Titular: Helio Fernandes

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

BRETTON WOODS: A CONSPIRAÇÃO DE 1944, A COMEMORAÇÃO E A CONSOLIDAÇÃO DE 2014

HELIO FERNANDES           

*Publicações históricas no Centenário do jornalista

Bretton Woods 70, Bretton Woods 44 

Inacreditável que supostas, presumidas ou assumidas sumidades do setor econômico, confundam as duas datas. E muitos desses personagens não apenas influenciam o setor econômico, mas são também economistas. Nenhum país, a não ser os Estados Unidos pode fazer festa para comemorar esses 70 anos.

Eu não estive em Bretton Woods em 1944, embora já fosse Secretário-Adjunto da revista “O Cruzeiro”. E a revista ainda caminhava discreta e lentamente para ser a mais importante e de maior tiragem de todos os tempos. Só em 1947 a revista chegou a espantosos 750 mil exemplares semanais, tiragem não alcançada nem mesmo por jornais e revistas de hoje.

Nessa época, o Brasil tinha a metade da população, e ainda não existiam as assinaturas. Quem quisesse ler a revista tinha que comprar nas bancas. Esses 750 mil exemplares de 1947, (há 67 anos), hoje corresponderiam a mais de 2 milhões e 500 mil exemplares semanais. Isso se a revista mantivesse a qualidade profissional, editorial e jornalística de 1947.

Em julho de 1944, (mês e ano do encontro de Bretton Woods), o Millôr com 22 anos, revolucionou a revista e o próprio jornalismo lançando, o que chamou de “Pif-Paf”. Eram duas páginas centrais, com texto e desenho inacreditáveis, maravilhosos, usem as palavras que quiserem, pois todos se entusiasmaram, o “Cruzeiro” foi atingido números elevadíssimos, cada vez maiores.

Logo vieram outros jornalistas praticamente desconhecidos, que se destacaram, obtiveram enorme sucesso. Só que o sucesso jornalístico é quase a véspera do fracasso, o contrário também é rigorosamente verdadeiro.

Isso durou 20 anos, o próprio Millôr foi demitido sumariamente. Escreveu matéria normal sobre religião, o Cardeal se revoltou, pediu a Assis Chateaubriand, dono da revista, para demiti-lo. Foi atendido imediatamente.

Da mesma forma como subiu, a revista desceu, foi caindo, caindo, até chegar ao chão em matéria de tiragem, e logo desapareceu. Quase todos foram para outros lugares. Este repórter já estava no “Diário de Notícias”, comecei a fazer coluna e artigo diários, coisa que jamais alguém tentou em qualquer parte do mundo.

Isso durou 50 anos, o Millôr me identificava assim: “Não posso passar sem ler diariamente tuas colunas e artigos, mas só um jornalista maluco, faz sem interrupção, um trabalho como esse”.

E na revista, a “liberdade de imprensa”, era a “liberdade do proprietário” e não da coletividade. Mas li e estudei o assunto a fundo. 

Bretton Woods verdadeiro 

Em julho de 1944, com o fim da guerra se aproximando, (acabaria menos de 1 ano depois em 8 de maio de 1945) os EUA perceberam que era importante vencer a guerra, só que mais importante ainda era dominar a economia do mundo.

Esse Bretton Woods foi convocado por 44 países. Liderado pelo economista britânico, John Maynard Keynes, que fazia desfazia, já tinha até nome da nova moeda, que teria curso universal. Seu nome: BANCOR, com garantia do metal OURO. Mas os EUA estavam longe dessa ideia, convencidos e certíssimos, que acabada a guerra, viria o choque inevitável com a União Soviética.

A ideia e obsessão americana, era criar um sistema econômico e financeiro, com o DÓLAR como moeda única de troca para o mundo inteiro. Pela primeira vez a moeda de um país seria utilizada, OBRIGATORIAMENTE para toda e qualquer operação, fosse onde fosse. Keynes ficou surpreendidíssimo, não acreditou nem aceitou.

Os representantes dos EUA, na conferência-encontro, apelaram para Roosevelt, disseram textualmente: “Presidente, se deixarmos criar essa nova moeda, perderemos tudo o que ganhamos com a guerra”.

Roosevelt perguntou apenas: “Marcar encontro co Churchill e pedir a ele para demover Maynard e convencê-lo que a paz e a garantia do mundo, dependem do DÓLAR como moeda universal”. Não disseram a ele, mas o Chefe de Gabinete e o próprio General Marshall: “Pode garantir que aceitaremos o “LASTRO” do ouro, não vamos cumprir mesmo”. 

 

2 comentários:

  1. Parabéns, doutor Hélio, pelos 100 anos de vida! História de vida que se confunde com a do Brasil! O lendário jornal Tribuna da Imprensa faz muita falta, ainda mais nesses espantosos (que palavra!) dias em que vivemos. Grande abraço!

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  2. Que maravilha a atualidade dos artigos que li na tribuna impressa da qual guardo com misto de carinho e tristeza o último exemplar

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