Titular: Helio Fernandes

terça-feira, 19 de julho de 2016

A decadência da política, arruinou a economia, comprometeu a democracia. Trump presidente?

HELIO FERNANDES

Quem afirma ou acredita, que vivemos a maior crise de todos os tempos, está se enganando ou gosta de ser enganado. Em 127 anos de Republica, desmoralizamos as três palavras, política, economia e democracia, simultânea e insensatamente.

Todos sabem que a Republica foi implantada e não promulgada, em 15 de novembro de 1889. Mas poucos sabem ou esqueceram, que fomos realizar a primeira eleição direta, 56 anos desperdiçados, em 1945. Isso depois de duas ditaduras. A do Partido Republicano, de 1889 a 1930. E a de 1930 a 1945, um golpe que se intitulou de revolução.

Rui Barbosa identificou erros e equívocos, denunciou no discurso de posse no Ministério da Fazenda. Fundiu política e economia numa síntese magistral: "A Revolução da Inglaterra de 1780, trouxe enorme progresso para o mundo, a industrialização é uma realidade indiscutível. Passados mais de 100 anos,o Brasil se sente confortável e orgulhoso,continua um país ESSENCIALMENTE AGRICOLA".

Economicamente o Brasil vivia do café. Plantávamos, colhíamos e exportávamos 96 por cento do café bebido pelo mundo. 92 por cento em SP, 2 por cento no Espírito Santo, outros 2 no Estado do Rio. O discurso de Rui assustou os "barões do café", que dominavam torpe e arrogantemente a política do país. Esse domínio de SP na economia e na política, durou até 1930.

Com a crise de Wall Street de 1929 nos EUA, mas que avassalou o mundo, acabou o reinado de SP. Produzíamos 60 milhões de saca por ano, o mercado mundial, consumia no maximo 5 milhões. Desapareceu o poderio de SP, surgiram os gaúchos, que tomaram o Rio de assalto, com os lenços vermelhos no pescoço, a petulância e arrogância: "Vamos amarrar os cavalos no Obelisco da Avenida Rio Branco". Mas a incompetência era a mesma dos paulistas.

Pela primeira vez usaram a expressão: "Vamos REINVENTAR a democracia". Começaram por derrubar Washington Luiz e asilá-lo nos EUA. Com ele foi o vice Mello Viana, e o chanceler Otavio Mangabeira. Surgiu então Getulio Vargas e a sua voraz ambição pelo poder. Que dominou por 15 anos, com varias denominações. Intitulou-se "chefe do governo provisório", até 1934, ele, só ele, exclusivamente ele. Por pressão do país e principalmente de SP, foi convocada a Constituinte, que iria realizar eleições diretas, a primeira da Historia, novo capitulo da REINVENÇÃO da democracia.

Getulio cooptou a constituinte, nunca fora eleito, mas foi reeleito por mais 4 anos, até outubro de 1938. Só que seu calendário era inteiramente diferente. Em 10 de novembro de 1937 implantou o chamado "Estado Novo", ditadura aberta e ostensiva. Prisões, cassações, sem vice, sem Câmara ou Senado. Governando ditatorialmente. Politicamente garantido pelo Exercito. Com o Marechal Dutra 8 anos Ministro da Guerra. E o General Goes Monteiro, Chefe do Estado Maior Geral.
A economia um caos completo. A ditadura durou até o fim de 1945. Mantido pelos militares, foi derrubado por eles.

Dos oficiais da FEB na Itália, veio o recado-exigencia: "Não tem sentido combatermos a ditadura no exterior e mantê-la dentro de casa. Queremos eleições diretas”. Houve a eleição,mas como farsa.Vargas foi substituído pelo seu Ministro da  Guerra.Politicamente correto, respeitando sempre a Constituição.Economicamente mais do que tragédia, catástrofe completa.

E mais uma vez foi adiada a REINVENÇÃO da democracia. Pois Vargas seu maior destruidor, eleito em 1950, voltou ao poder. Quase não tomava posse em 1951. Para conseguir teve que nomear Ministro da Guerra, o general Stilac Leal, exatamente o contrario do Dutra da ditadura. Stilac era a maior liderança do Exercito, respeitadíssimo, defensor irrepreensível do interesse nacional. Havia acabado de ser eleito Presidente do Clube Militar, naquela época privativo de General da ativa. (Hoje é privativo de general da reserva).

