Titular: Helio Fernandes

quinta-feira, 5 de março de 2015

Os 15 dias que ditarão o alcance da crise

FERNANDO CAMARA
05.03.15

O fato mais esperado da semana é o listão de Rodrigo Janot sobre as autoridades envolvidas na Lava Jato. Paralelamente, os caminhoneiros se aproximam de Brasília para uma nova investida em busca do que consideram seus direitos. A CPI da Petrobras começa a trabalhar. Lula em campo. Dilma Rousseff edita mais uma Medida Provisória, a 699, que irá se somar às outras editadas dentro do pacote de ajuste fiscal.  E tudo isso em meio à preparação de manifestações para 15 de março, que será a cereja no bolo da crise.

A cabeça do cidadão, de Dilma, de Levy e a MP 699

O que mais mexe com a população são as medidas econômicas. É esse o maior problema do governo hoje, que não tem como correr de um forte ajuste fiscal, uma vez que os recursos não comportam os projetos governamentais. Nessa semana, a implementação da Política Fiscal se materializa em mais uma Medida Provisória, a 699, e faz voltar atrás grande parte das desonerações de impostos da indústria, comércio e serviços e aí começam os desentendimentos entre a presidente e seu principal ministro.

A política de desonerações de 2014, foi exaustivamente discutida e rediscutida, em separado, com os setores através de centenas de reuniões com os seus representantes legais. E a tudo isso, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, chamou de “brincadeira”. A presidente não gostou.
Afinal, a política fiscal que vigorava até então consumiu centenas de horas do Congresso Nacional. De repente, tudo foi substituído sem discussão alguma, e fez com que o discurso de Campanha da candidata vencedora soe num vazio, deixando o compromisso eleitoral distante da prática de Governo.

A presidente reagiu e o ministro entendeu o recado. Terá apoio para seguir em frente com o que deve ser feito, mas não para criticar o passado. Dilma deu sinais de que passa a aceitar a política proposta por Joaquim Levy, como se fosse a única alternativa para enfrentar os seus problemas. Levy fez chegar aos jornais no fim de semana, por intermédio de assessores e de viva-voz, que teria sido “coloquial demais” ao tratar da política anterior.

Resolvido o problema entre Dilma e Levy (pelo menos por enquanto), resta à presidente da República se dedicar novamente aos problemas políticos. Parlamentares do PT questionam os projetos e se preparam para mudar o pacote “Levyano”. Batem na tecla de que o certo era a proposta do ministro Mantega, de desonerar para que os empresários tivessem mais recursos para investir.

O ministro Levy, entretanto, está pensando no bolso governamental. A função do Estado é arrecadar? Para gastar em que? E é aí que muitos partidos partem para mudanças no pacote. Afinal, não foram anunciadas medidas que afetem a política fiscal no que se refere aos bancos e nem tampouco cortes expressivos na máquina pública. E o contribuinte que esta semana começa a fazer o Imposto de Renda que se estresse.

Por falar em partidos…PMDB distante
A vida de Dilma e do PMDB não está nada boa e em função disso, ela receberá a cúpula peemedebista para um jantar hoje. Renan reclamou em público da falta de interlocução entre o Governo e o PMDB. Reclama participar da construção de políticas públicas.

Romero Jucá, por sua vez, convidado para voltar à Liderança do Governo, declinou. A continuar nesse ritmo, não serão os cargos que conseguirão promover a aproximação do Governo. Agora, eles querem mais, inclusive indicar ministros do Supremo Tribunal Federal, diante da celeridade prometida à PEC da Bengala.

Lula em campo

Com tanto reboliço no cenário político: Lava Jato, crise com o PMDB coroadas com uma crise econômica, Lula reapareceu. Viajou à Brasília, solicitou reuniões, pediu a presença de Sarney , hoje sem mandato. Em reunião com senadores do PMDB, ouviu e concordou com as críticas à Dilma.

Fez o mesmo no grupo petista. E ainda deixou a cidade irritando os militares, ao mencionar que quem quisesse tirar Dilma do poder, teria que enfrentar o exército de Stédile. Soou como ameaça à democracia. Isso jamais poderia ter sido dito por um ex-presidente da República, especialmente, um que deseja ser o candidato em 2018.

Caminhoneiros

Como se não bastassem a agitação provocada por Lula, chegam a Brasília os caminhoneiros em greve. Alertamos aqui para a seriedade das consequências deste movimento. Erram aqueles que tratam como um movimento político partidarizado. Três são os principais motivos: Falta de dinheiro, pouco dinheiro, necessidade de sobreviver.

 Os caminhoneiros reclamam do alto preço dos combustíveis, do pedágio, do valor do frete. Lembram que fazer valer a lei e acabar com o monopólio da Petrobras, fiscalizar e moralizar os contratos de concessão de rodovias, e melhorar a infraestrutura do país deveriam ser prioridade do Governo. Nunca é demais recordar que o golpe que derrubou o presidente Salvador Allende, no Chile, teve início com o desabastecimento provocado por greves de caminhoneiros. Dilma deve saber história.

Petrobras

A petroleira vem se esquivando de iniciar conversa para costurar um acordo possível com a poderosa SEC. Segue anunciando em todos os canais da TV brasileira, é a grande patrocinadora, mas, com a queda de seu investimento, e citada por uma das três principais agências de cálculo de risco do mundo, está cada vez mais distante do “crédito bom” no mercado internacional.

Por falar em Petrobras…

O MPF apresentará, ao STF, a lista dos parlamentares que consideram ter algum envolvimento com os malfeitos apurados pela Operação Lava a Jato. A apresentação será dividida por capítulos e citações. O número fechado não é conhecido, mas certamente superará as duas dezenas. Ao longo das últimas 72 horas, a imprensa mencionou 28, 32, 38 e 40. Bem menor que os 80 previstos inicialmente. O ministro Teori irá analisar, nome a nome, caso a caso, e indicar quem serão os indiciados. E se espera que o ministro retire o sigilo dos processos e permita a sociedade a ter conhecimento.

Na Câmara


Esta semana saberemos quais Comissões os líderes dos partidos irão escolher e quem serão os seus futuros presidentes. É o Congresso começando a trabalhar com casa cheia e sessões. Na última quinta-feira, o movimento intenso na parte da tarde deixou servidores, jornalistas e até parlamentares antigos surpresos. Se cada um fizer a sua parte, a crise tem jeito e o 15 de março pode ser mais um dia festivo. Vejamos o que esses 15 dias nos esperam.

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