa que não acontece com o sagrado julgamento da História.

NA PRÓXIMA PUBLICAÇÃO. (III-Parte) (...) Rooselvelt, ao acabar de morrer era violentamente condenado por jornalistas norte-americanos...
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sábado, 1 de agosto de 2015

HELIO FERNANDES
publicada em 31.03.14

Hoje e amanhã, 31 de março e 1º de abril, trato do golpe de 64 com lembranças do passado, e análises lúcidas de personagens de hoje. Começo citando como está no título, a afirmação do general Leônidas. Quando ele diz que o “Exército nunca foi INTRUSO”, quer dizer que sempre esteve no primeiro plano de tudo, raramente deixou de ser participante e dominante.

Acontece que escrevo isso há mais de 30 ou 40 anos, citando a participação do Exército na República. Sempre estabeleci a diferença entre duas palavras: PROMULGAÇÃO e IMPLANTAÇÃO da República. A primeira palavra define ou definiria o movimento histórico dos “ABOLICIONISTAS”, e os “PROPAGANDISTAS da República”.

A segunda, intromissão de dois marechais, que entraram na História através de um golpe, (o primeiro da República), e tomaram o Poder. Cambaleando e quase sem conseguir subir num cavalo.

Não vou relembrar a História do Brasil, apenas confirmar o general

Deodoro e Floriano, dois coronéis que vieram brigados da estranha guerra do Paraguai, na madrugada de 15 de novembro, já marechais, se reconciliaram e “expulsaram” os civis da conquista da República. República que com esses dois Marechais, se transformou numa quartelada. Eu sei, o general Leônidas não havia nascido.

E também não era torturador. Mas numa entrevista ao repórter Geneton Moraes Neto, tentou convencê-lo de que “comandou o DOI-CODI”. Ora, o general Leônidas nem sabia onde ficava a Rua Barão de Mesquita. Adido Militar na Colômbia, se perdia no Rio.

O Exército ou generais sempre arrogantes  

Logo depois da República, massacraram e assassinaram toda a população de Canudos. Em 1896 usaram três quartas partes do efetivo militar, usando até canhões. Assassinaram toda a população, não escapou nem o “santo” Antônio Conselheiro.

Como “Tenentes” tumultuaram o país desde 1922, tomaram o poder em 1930. Garantiram a tremenda ditadura do Estado Novo. Ainda tiveram “fôlego” para derrubar João Goulart, que como eu já disse há anos, não tinha nada a ver com os comunistas. Queria o “poder total” e mais nada.

Tenho todo o direito de situar Jango na sua exata posição, pois em 1963, fui o único preso por ordem direta dele. Pediram 15 anos de prisão para mim, estavam certos de que me condenariam. Pois foi na minha casa que nasceu a “Frente Ampla”. Na minha casa e da minha cabeça.

Depoimentos históricos

Anteontem, na mesma página, matérias de agora, altamente elucidativas, competentes inesquecíveis. Numa entrevista ao repórter Bernardo Mello Franco, Daniel Aarão Reis, lúcido e participante, com a visão do torturado agora Historiador, interpreta o golpe dos dois lados. E em com total isenção ou não poderia ser chamado de Historiador.

Aarão Reis, que começou na guerrilha com 23 anos, freqüentou os subterrâneos da ditadura. Foi torturadíssimo até ser trocado pelo embaixador alemão, seqüestrado precisamente para haver a negociação. E a ditadura dos generais torturadores, mostrou mais uma vez a covardia inata e assumida.

Cumpriram as ordens dos EUA

Assim que o embaixador americano foi seqüestrado, (decisão, planejamento e execução perfeita), começaram as conversas. Primeiro exigiram a leitura, nas televisões, do manifesto dos seqüestradores. Veio a ordem: “Publiquem imediatamente”. Publicaram, lógico.

A seguir a exigência da troca do embaixador por alguns presos. Os combatentes ainda não tinham consciência da própria força, “trocaram” por poucos. Mais tarde, com o seqüestro do insignificante embaixador alemão. 39 presos foram soltos ou embarcados para o exterior.

O final da entrevista de Aarão Reis, dois pontos magistrais. 1 – “Faltou povo na guerrilha”. É verdade. Mas como 60 guerrilheiros poderiam passar por cima de 60 mil militares? Que recebiam ordens de alguns generais ambiciosos?

2 – Deixa à mostra a “contradição” de alguns generais e não do Exército: “Até hoje esses generais se omitem, condenam e falsificam a história”.

E de forma irresponsável: “Fui preso, torturado, anistiado pelo Ministério da Justiça. E quem me torturou diz que não houve tortura no Brasil”. E ele mesmo termina: “É uma coisa esquizofrênica”.