Não queria assumir, foi pressionadissimo. Pelos rumos da "volta" de Vargas, ficou pouco tempo. Veio o general Zenobio, duvida permanente, até que se revelou em 1954. Precipitando a maior e mais traumática tragédia pessoal da Historia. (Como escrevi em 1954 mesmo. Combatia Vargas, mas reconheci seu gesto final e politicamente genial).

Depois dele, só um presidente eleito diretamente terminou o mandato: Juscelino. Confessou depois publicamente: "No ultimo ano, fiz sondagens para a reeleição não havia clima, abandonei a ideia, lancei minha candidatura para 1965". Que não existiu na Historia do Brasil.

De 1960 a 1990, é tudo tão recente, nem preciso lembrar, 30 anos de novo assassinato político do país. A REINVENÇÃO da democracia começaria a partir de 1985, com Tancredo Neves se a eleição fosse indireta, ou Ulisses Guimarães, nas diretas. Nem uma coisa nem outra, razões incontroláveis.

Veio a vacância do cargo, a eleição direta de 1989, o impeachment, a incerteza total, a REINVENÇÃO da democracia ficou para o presidente eleito diretamente depois do impeachment. Infelizmente, o destino colocou Fernando Henrique Cardoso no Poder. Mais ambicioso do que todos, "comprou a reeleição". E Tudo o que aconteceu de 1998 até agora, 2016, e até o futuro, indescritível e indevassável. Responsabilidade e irresponsabilidade de FHC.

Se FHC seguisse a ordem constitucional sem reeleição, exigência e convicção de Rui Barbosa, nada teria acontecido. Ele mesmo não conseguido e completado o segundo mandato, o "retrocesso de 80 anos em 8". Passaria a presidência a Lula em 1998 e não em 2002. E Dilma assumiria em 2006 e não em 2010, continuando 
desgraçadamente em 2014.
O ponto principal e fundamental: os três seriam beneficiados, melhorariam seu desempenho político e econômico. Sem reeleição, FHC não teria atingido a meta ruinosa para o país, representada pela “Comissão de desestatização". 
Lula, que fez um governo ótimo de 2002 a 2006, não teria desperdiçado tudo. E não inventaria Dona Dilma. Até poderia entregar o governo a ela em 2006. Seria catastrófica como foi. Mas sairia logo, o substituto, fosse quem fosse, constataria o tamanho da tragédia política e econômica, tomaria providencias.

Agora, 18 anos depois de FHC ter comprado e pago á vista a reeleição, o país que já foi do futuro, não tem nem presente. Desde a amaldiçoada reeleição de 2014, antes mesmo da segunda posse, intranqüilidade total e absoluta. O governo não governa ha 17 meses, por incompetência inabalável. A oposição não se opõe pelos caminhos normais, prefere a conspiração e a traição. E o vice assume com o "apoio" dos grupos politicamente mais desacreditados eleitoralmente.

Em primeiro lugar o PSDB, que já tentou a presidência direta em 4 eleições seguidas, perdendo todas. Agora, se preparando para a quinta, ganhou cargos suculentos. O vice, como presidente provisório, é refém de um grupo que se chama de “centrão". Mas seria identificado melhor,se fosse "direitão". Pela cooptação, o provisório será efetivado no dia 25 de agosto. Impossível alimentar alguma esperança, desenvolvimento, crescimento econômico,  grandeza política.

A REINVENÇÃO da democracia, jogada para bem longe. A RECUPERAÇÃO econômica depende da boa vontade dos empresários que financiaram o impeachment. O Ministro da Agricultura, dono de inúmeras e majestosas fazendas, disse em entrevista: "Estamos prontos para financiar o agronegócio". Ha poucos meses, os porta-vozes desses setores, apregoavam: "O agronegócio alimenta o país inteiro".

Só mesmo um "constitucionalista", nomearia o dono de poderosas fazendas Ministro da Agricultura e com as dádivas prometidas e garantidas. Talvez pelo fato de se identificar como "constitucionalista". Michel Temer se lembrou do constitucionalista maior, Rui Barbosa. Que ha 127 anos revelou e condenou: "O Brasil é um país ESSENCIALMENTE AGRICOLA".

Deve ser o sonho e a expectativa satisfatória para Michel Temer. Por enquanto, provisório. A partir do dia 25, efetivado. No final de 2018, talvez disputando a reeleição apesar de nunca ter sido eleito. Ele diz que não será candidato, "de jeito algum". Quem acredita na sua palavra? Por que não manda emenda á Constituição, proibindo reeleição?

