Titular: Helio Fernandes

quinta-feira, 27 de agosto de 2020

O MINISTRO DA JUSTIÇA, ANDRE MENDONÇA, ESTÁ SEMPRE NAS MANCHETES NEGATIVAS.

HELIO FERNANDES

VASTAMENTE CRITICADO, FEZ UM RELATÓRIO, DURÍSSIMO, ATACANDO FUNCIONÁRIOS ANTIFASCISTAS. 

ARBITRÁRIO, IMORAL, ABUSO DE AUTORIDADE, ACABOU NO SUPREMO, FOI MASSACRADO. NÃO DEMOROU, PROCESSOU O JORNALISTA   DA FOLHA, HELIO  SCHWARTSMAN.

GUEDES REPREENDIDO PELO SENADO

REPRESÁLIA. O MINISTRO FEZ CRÍTICAS DESPROPOSITADAS

O SENADO ESTAVA COBERTO DE RAZÃO. DIZEM ATÉ, ABERTAMENTE, QUE ESTÁ SENDO "FRITADO"

A CONVENÇÃO REPUBLICANA, CONTINUA O FRACASSO ANUNCIADO.

DESTA VEZ, TRUMP NÃO CONTOU COM OS 100 MILHÕES DE DÓLARES DA AJUDA DO FARSANTE E CORRUPTO PUTIN.

FOI COM ESSE REFORÇO COLOSSAL QUE DERROTOU HILARY CLINTON.

EM 1963, NAS VÉSPERAS DO GOLPE, GENERAIS, GOVERNADORES, O PRÓPRIO PRESIDENTE JÕAO GOULART, CONSPIRAVAM,

SÓ ESTE REPÓRTER FOI PRESO

HELIO FERNANDES

Reprise:

Em agosto de 1963,o presidente João Goulart determinou ao ministro da

Guerra, Jair Dantas Ribeiro, que enviasse a generais da sua confiança,

uma "carta sigilosa e confidencial", que estava lhe mandando.

Ainda não existiam generais de Exercito ( 4 estrelas ), só 24 generais

de Brigada e 12 de Divisão. Eu não tinha nada a ver, nem conhecia o

conteúdo do documento "sigiloso e confidencial".

 

Conhecia um dos generais que recebeu a carta, não era amigo nem

informante.O general Cordeiro de Farias, ex-interventor no

RGS, governador de Pernambuco, eleito pelo voto direto. Mostrou a

carta, com envelope e tudo, li, pela minha alegria e agradecimento,

viu que seria publicada, foi embora .Eram mais ou menos 8 da noite.

 

Naquela época, os vespertinos, (caso da Tribuna da Imprensa) rodavam

ás 11 da manhã, ao meio dia estavam nas bancas.

 

Foi um estrondo, começou a circular que eu seria preso. Às 3 da tarde

fui para o Santos Dumont, tinha uma entrevista programada na

TV-Itacolomy.  Em Belo Horizonte, um grupo enorme de jornalistas me

esperava, todos com a noticia de que eu seria preso. Enquanto

conversávamos, chegavam dois assessores do governador

Magalhães Pinto "eu seria preso ainda em Belo Horizonte".

 

Os jornalistas me acompanharam na  caminhada até a porta da

Itacolomy, o diretor me esperava, "o programa foi cancelado, não por

nós, você será preso". Não demorou, sem estardalhaço, parou um fusca

vermelho. O motorista,mais o capitão Aurelio, nos conheciamos muito.

Nos abraçamos, ele comunicou: "Vamos jantar e dormir na ID-4".

 

Pela manhã um avião me trouxe para o Rio, fui para o quartel da

Policia do Exercito, enorme, mais tarde ali seria localizado o

terrível e tenebroso CODI-DOI comandado pelo general Orlando Geisel,

irmão do Ernesto. Orlando queria ser "presidente", o premiado foi o

Ernesto, de 1974 a 1982.