Demétrio Magnoli não tinha idade para combater, tem para analisar

Sociólogo, Geógrafo, com vocação de historiador, conta e interpreta fatos importantes. Contesta os “memorialistas das conveniências”, e corajosamente penetra num círculo que tantos querem esquecer. Círculo da contradição, digo eu.

“O golpe de 64 não nos salvou da ameaça comunista que não existia”. E depois: “Isso foi urdido por um fascismo puramente imaginário”. O artigo de Demétrio vai assim até o final, é um dos dois pontos mais completos e para ser aplaudido.

O segundo é a coragem e o discernimento de entrar na interpretação de um dos fatos mais importantes do golpe. Os dois editoriais do Correio da Manhã, intitulados “Basta” e “Fora”. Até hoje se discute, se nega e se confirma a autoria dos manifestos.

Demétrio dá o nome de sete autores, desculpe, foram oito. Hoje todos negando a autoria, com exceção de quatro que já morreram. Esses dois artigos explicitam e elucidam um período torpe, covarde e farsante da História do Brasil.

O primeiro golpe militar foi o da República. Dois marechais que eram inimigos, se reconciliaram, derrotaram a brilhante geração dos “abolicionistas” e dos “propagandistas da República”. Os charmosos “Tenentes de 1922”, combateram até 1930, quando se beneficiaram de tudo.

O Estado Novo, garantido pelos generais

Em 1937, Vargas “implantou” ditadura, que chamou de “Estado Novo”. Garantido pelo general Dutra, que nos oito anos, foi chamado de “condestável do Estado Novo”. Derrubada a ditadura, lógico foi presidente, garantindo a volta de Vargas.

O golpe de 64, teve remanescentes

Alguns mais longevos, que palavra, garantiram o Estado Novo, voltaram em 64. Que capacidade. Concluiu, dizendo: “Vamos olhar para o futuro, esquecendo o passado”. Que farsa, Ministro. Era melhor ficar em silêncio. A Comissão da Verdade deveria ter sido criada 33 anos antes e não agora.

Mas sem interpretar e examinar o passado, não podemos acreditar no futuro. O passado, qualquer que seja ele, tem que ser lembrado, mesmo para ser contestado. Quando assinaram em 1979 a extravagante “anistia ampla, geral e irrestrita”, estavam tentando sepultar esse passado.

Os próprios militares que deram o golpe de hoje, estavam apavorados e achavam que com esse “ato” que só beneficiou os vencedores, não valia nada, sendo assinado apenas pelos representantes de um lado. E que estavam absolvendo a eles mesmos.

PS – Fatos desse 31 que completa 50 anos e não mais interpretação. A indecisão e a certeza eram totais. Carlos Lacerda, “ilhado” no Guanabara, com centenas de pessoas, recebeu a informação ou informe.

PS2 – O Almirante Aragão “iria invadir o palácio”. Não sabia o que fazer. Tentou falar com Castelo Branco, dos chefes golpistas, o único que estava no Rio, mas não tinha a menor idéia de onde.

PS3 – Deu uma sorte. Um amigo médico, soube do seu problema, telefonou para o governador: “O general está na minha casa em Copacabana, emprestei para ele. Está com o general Ademar de Queiroz, teu amigo. O telefone da minha casa é 42-6178”. (Na época só seis números).

PS4 – Lacerda ligou, o general Ademar ficou perplexo do governador ter localizado Castelo. Mas não podia deixar de passar o telefone para o chefe do golpe.

PS5 – Lacerda contou o que temia, a invasão do Almirante, recebeu a seguinte resposta: “Governador, não posso fazer nada pelo senhor. A tropa que veio de Minas e a do Rio estão a um ponto do confronto, quero evitar isso” e desligou.

PS6 – Lacerda telefonou imediatamente para o presidente da Comlurb: “Mande os maiores caminhões da empresa, bloqueiem todas as ruas que chegam ao Guanabara. Não pode passar nenhum veículo, civil ou militar”.

PS7 – Apesar de ser o civil de maior penetração nos círculos militares, Lacerda não sabia de coisa alguma. O movimento golpista foi organizado, comandado e empossado por militares, perdão, generais.

PS8 – Abertamente não houve mais nada nesse 31 de março. A ocupação final do poder ficou para o dia seguinte, 1º de abril. Mas como é o chamado “Dia da mentira”, comemorado popularmente, proibiram de forma terminante, qualquer que seja a citação nesse dia.


PS9 – Para os generais, o golpe, desculpem, farsantes até o fim, falavam em Revolução. E comemoravam, como agora, no dia 31.