Trump assustador

Começou ontem a convenção do partido Republicano. O bilionário candidato, foi recebido de forma quase amigável. Pelo que diziam dele durante a campanha, foi uma consagração. Dois fatos contribuíram para o novo clima. O reconhecimento de que ele lutou para obter o numero de votos indispensável.

O outro item, mais importante: ele aparece nas pesquisas junto com a candidata Democrata.

Embora as pesquisas no mundo (constatem a que saiu agora sobre Temer), não tenham prestigio ou credibilidade, os Republicanos preferem acreditar. Repudiando Trump, os lideres do partido, apregoavam: "Não queremos ganhar previas, precisamos de um Republicano na Casa Branca". Para os EUA e para o mundo, Trump presidente é um escárnio, merece repulsa e revolta.

Caiu a mascara de Eduardo Paes

Logo depois de ser eleito presidente da Câmara, com estrondosa vantagem sobre o melhor candidato do PT, Eduardo Cunha deu inicio á campanha para o segundo item do projeto político. Aplainar o caminho para ser governador do Estado do Rio. Sabendo que não ganhava de Paes, sutilmente, em entrevista na TV, garantiu: "O PMDB já tem candidato a Presidente em 2018". Perguntaram quem seria, respondeu: "O prefeito Eduardo Paes, que está revolucionando o Rio de Janeiro".

O sucesso foi maior e mais rápido do que ele mesmo esperava. O prefeito telefonou no mesmo dia. Agradeceu. E com a maior modéstia (?), comentou: "Eu já estava pensando nisso, mas com o teu apoio fica ainda mais fácil e evidente". Não demorou, o próprio Paes movimentou círculos partidários, com uma entrevista, em que lançava a própria candidatura. E ficou como candidato.

  Com o suicídio político de Eduardo Cunha, Paes desapareceu. Mas ontem, o antigo Paes reapareceu com o projeto que ele mesmo havia revelado. Passa o cargo de prefeito em janeiro de 2017. Como a eleição para governador só acontece quase 2 anos depois, em outubro de 2018, aproveita o tempo. Vai viajar pelo menos por 1 ano. Para estudar e se atualizar. È o antigo plano, ressuscitado por ele mesmo, de viva voz.

Putin não vem ás Olimpíadas

O Comitê Internacional, depois de profundas e demoradas investigações, ficou inarredável: nenhum atleta ou dirigente russo pode participar dos jogos do Rio. Atendeu a pedidos de novos exames. A cada analise a situação se complicava. Para não haver prejuízo para ninguém, aceitou a solicitação de atletas russos, que sem dirigentes, participassem com "bandeira neutra". Aí, o veto foi de quase todas as Confederações do mundo.

Depois de mais de 60 dias de reuniões rigorosamente neutras e insuspeitas, surgiu o relatório final e a decisão definitiva. Nenhum atleta ou dirigente russo pode participar da Olimpíada. A qualquer titulo, até mesmo como assistente.Estão proibidos e ponto. Desta Olimpíada. E o Comitê Olímpico foi taxativo: "O governo da Rússia sabia de tudo e acompanhou". E na Rússia, quando fala governo, quer dizer Putin. Ele dirige o país como comandava a KGB.
                       
É lógico que o Comitê Olímpico não tem poder para proibir a vinda do presidente Putin. Mas ele mesmo percebeu que haveria um tremendo constrangimento, interno e externo. Pois a punição a atletas e dirigentes da Rússia, só foi tão drástica, pelo fato de ser doping coletivo, planejado e executado.

PS- Como tenho dito varias vezes, os terroristas são sempre vitoriosos. O objetivo deles não é apenas assassinar milhares, é atemorizar ou intimidar milhões. A Eurocopa foi disputada sob a ameaça de massacre. Não aconteceu nada. Uma semana depois, houve o atentado de Nice.

PS2- O Rio e o Brasil vivem em clima de terror e de temor. Até as medidas de proteção, indispensáveis, provocam mais intranqüilidade. As simulações, agora diárias, pânico, medo, inquietação. E ainda faltam três semanas. A população torce e reza para que esse tempo passe logo.

PS3- Ultrapassada a espera, começam os 17 dias dos jogos, de 5 a 22 desse agosto que não acaba mais. Na TV, prevenção e demonstração para que a segurança resista a tudo. Agora, em foco os aeroportos. Filas enormes, os passageiros tendo que chegar com duas horas de antecedência.

PS4- Haja o que houver, os terroristas vieram para ficar. O terror é a matéria prima deles. O objetivo é levar o mundo ao desespero. Já conseguiram, numa praia da França, em vários países, incluindo o Brasil, distante de tudo.


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