DERRUBADA A DITADURA DO “ESTADO NOVO”, QUASE 18 ANOS DE ESTRANHA DEMOCRACIA. É UMA EXCELENTE CONSTITUIÇÃO QUE SERIA ASSASSINADA EM 1964, ANTES DE ATINGIR A MAIORIDADE.
HELIO FERNANDES
*Publicações históricas no Centenário do jornalista
PARTE – I
A democracia
no Brasil sempre foi ficção ou esperança, jamais confirmada. Basta dizer que
apenas com um impeachment, existem quase tantos vices que assumiram, do que os
eleitos que terminaram o mandato, O vazio entre um golpe e outro, era
preenchido por um novo golpe. Comumente chamado de “quartelada”, a palavra não
precisa de explicação.
O fim da
“República Velha”, não significava que surgiria obrigatoriamente uma ”República
Nova”. A de 1899 foi substituída pela de 30, este foi passando de data, até que
chegou a 1964.
Duração dos
golpes dependia sempre do entendimento entre civis e militares. Quando se
dividiam, não havia modificações na arbitrariedade e sim nos ocupantes do
Poder, fossem civis ou militares.
Até 1935 os
golpes se sucediam, não ostensivamente, sem divisões. Civis e militares
“assimilavam” essa estranha democracia sem eleições e até mesmo sem liberdade,
credibilidade, autenticidade.
Até 1937
quando houve a grande cisão, dividindo abertamente militares contra militares,
civis contra civis, uns atirando nos outros, se atingiam mutuamente, sem o
menor ressentimento ou constrangimento.
Com a
revolução comunista de 1935, a prisão de Prestes em 1936, o “Estado Novo” de
Vargas em 1937, e a derrubada da ditadura em 1945, aconteceu muita coisa.
O movimento
integralista de 1938, chefiado por Plínio Salgado, não teve a menor
repercussão. Mas uma visita de bastidores, em 1940, praticamente desconhecida
Até de historiadores, que escrevem sobre a “história, lendo os jornais da
época”.
Stalin pede a Vargas a liberdade de
Prestes.
Em maio de
1940, sem a menor convicção, mas sofrendo a pressão da opinião pública, e
politicamente do estadista Osvaldo Aranha, Vargas “declarou guerra á Alemanha
nazista”. Foi uma surpresa, mas que gerou consequências. E embora não noticiado
na soturna e medíocre imprensa da época, importantíssimo acontecimento.
Quase no
final desse 1940, Stalin mandou um alto dignitário do Politburo conversar com
Vargas. Uma só frase – reivindicação: “Como agira o Brasil e a União Soviética
são aliados, não tem sentido manter preso o camarada Prestes”. Esperto,
malandro, com espantosa habilidade, Vargas “sentiu” o que lhe caía nas mãos.
Respondeu
vagamente, tenho “que fazer consultas”, depois responderei. Prestes estava
preso desde 1936, Sobral Pinto escreveu: “Prestes não foi torturado
fisicamente, mas não tinha direito algum”.
O grande
torturado, que enlouqueceu para o resto da vida, foi Harry Berger. Mas Vargas
só se interessava pelo fato político.
Mandou
construir para Prestes na Penitenciária da Frei Caneca (no centro da cidade),
uma casa de madeira para abrigar o líder comunista. Dois quartos e uma sala,
banheiro, cozinha, e o mais importante: podia receber visitas diárias, livros,
correspondências, ficou satisfeitíssimo.
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