 

Enquanto decidiam meu futuro, fiquei uns dias na Policia do Exército

Na hora do banho de sol, pude constatar a tremenda divisão do

Exercito. Oficiais cruzavam comigo, diziam, "resista, Helio estamos com

você". Outros me olhavam, queriam me fuzilar com os olhos. O ministro

da Guerra mandou me transferir para Brasília, preso á ordem do seu

gabinete.

 

O Millor escreveu artigo de grande repercussão. Textual: "Não quero

defender o Helio por ser meu irmão.Mas um jornalista que recebe um

documento como esse e não publica, é melhor que abra um armazém de

secos e molhados".

 

Carlos Lacerda cuidava dos advogados. Juntou tradicionais defensores de

presos políticos, Sobral Pinto, Prado Kelly, Prudente de Moraes Neto,

com Evaristinho de Moraes e George Tavares,meus advogados. Eu

incomunicavel não sabia de nada. Sobral Pinto telefonou para o bravo

presidente do  STF, Ribeiro da Costa, protestou: "Eu falo com o

senhor, presidente do tribunal, ha 3 dias não consigo falar com meu

cliente". Ribeiro da Costa providenciou, no mesmo dia conversei com os

advogados. Sobral me disse que fora procurado pelo general Cordeiro de

Farias, confessando que fora ele que me dera o documento. Como não

concordei, (não posso entregar uma fonte) Cordeiro de Farias deu

entrevista coletiva a dezenas de jornalistas, confirmando que quem me

deu a carta sigilosa foi ele.

 

O presidente oficiou ao ministro da Guerra, para saber onde eu

estava. Arrogante, o ministro respondeu por oficio: "Está preso á minha

ordem, só meu gabinete pode localizá-lo". Como o ministro tinha foro

privilegiado, o julgamento aconteceu no STF. Ribeiro da Costa achou os

fatos muito estranhos, usou o que está no Regimento Interno, designou

a si mesmo como relator.

 

O julgamento aconteceu no dia 31 de Julho, não queriam que passasse

para agosto, mês considerado politicamente aziago. Pediram 15 anos de

prisão para o repórter. Estavam presentes 8 ministros, 3 estavam de

ferias ou hospitalizado. Fui prejudicado, 2 deles votariam pela minha

absolvição. Luiz Galloti, grande amigo, telefonou para Rosinha: "Estou

de ferias, não existe possibilidade do Helio ser condenado".

Com o STF lotado, o PGR Bevilaqua, fez um libelo terrível, parecia que

eu era um assassino e não um jornalista. (Meses depois me mandou uma

carta carinhosa, pedindo mil desculpas).

 

Os ministro foram votando, estive sempre em desvantagem, 3 a 1, 4 a 3,

faltava o ultimo, Candido Motta filho. Não o conhecia, me absolveu,

levou o resultado para 4 a 4, e o voto de Minerva, ai sim, verdadeiro.

Ele já votara como ministro, agora desempataria, pela absolvição ou

condenação. Os que votaram pela condenação, pediram o adiamento do

julgamento. Ribeiro da Costa perguntou: "Os senhores querem votação?".

Quiseram, novo 4 a 4.

 

Ribeiro da Costa decidiu, "o julgamento terminará hoje, vamos a um

lanche, voltaremos, condenarei ou absolverei o jornalista, é a minha

obrigação constitucional". Antes de votar, me chamou, quero o senhor

ao meu lado" Seu voto foi uma declaração de Liberdade. Palavra do

presidente: "O senhor nem devia  estar aqui, sendo julgado. Às 20,30 do

dia 31 de julho de 1963, determino que o senhor está livre para se

locomover para qualquer parte do Brasil. E me abraçou, aplaudido pelo

Supremo lotado.

 

Ainda deu tempo para eu, Rosinha e Millor voltarmos para o Rio.

 

PS- Depois de 56 anos, é a primeira vez que relato estes fatos,

rigorosamente históricos. Com nomes e sobrenomes dos personagens.

 

PS2- È uma lembrança e uma condenação do capitão Bolsonaro, que

disse, " existe diferença entre COMEMORAR e REMEMORAR"

 

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