Titular: Helio Fernandes

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020



QUEM CRIOU E POPULARIZOU A FRASE
"LEMBRAI-VOS DE 37", FOI O DEPUTADO CAFÉ FILHO

HELIO FERNANDES

Jovem comunista militante participou em 1935, no  Rio Grande do Norte, da "Revolução Vermelha", comandada por Luiz Carlos Prestes. (Destinada ao fracasso, no Brasil os comunistas não chegaram e jamais chegarão ao Poder, pelo VOTO ou pela FORÇA). Em 35, foram dizimados pela força, em 45 elegeram 12 deputados e 1 senador, o próprio Prestes. Fecharam o PCB, (Partido Comunista Brasileiro) expulsaram Prestes, muito mais tarde fundaram o PC do B (Partido Comunista do Brasil).

Continuam com 12 deputados. Em vez de senador, elegeram e reelegeram um governador, que antes foi juiz federal. E não está  eleitoralmente realizado e satisfeito, com a falta de espaço  do PC do B.

(A DIREITA, assumida, mas desorientada, desgovernada, desmemoriada, está no poder, mas exerce a contradição e não a ação. Depois de mais de 30 anos, ENCHEU o Palácio de  generais. Não se  sabe se é SAUDADE do  PASSADO da caserna. Ou ESPERANÇA para um FUTURO que persegue  até 2022).

Voltando a Café Filho, que fez carreira eleitoral  e política fantástica.  Deputado federal em 1945 na constituinte  que COBRI toda, para a revista O Cruzeiro. Quase diariamente o mesmo alerta, para que  não esquecessem a  ditadura. Obteve grande projeção. Mas ninguém esperava  ou imaginava, que para a eleição presidencial de 1950, surgisse a chapa, Vargas-Café Filho.

Vice, conspirou o tempo  todo. O resto é  publico e notório, fora episódios de bastidores. Em 1954, Vargas decidiu "sair da vida para entrar na Historia", (que chamei na época, ha 65 anos, quando dirigia a revista Manchete, de "suicídio politicamente genial") através de uma carta que emocionou o país. E que nem foi escrita por ele. E sim pelo seu amigo, jornalista J.E. Maciel Filho, diretor do Imparcial, jornal importante. E independente.

Muitos devem saber ou lembrar, que ele deixou a reunião ministerial que durou a noite toda, "subiu para o quarto, logo se ouviu um tiro, correram, estava morto". E a carta em cima da cama, e não manuscrita.

Começou então o ultimo episodio da sua carreira política,  a presidência da Republica. Inimaginável. Mas real, (apesar de tumultuada e perigosa )  de 24 de agosto de 54, (posse) até 23 de novembro de 1955, quando o STF,  (no Rio)  impediu por UNANIMIDADE, que Café Filho retomasse o poder.

 Ainda presidente, se recolheu ao Hospital, (maravilhoso) dos Servidores do Estado. Alegava problemas do coração, não recebeu autorização para deixar o hospital. Um dos seus advogados entrou com HC no STF. No mesmo dia foi  sorteado relator, o ministro Nelson Hungria. (Eu estava na primeira fila, sentado entre duas figuras admiráveis. O senador Milton Campos e o líder Daniel Kriegger).

PS- O ministro levantou alto, impávido,  voz de barito, sem nada escrito, transformou o VOTO num LIBELO. Sem medo das palavras, afirmou: "O STF não pode REFERENDAR  o senhor Café Filho, notório conspirador. E como não existem vice nem presidente da Câmara, a vez é do presidente do Senado, que deve assumir a presidência até a eleição do novo presidente".

“PS2- E concluiu:” Com Nereu Ramos na presidência, o país terá calma e tranqüilidade, o que não aconteceria se o STF autorizasse a volta  do senhor Café Filho".

PS3- Com aplausos, todos os ministros de pé, o voto de Nelson Hungria  foi consagrado, Nereu comunicado e empossado. Ponto a favor do presidente renegado. Ele não roubava, vivia com total dificuldade. 

PS4- Carlos Lacerda, empossado governador da Guanabara em 5 de dezembro de 1960, nomeou o ex-presidente para a primeira vaga no Tribunal de Contas do estado. Que naquela época era Ministro. Logo depois até hoje, Ministros só os  da União.  

O SAMBÓDROMO, VITORIA E CONQUISTA DO POVO

O governador Brizola me convidou para a inauguração. Fomos. Perto da  Sapucaí, multidão de seguranças, ninguém passava, nem o governador. Acontecera um acidente interno, tudo mobilizado não queriam adiar. Guiaram-nos para uma espécie de parque, cheio de  arvores, não muito longe. Sol tremendo, ficamos quase 3 horas conversando protegidos por uma mangueira enorme.

O importante é a confissão constatação do governador. Textual mas triste: "Fiquei 15 anos no exílio, voltei para o Brasil, certo de que  seria Presidente da Republica. Não consigo inaugurar um Sambódromo". Não senti frustração, aborrecimento, raiva ou ressentimento. Mas as coisas mudaram muito. 

Em 1984, a memorável campanha das "Diretas já", foi derrotada por duas ou três dezenas de traidores da democracia, insuflados por órgãos de comunicação, vários. Marcaram então "eleição" para 1985, longe do povo. Seu mandato estava quase no fim, queriam que renunciasse para ser candidato.

Taxativo, negou e respondeu com convicção: "Não disputo eleição INDIRETA, nem para ser presidente". Então ficou tudo pra 1989, a primeira DIRETA depois da tenebrosa ditadura  de "64".

PS- 12 candidatos. Entre esses, Brizola, Ulisses Guimarães, Lula, (que disputava a primeira eleição presidencial), Mario Covas. (que no ano seguinte seria governador de São Paulo). E Fernando Collor, o candidato- contradição. Desconhecido e favorito.

PS2- Brizola me contou: "Eu sabia que com tantos candidatos, haveria segundo turno. Eu e talvez esse Collor, mas eu ganharia de qualquer um". Não foi para o segundo turno por causa de meio ponto. Chamou Lula de "sapo barbudo", teve que apoiá-lo, perderam.

PS3- Termino aqui, não é a biografia do Brizola e sim lembrança de uma conversa.
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Um comentário:

  1. Bom dia, Hélio Fernandes. Tenho 61 anos e sou seu admirador há 45 anos. Gostaria que me respondesse, por favor: Sobre o caso do Café Filho, o que o STF fez não foi errado? Afinal, ele era o vice-presidente da República.

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